Esta obra faz parte de uma sucessão de obras do autor sobre o que denomina a “Bíblia das Origens”, compreendendo os capítulos da Criação até o Dilúvio. Sua tradução e comentários são, no mínimo, diferentes do lugar comum das traduções do Gênesis, e demonstram décadas de estudo da língua hebraica, inclusive lecionando em universidades francesas.
Saudação aos rabinos que por volta da emergência da era cristã fixaram o cânon da Bíblia (o tanak) nele incluindo o que se poderia denominar “Segundo Relato da Criação”, relato grandioso e misterioso, logo em seguida ao denominado “Relato dos Seis Dias da Criação” no início. Este último redigido pelos sacerdotes do Templo de Jerusalém provavelmente no final da época do primeiro Templo, pode ser ler com efeito como um catálogo de conceitos, que começa por aquele de Deus (ou de Causalidade) para chegar àquele de Homem, o sexto “dia”, passando por aqueles de Tempo, Espaço, Lugar, Imortalidade, Liberdade. Trata-se de uma exposição racional da tomada de consciência pelo Homem, de pronto daquilo que ele não é, para chegar logicamente àquilo que ele é. O que supõe que ele aí está presente desde o início, tudo se passando na sua cabeça, como o sugere a primeira palavra deste relato prévio e logo da Bíblia inteira que ele inaugura, e que está na “cabeça” (rosh). Esta primeira palavra é capital, é o caso de dizê-lo, mas não mais que alusiva pois está formalmente incluída na palavra “princípio” (reshit) da qual é a raiz e reproduz as três primeiras consoantes (R-‘-Sh) precedida da preposição “be” que dá bereshit, título em hebreu do livro dito do Gênesis.
Por conseguinte o Homem, o conceito de homem, não aparece formalmente senão por último na Criação apresentada no Relato dos Seis Dias como uma cosmogonia objetiva. O Homem tem o ar de ser aí criado após a luz (primeiro dia); a extensão (segundo dia); a terra e a vegetação (terceiro dia); os astros (quarto dia); peixes (quinto dia); animais terrestres (no início do sexto dia). Esquema que prefigura um pouco aquele da evolução darwinista. Mas não suficientemente para ser tomado a sério (a vegetação aí precede os astros!) por aqueles que se abstêm a não ver aí senão um esboço desajeitado da era pré-científica buscando explicar a existência do universo.
O Segundo Relato (que é, lembremos, cronologicamente o primeiro) não tem esta abordagem prudente e oportunista, que cede ao bom senso, mas finalmente não convence ninguém em nossa época.
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