Milagres de Jesus

EVANGELHO DE JESUS — MILAGRES DE JESUS

VIDE: SEMEION; SOTERIA; SALVADOR

Milagres:


Padres da Igreja — em nosso site francês

Juan Mateos e Juan Barreto: VOCABULÁRIO TEOLÓGICO DO EVANGELHO DE SÃO JOÃO

I. Significado. Em Jo, “sinal” é ação realizada por Jesus que, sendo visível [não obrigatoriamente pelos olhos corporais], leva por si ao conhecimento de realidade superior. Supõe a presença de espectadores (Jo 12,37) e à sua visibilidade corresponde neles a visão do sinal (Jo 2,23;6,2.14.26).

II. Os sinais de Jesus. Nos sinais de Jesus percebe-se uma força que manifesta, pelo menos, a assistência de Deus (Jo 3, 2); um pecador, por estar separado de Deus, não poderia realizá-los (Jo 9,31-33).

O Messias renovaria os sinais do êxodo, e daí vem que, diante do gesto messiânico de Jesus no templo, “os Judeus” lhe pedem um sinal (Jo 2,18); em consequência, a declaração dos dirigentes ao final da atividade de Jesus (Jo 11,47; este homem realiza muitos sinais) os acusa a eles próprios (cf. Jo 7,31 ;9,16; 12,37). Em Cafarnaum, a multidão que compreende a pretensão messiânica de Jesus lhe pede também um sinal, com menção explícita de Moisés e do êxodo (Jo 6,30s).

O sinal messiânico que Jesus propõe aos dirigentes no templo é o de sua ressurreição (Jo 2,19: Suprimi este santuário e em três dias o levantarei), que manifestará sua vitória sobre a morte infligida por eles e a presença do amor de Deus (a glória) acessível nele ao homem (Ressurreição VI).

À multidão que lhe pede um sinal messiânico (Jo 6,30) Jesus responde que ele já ocorreu: foi sua própria entrega a eles no dom do pão. O próprio Jesus é o pão da vida (Jo 6,35) e é o sinal: o novo maná (Jo 6,32s). Este sinal antecipa sua entrega na cruz, onde dará sua carne e seu sangue, os do Cordeiro da nova Páscoa, para a vida do mundo (Jo 6,51.54ss).

João Batista, que não é o Messias (Jo 1,20), não realiza nenhum sinal (Jo 10,41), o que mostra o caráter messiânico dos sinais de Jesus.

III. Os sinais programáticos. No decorrer de sua atividade, Jesus realiza dois sinais programáticos, que dão chaves para interpretar a atividade que segue. O primeiro é o das bodas de Caná (Jo 2,1-11), que apresenta o objetivo de sua missão no âmbito de Israel com o motivo teológico da substituição da aliança: Jesus substituirá a antiga aliança baseada na Lei, pela nova baseada no Espírito/amor leal (Jo 1,17) (Bodas II; Água II). É “o princípio dos sinais” e nele Jesus manifesta sua glória (Jo 2,11), o seu amor leal para com o homem (Jo 1,14; Glória II, IV). Por ser princípio, começo e origem de todos os outros, oferece sua chave de interpretação: em cada sinal é preciso descobrir a manifestação de sua glória-amor (cf. 11,4.40). A suprema manifestação de sua glória será sua morte na cruz (Jo 17,1), à qual já alude em Caná (Jo 2,4: a minha hora): em cada sinal antecipa-se o amor até ao extremo (Jo 13,1) que Jesus vai demonstrar na sua morte.

O sinal de Caná apresenta assim o programa de toda a vida de Jesus. O seu aspecto teológico, porém, a substituição da aliança, desenrola-se no primeiro ciclo (Jo 2,1-4,46a: o ciclo das instituições). Nele irão sendo expostas as diversas substituições que comporta a da aliança: substituição do templo (Jo 2,13ss-22), da Lei (Jo 3,1-21), dos mediadores de antiga aliança (Jo 3,22-4,3), do culto ritual (Jo 4,4-42).

O segundo sinal programático é a cura do filho do funcionário real (Jo 4,46b-54). O “segundo sinal” continua o “princípio dos sinais”: é explicação deste, em chave antropológica. De fato, realiza-se também desde Caná, mas o seu efeito não se produz no círculo da aliança-bodas, mas fora, na humanidade, sem nenhuma alusão a religião ou raça (Cafarnaum, lugar de povoação mestiça); por isso não requer presença física de Jesus (descer a Cafarnaum), basta a sua mensagem de vida (Jo 4,50: logos). Neste sinal, Jesus explicita o efeito do amor manifestado em todos: dar vida ao homem enfermo e a ponto de morrer (Jo 4,46b-54). Por outro lado, assim como 2,1-11 dava chave positiva para interpretar os sinais (a manifestação da glória), em 4,48 Jesus exclui outra chave de interpretação que falsearia o seu messianismo: a sua glória não se manifestará por meio dos sinais portentosos. João orienta assim o leitor sobre a verdadeira índole do que se narra nos episódios seguintes.


Jean Borella: SEMEION


Antonio Orbe: MILAGRES DE JESUS