soteria

SOTERIA — SALVAÇÃO

VIDE: APOLYTROSIS; TERAPIA ESPIRITUAL

NT — mais de 100 entradas para sozer — salvar, curar

Bendito o Senhor Deus de Israel, Porque visitou e remiu o seu povo, E nos levantou uma salvação poderosa Na casa de Davi seu servo. Como falou pela boca dos seus santos profetas, desde o princípio do mundo; Para nos livrar dos nossos inimigos e da mão de todos os que nos odeiam; Para manifestar misericórdia a nossos pais, E lembrar-se da sua santa aliança, E do juramento que jurou a Abraão nosso pai, De conceder-nos que, Libertados da mão de nossos inimigos, o serviríamos sem temor, Em santidade e justiça perante ele, todos os dias da nossa vida. E tu, ó menino, serás chamado profeta do Altíssimo, Porque hás de ir ante a face do Senhor, a preparar os seus caminhos; Para dar ao seu povo conhecimento da salvação, Na remissão dos seus pecados; (Lc 1:68-77)

Vós adorais o que não sabeis; nós adoramos o que sabemos porque a salvação vem dos judeus. (Jo 4:22)


PADRES DA IGREJA — em nosso site francês


Jean-Claude Larchet [LTMS]

O verbo salvar (sozo em grego), frequentemente utilizado no NT significa não apenas “libertar” ou “tirar de um perigo”, mas também “curar”, e a palavra “salvação” (em grego soteria) designa não apenas a libertação, mas também a cura. O próprio nome de Jesus significa “YHWH salva”, ou seja “cura“; o Cristo se apresenta como um médico em várias passagens do NT: Mt 8:16-17; Mt 9:12; Mc 2:17; Lc 4:18-23.

A saúde primordial do homem pode assim se assemelhar ao estado de perfeição ao qual o homem se destina por sua própria natureza. Ora, a perfeição para o ser humano, é ser deificado, e por sua natureza própria tornar-se deus pela graça. Deus com efeito criou o homem a Sua imagem e a Sua semelhança, e lhe deu desde a origem, inscrevendo em seu próprio ser mesmo, a possibilidade de se conformar inteiramente a Ele (“Eu afirmei: sois todos deuses”, Salmo 81).


Frithjof Schuon: O ESOTERISMO COMO PRINCÍPIO E COMO VIA

Mas agora precisamos adotar um ponto de vista muito mais geral. Segundo alguns, nenhuma “ideologia” salvou o mundo. Sem nos preocuparmos com as intenções desse termo, respondemos que nenhum sistema espiritual, nenhuma religião teve algum dia essa finalidade, pois trata-se unicamente de fornecer aos homens o meio de salvação — não de salvá-los contra a sua vontade — e, também, de Lhes proporcionar o meio de criação de um ambiente favorável, ou o menos desfavorável possível, para a concretização desse fim. Só podemos salvar os que desejam ser salvos: primeiro, os que se dão conta de que estão prestes a perder-se; e, segundo, os que realmente desejam aceitar o auxilio que lhes oferecemos. O homem, sendo livre, está condenado à liberdade; não foram as verdades e os métodos libertadores que “faliram”, foram os homens que se tornaram “adultos”, por assim dizer. As circunstâncias atenuantes — por um lado, as restrições dos exoterismos face a certas experiências e, por outro, as descobertas científicas, na ausência de capacidade para interpretá-las e integrá-las —, afirmamos, não bastam para desculpar os homens por sua insensibilidade ante as evidências inatas e sempre palpáveis, assim como por se fecharem orgulhosa e puerilmente à Misericórdia. Contudo, a história de uma religião é sempre a história da luta entre um dom divino e a recusa em aceitá-lo, o que explica em parte os exageros compensatórios dos santos.
A salvação exotérica é a fixação do sujeito humano individual, ou da alma, na aura incorruptível do Objeto divino, se assim podemos nos expressar. A salvação esotérica é a reintegração do sujeito humano intelectual, ou do espírito, na Subjetividade divina. Este segundo modo de salvação — a libertação (moksha) dos vedantinos — implica o primeiro modo, pois o homem como tal jamais pode tornar-se Deus. Certamente, a substância imutável do homem, que coincide com o Supremo Si Mesmo, libera-se deste acidente que é o ego; mas não o destrói, assim como a realidade de Deus não impede a existência do mundo.
Apenas as qualidades valorizadas pela Verdade e pelo Caminho contribuem para a salvação da alma; nenhuma virtude afastada desses fundamentos tem poder salvador, e isso prova a relatividade e a influência indireta das virtudes puramente naturais.

Michel Henry: FILHO NO FILHO