Bruno Barnhart: The Good Wine: Reading John from the Center [BBGW]
Esta estória de cura sugere uma relação numérica com o Êxodo. O homem esteve esperando nesta estória por 38 anos sem «um homem», o que faz lembrar os judeus que vagaram no deserto, incapazes de entrar na terra prometida por «trinta oito anos, até que uma geração inteira de guerreiros tivesse perecido do campo, como o Senhor jurou a respeito deles» (Deut 2,14). E, segundo Paulo Apóstolo: «E a quem jurou que não entrariam no seu descanso, senão aos que foram desobedientes? E vemos que não puderam entrar por causa da incredulidade».
O paralítico de Bezata é o judeu que definha no deserto incapaz de entrar na terra prometida, repouso de Deus, por causa de uma falta de fé. Estas águas, movidas de tempo em tempo por um espírito, lembram às águas do primeiro dia da Criação, sobre as quais planava o Espírito. A esperança deste homem é de de novo imergir ele mesmo nas águas do princípio. O que nos faz lembrar as antigas tradições religiosas do mundo que se assentam na revelação primordial, uma «revelação cósmica».
Jesus passa e cura o paralítico com uma palavra: um comando de poder. É em fazendo esta palavra que ele é curado, levanta-se e anda. A vida do princípio, as águas de vida que fluem através do paraíso, estão neste homem Jesus, que cura com a energia de sua Palavra. Ele é, ele mesmo, o Verbo que desce nas águas para fertilizá-las de modo que possam dar nascimento a uma nova criação. Ele é o senhor do Sabbath.
Joaquim Carreira das Neves: ESCRITOS DE SÃO JOÃO [CNEJ]
A nível de crítica literária, na narrativa do “sinal” da cura do paralítico, as versões recentes omitem parte do antigo v. 3 e de todo o v. 4 por faltarem nos melhores e principais manuscritos antigos: “cegos, coxos e paralíticos ‘que esperavam o movimento da água,porque o anjo do Senhor descia, de tempos a tempos, à piscina e agitava a água; e o primeiro que nela entrasse, depois da agitação da água,ficava curado de qualquer doença que tivesse’”. Esta glosa “miraculista” procura explicar o que se diz no v. 7: “Senhor, não tenho ninguém que me meta na piscina quando se agita a água…”. Trata-se de águas termais e intermitentes. As nascentes rebentavam, todos os anos, e semelhante fenômeno passou a ser explicado de maneira “miraculista”. As descobertas arqueológicas apresentam a grandiosidade desta piscina de águas termais, incluindo o quinto “pórtico”, que dividia a piscina ao meio, caso único no gênero. Depois do ano 70, a piscina foi dedicada ao deus da cura, Esculápio.
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As águas medicinais da piscina servem de “signo” para a grande obra salvadora do Jesus–Messias–Filho de Deus como dador da VIDA. Os “sinais miraculosos” testemunhados por Nicodemos em 3,2, por alguns fariseus em 9,16 e pelos sumos sacerdotes e fariseus em 11,47 são uma das credenciais de Jesus sobre o significado maior da sua ação, incluindo o dia de sábado (cf. a obra/obras de Jesus — ergon/erga — em 4, 34; 5, 20.36; 7, 21; 10, 25; 10, 37.38; 14,10).
Maurice Nicoll: CURA DO ENFERMO DE BEZATA