LOGIA JESUS — TUDO O QUE DE FORA ENTRA NO HOMEM NÃO O PODE CONTAMINAR (Mt 15,10-11; Mc VII, 14-23)
VIDE: KARDIA; CORAÇÃO; KATHARSIS; PURO E IMPURO
EVANGELHO DE JESUS:
10 Ele chama a multidão e lhes diz: «Ouvi e compreendei! 11 Não é o que entra pela boca que contamina o homem, mas é o que sai da boca que contamina o homem.» (Chouraqui; Mt 15,10-11)
Tomas de Aquino: CATENA AUREA; Mateus; Marcos
Na concepção de Ieschoua do puro e do impuro, o que mancha o homem não é o que ingere ou toca, eliminando assim qualquer concepção arcaica e mágica da impureza. Tudo é puro na criação, portanto o que vem de dentro, do coração, de sua liberdade é que mancha o homem.
Resgatando a tradição bíblica, Ieschoua propõe uma doutrina a respeito do coração humano (Gen 6:5; Gen 8:21).
Esta responsabilidade fundamental sobre o que o coração “produz” se confirma pelo dito Bons Frutos.
Roberto Pla: Evangelho de Tomé – Logion 14
Certamente que ao denominar “Santuário” (“Santuário de seu corpo” em Jo 2,21) não se referia Jesus unicamente a seu corpo que havia de ressuscitar como templo espiritual donde emanam rios de água viva, pois o Apóstolo fala repetidas vezes desta identidade com referência explícita a todo corpo hominal, já que é no corpo de cada um de nós donde se faz mais específica a necessidade de purificar o Templo. “Não sabeis — diz Paulo Apóstolo — que vosso corpo é santuário do Espírito Santo que está em vós?”
Sem dúvida, ao nomear tal identidade se referem, tanto Jesus como o Apóstolo, a uma corporeidade psicosomática, pois a purificação tem que ver, como é lugar conhecido na doutrina de Cristo, não ao que entra na boca (material), senão ao que sai da boca (anímico), com o qual se refere às impurezas da alma. Se pode afirmar, por outro lado, que o “corpo natural” ao qual se refere Paulo quando intenta explicar aos coríntios o modo de ressurreição, é tanto corpo de carne, como de psique (1Cor 15:35-44).
Michel Henry: PALAVRAS DO CRISTO [MHPC]
A tese de “o mal se encontra no homem e nele unicamente” é enunciada a respeito de uma questão ao mesmo tempo particular e muito concreta, para não dizer insignificante. “Então os discípulos se avançaram e lhe disseram: sabes que os fariseus ficaram escandalizados ouvindo esta palavra?” Tomando uma vez mais a contrapé o formalismo ritualista da religião judia, Jesus acabava de declarar simplesmente que não é necessário se lavar as mãos antes de comer. Todavia, esta declaração provocante para todos os legalistas recobre uma afirmação metafísica. Ela não se contenta somente de enunciar, como o fará Hegel dezenove séculos mais tarde, que “só a pedra é inocente”. Convém entender esta asserção a tudo o que é semelhante à pedra. Todo processo material, tudo que estuda a ciência, tudo o que não sente nada e não experimenta nada, tudo que é estranho ao homem, tudo isso é inocente. Eis porque “Jesus declarou puro todos os alimentos”…
É em seu coração ao contrário — aí onde o homem experimenta tudo o que ele experimenta e se experimenta ele mesmo, onde ele é homem diferentemente de todas as “coisas” — que se mantém o mal, é daí que ele provém.
A delimitação do lugar do mal, nomeado impuridade, não interessa somente à ética, ela implica uma definição geral da condição humana que toma por princípio, assim como dissemos, o “coração”. A identificação da realidade humana ao “coração” tem uma significação inusitada, ela atesta que, diferentemente das coisas do universo que não sentem e não experimentam nada — e que por esta razão não poderiam ser nem boas nem más —, o homem é aquele que se experiencia a si mesmo. É por esta razão precisa que ele se acha ser numa tacada capaz de experimentar e de sentir tudo o que o cerca, o mundo e as coisas que aí se mostram. Mas se experimentar a si mesmo constitui o próprio da vida. Viver não é, com efeito, nada de outro: sofrer o que se é e desfrutar, desfrutar de si. O “coração” — este termo que retorna tão frequente nos Evangelhos — designa assim a realidade do homem como essencialmente afectiva, o que ela é em verdade. A afecção é a essência da vida. É a princípio sob o termo de vida que, no conjunto das palavras que temos dele, o Cristo designa a realidade humana, nossa realidade, “nossa vida”. Os textos mais concretos dos sinópticos dizem a mesma coisa que os textos joanicos ou que as cartas de São Paulo.