Novo Testamento

BÍBLIA — Escrituras e Tradição Cristã — NOVO TESTAMENTO

VIDE: EVANGELHOS; EVANGELHO DE JESUS, LINGUAGEM CRISTÃ

Assim o Novo Testamento … Ninguém se lembra de perguntar se as próprias interpelações, emendas, etc, com que nos chega não serão inspiradas também… Inspirados são todos e em tudo; depende a ciência real da consciência que dessa inspiração se tem. (Fernando Pessoa, Rosea Cruz)
Segundo Willis Barnstone, tradutor da excelente tradução comentada WBNT (THE RESTORED NEW TESTAMENT: A New Translation with Commentary, Including the Gnostic Gospels Thomas, Mary, and Judas), “Nova Aliança” é o título próprio para o “Novo Testamento”, com base no grego “Kaine Diatheke”, que Paulo tomou do hebreu “berit ou brit”, com o sentido de “nova aliança”. Em 2Co 3,6, Paulo fala de uma nova aliança ou pacto com a deidade, não um “novo testamento”, como Jerônimo erroneamente apresentou a frase em sua Vulgata latina. Nos 1600 anos desde a Vulgata, a Europa ocidental e grande parte do mundo seguiu este grande tradutor em sua versão de “Kaine Diatheke” para «Novum Testamentum”, do qual deriva “Novo Testamento”. Novas traduções das escrituras gregas às vezes usam a fórmula para seu título: “A Nova Aliança (escrito em fonte pequena), comumente chamada O Novo Testamento (escrito em fonte maior)”.
O NT na Igreja do Ocidente foi formalmente canonizado em Roma no começo do século V. Atanásio foi o primeiro a usar a palavra cânon (do grego kanon, uma vara de medição, e, no século II, koine, regra de verdade), e seu cânon, listando os atuais livros das Escrituras Cristãs em grego, foi assim proposta em sua “Trigésima nona Carta Pascal”, escrita em 369. Foi provavelmente aprovada no Sínodo de Roma em 382, e confirmada por declaração papal em 405. As passagens de citações da Torah feitas por Jesus devem ter sido diretamente da Bíblia hebraica, não como as temos nos evangelhos, onde os autores e redatores recorreram à tradução grega da Septuaginta.

O NT, como o temos, é em grego, contendo entre seus vinte sete livros, quatro evangelhos, que na ordem provável de sua composição são Marcos, Mateus, Lucas e João. Qualquer que seja a ordem, estes evangelhos são os canônicos que reconhecemos, e surpreendentemente os temos em roupagem grega ao invés de aramaico ou hebraico. Tradicionalmente houve mais interesse em restaurar uma fonte hipotética de informação (QUELLE), desconsiderando sua passagem como tradução de suas raízes semitas e pensamento judeu. Nas últimas décadas, entretanto, houve uma mudança de interesse em Jesus como um judeu de língua aramaica, cujas palavras foram apresentadas em um deslocamento ao grego, e para aqueles no Ocidente, em dois deslocamentos, indo do aramaico para o grego e então para a segunda língua de sua tradução (e ainda mais, se teve no meio o latim de Jerônimo).

Os textos gregos que temos são espelhos de sombras perdidas da sabedoria e pensamento judaicos, e de fala e possível redação aramaicas. Lamentavelmente textos originais semitas pouca chance têm de se materializar, acima ou abaixo da terra. Temos que nos contentar com os cerca de cinco mil manuscritos, contendo parte ou todo o NT, onde há abundante informação sobre a sobrevivência, mudanças, emendas, e táticas de reprodução, mas absolutamente nenhuma luz sobre o mistério essencial pelo qual as palavra de Jesus e uma história de sua vida e morte migraram à pletora de textos gregos antigos. O Evangelho de Tomé continua sendo a descoberta recente de maior importância, embora em copto, ou seja ainda mais afastado da língua original dos ditos de Jesus.