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EVANGELHO DE JESUS: RETIRAR ESPOSO; ONDE VOU; SUBIR
Roberto Pla
Falar de subir ou baixar, levantamento, elevação, etc..., significa sempre, desde o ângulo da vertente oculta, fazer uso de um jogo verbal metafórico, com o qual se intenta expressar uma “imersão” (outra metáfora adverbial) na matéria, ou uma desidentificação dela. Isto se deve ter bem presente pois do contrário o levantamento do Filho do homem, ou a subida ao Pai, as duas ações com mudança do lugar que agora ocupamos, se atêm uma única significação de ordem física, de vertente manifesta. para perceber sob a expressão superficial da linguagem o sentido interior da vertente oculta é necessário permanecer muito atento às armadilhas colocadas tradicionalmente pelas palavras e não cair nelas, pois como já se sabe, as palavras não são nunca outra coisa mais que um símbolo da coisa nomeada.
Para que o Filho do homem que “baixou do céu” possa de novo “subir ao céu”, explica Jesus que ante “tem que ser levantado o Filho do homem, e afirma que tal “levantamento” é necessário para crer (nesse Filho do homem, interior e essencial) e “assim ter a vida eterna”.
Quanto aos termos em que pode produzir-se este levantamento tão importante, são surpreendentes, pois o evangelho diz:
É muito importante a semelhança que para efeito de levantamento do espírito que dá vida, estabelece aqui a escritura entre a serpente do relato mosaico e o Filho do homem. Convém recordar o texto veterotestamentário:
A serpente de fogo (hebraico saraf), fabricada de bronze com a excepcional particularidade de dotar de vida eterna, verdadeira a todo o que a olhe uma vez levantada sobre a haste (a cruz); eis uma imagem, guardada em mistério, do levantamento do Filho do homem.
Desde o anúncio de sua glorificação com a morte, diz Jesus: “E eu, quando for levantado da terra, todos atrairei a mim” (Jo 12:32) e tal coisa deve se interpretar desde a vertente oculta como a descrição pelo evangelho do ato sagrado pelo qual a consciência de Adão alma vivente “descobre”, por conta de descartar mortalmente os princípios aderidos do mundo, o Filho do Homem, até então ignorado por ela e agora desperto definitivamente à luz, “como quem ressuscitou da morte à vida” (Rm 6,13).
A mordida da serpente terrena como preparação para a vida eterna de quem veja o Filho do homem levantado no bastão, tem uma significação na escritura tão mítica como a aquisição do conhecimento suscitado nos primeiros padres edênicos pela serpente da árvore. O Filho do homem, recém-nascido à contemplação interior, é posto no mastro elevado da cruz, talvez na altura dos olhos que veem, para, uma vez ali, “levantado”, com concentrada fixação, até que um dia seja de súbito “traspassado” sutilmente e então o dois seja convertido em um, segundo está dito.
Com isso se cumpre o Oráculo de YHWH mencionado por Zacarias, “para formar o espirito do homem em seus interior” (Zac 12,1), e recordado segundo a vertente oculta pelo evangelho joanico, na ocasião da lança “manifesta” do soldado.
O olhar permanente à Serpente permite que flua dela o fogo do conhecimento, pois está dito: “Deus é um fogo devorador” (Dt 4,24), um fogo cuja ação é salvar o grão e queimar a palha.
Quando da teofania no Sinai, Deus permitiu a Moisés e Arão subir ao monte, mas os sacerdotes e o povo, talvez com a alma carregada de palha, não traspassaram as bordas deste monte do espírito, pois, como eles disseram: “não aconteça que morramos” (Ex 19,24; 20, 19). Com efeito, para traspassar a Serpente e chegar onde vai o Filho do homem há que queimar antes a palha, tem que morrer a palha, pois não é ela a que sobe, senão o “nascido de cima”.