LEVANTADO DA TERRA

LOGIA JESUSLEVANTADO DA TERRA... (Jo XII, 27-34)

Agora a minha alma está perturbada; e que direi eu? Pai, salva-me desta hora; mas para isto vim a esta hora. Pai, glorifica o teu nome. Então veio uma voz do céu que dizia: Já o tenho glorificado, e outra vez o glorificarei. Ora, a multidão que ali estava, e que a ouvira, dizia que havia sido um trovão. Outros diziam: Um anjo lhe falou. Respondeu Jesus, e disse: Não veio esta voz por amor de mim, mas por amor de vós. Agora é o juízo deste mundo; agora será expulso o príncipe deste mundo. E eu, quando for levantado da terra, todos atrairei a mim. E dizia isto, significando de que morte havia de morrer. Respondeu-lhe a multidão: Nós temos ouvido da lei, que o Cristo permanece para sempre; e como dizes tu que convém que o Filho do homem seja levantado? Quem é esse Filho do homem? (Jo 12:27-34)

PERENIALISTAS Roberto Pla: Evangelho de Tomé - Logion 38

Evangelho de Tomé - Logion 94 O evangelista sabe que o verdadeiro sentido da expressão “levantar” (no subjetivo: “glorificar”), não é fácil revelá-lo, e por isso põe na boca da “gente” a pergunta: “Como dizes tu que é preciso que o Filho do Homem seja levantado?” (Jo 12,34).

Cristo “permanece para sempre”, e em todo tempo é igual a si mesmo. é o olhar que contempla ao Filho do Homem ao que deve “levantar” a imagem que ela tem em si mesma até conseguir que sua imagem seja igual, idêntica, ao Filho e, portanto, “uma com ele”. O resultado disto é saber que “Ele-é”, ou melhor, saber que “Ele-é-Eu”.

Muito de acordo com isso, há uma explicação do Apostolo: “Todos nós, que com o rosto descoberto refletimos como em um espelho a Glória do Senhor, nos vamos transformando nessa mesma imagem, cada vez mais gloriosa, conforme a ação do Senhor que é Espírito” (2Co 3,28).

A Glória do Senhor (do Pai), é o Filho do Homem e essa é a Glória que o que recebeu a unção e é agora o Cristo interior, reflete em seu rosto, uma vez rompeu o véu que o impedia contemplar a presença do Espírito.

Mas contemplar é refletir, ver “como em um espelho”, posto que somente “em enigma”, em espelho, é possível a contemplação quando se exerce desde este lado, desde o lado de abaixo do “horos” da cruz que a cada um lhe é própria. Mas ver em espelho é somente uma maneira confusa, imperfeita, de ver, pois o olhar há que levantá-la, pelo menos, até o limite da cruz.

O limite pode ser morte e também pode ser Vida eterna, e essa medida o dá a fé, pois como disse Isaías: “É o Senhor que estende o cordel de confusão e nível de vacuidade”. O limite é a cruz e seu mistério.

Levantar-se é transformação, acudir desde a terra até o Filho do Homem, e isso consiste em ser não a imagem nossa, no como um espelho da imagem que temos, senão em ser “uno” com a Glória do Senhor, “conforme à ação do Senhor em nós”.

Por isso diz Jesus: “Caminhai, enquanto tendes a luz” (Jo 19, 37). Crer na luz é o fundamento de tudo, mas logo há que “levantar” o olhar que mira ao Filho do Homem para olhá-lo não na terra, senão na perfeição. Isto quer dizer que há que olhar ao “stauros”, ao traço vertical que penetra na altura, de baixo para cima, até transpassá-lo, até cravar a lança do olhar além do véu que se rasga, misericordioso, de acima abaixo, e sai a nosso encontro.

Isso é o que quer indicar o evangelista quando recorre à Escritura: “Olharão ao que transpassaram” (Jo 19,37). Como se dissesse com o salmista: “As portas de bronze quebraram” (Sl 107, 16). Uma vez tenha sido transpassado o firmamento de bronze polido que Deus pôs sobre a cabeça do homem, conhecerá cada um, transformado e livre do enigma da imagem, “de um modo perfeito, tal como é conhecido” (1Co 13,12) pelo único conhecedor.

Referindo-se ao Filho do Homem diz o Apocalipse : “Olhai, vem acompanhado de nuvens; todo olho o verá, também os que o transpassaram, e por ele farão duelo todas as raças da terra”.

Mas só farão duelo aquelas raças que seguem apegadas à terra, as que não se levantam até o Filho do Homem que os chama desde a eternidade que levam em si mesmos, para subir com ele à cruz, e logo transpassá-la.

René Guénon: SIMBOLISMO DA CRUZ

  • METAFÍSICA DA CRUZ