EVANGELHO DE TOMÉ — Logion 38=>LOGION 39<=Logion 40
Jesus disse: os fariseus e os escribas receberam as chaves da ciência (gnosis) e as ocultaram. Não entraram e aos que queriam entrar não os deixaram. Mas vós sedes sutis (phronesis) como as serpentes e puros como as pombas. (Roberto Pla) EVANGELHO DE JESUS: FARISEUS
Roberto Pla Há uma ciência para alcançar o reino de Deus. Dita ciência exige, para que possa ser praticada com eficácia, uns conhecimentos prévios que Jesus chama “chaves” e que sem dúvida os sábios antigos “receberam”, isto é, os haviam estudado, desenvolvido e transmitido, embora seguramente não sem o sigilo que os mistérios do reino requerem.
Mas os legistas judeus, longe da fazer uso dessas chaves da ciência de Deus que receberam e que deviam ter mostrado “aos que queriam entrar”, as ocultaram até perdê-las.
Em consequência, os mestres de Israel coetâneos de Jesus, não só não sabiam entrar no reino, mas ademais, por sua ignorância nessa ciência vinham obstaculizando a entrada daqueles que embora dotados e dispostos, mas falhos de conhecimento, lutavam infrutuosamente por entrar.
Assim é que ao proclamar a Boa Nova, se vê obrigado Jesus a “inaugurar” outra vez a ciência do reino, “para dar a seu povo” — aos que o seguem, segundo o evangelho — , “conhecimento de Salvação”.
Parece evidente que as chaves da ciência de Deus foram reservadas por Jesus para aqueles discípulos que reuniu como instituição dos Doze (Mistérios), segundo diz muito explicitamente: “A vós é dado conhecer os Mistérios do Reino dos Céus”. (Mt XIII, 11; Lc VIII, 10).
Foi a Simão Pedro o primeiro discípulo a quem Jesus entregou (descobriu , manifestou) as chaves do Reino. Segundo relata o Evangelho, isto ocorreu naquela ocasião na qual o discípulo o identificou como “o Cristo, o Filho de Deus vivo” (Mt 16,6). Foi esta uma grande demonstração do desenvolvimento espiritual experimentado por Simão Pedro e Cristo viu, nessa identificação, que a alma de Simão se colocava já justamente diante da porta da bem-aventurança, aquela porta por onde penetram no Reino todos aqueles que se colocam como candidatos a receber o “sinal de Jonas”.
Jesus explica então que tal revelação não a traz “a carne, nem o sangue”, senão o Pai, o que equivale a dizer que por suas limitações a carne (o corpo) e o sangue (a alma), não são aptos para alcançar a intuição do Filho do homem, seja em sua vertente oculta, ou manifesta.
A revelação que dá atitude à consciência para receber a luz primeira da identidade do Filho do homem, só pode vir do Pai, e vem, com efeito, quando a alma se fez tão sutil e tão pura, tão limpa, que a Palavra de Deus desce “naturalmente” através de suas diversas capas até a consciência, a qual chega como uma centelha de conhecimento.
Depois de sua revelação, Simão Pedro constitui-se em “pequenino”, evangélico, isto é, em “recém nascido do alto”.