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EVANGELHO DE TOMÉ - LOGION 110

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Jesus disse: Que aquele que encontrou o mundo e se fez rico, possa renunciar ao mundo. (Roberto Pla) EVANGELHO DE JESUS

  • E o que foi semeado entre os espinhos, este é o que ouve a palavra; mas os cuidados deste mundo e a sedução das riquezas sufocam a palavra, e ela fica infrutífera. (Mt 13,22)
  • Pois que aproveita ao homem se ganhar o mundo inteiro e perder a sua vida? ou que dará o homem em troca da sua vida? (Mt 16,26)

    Hermenêutica

    Roberto Pla

Encontrar o mundo é “ser” o mundo além de “estar” nele. Fazer-se “rico” no mundo significa ter tomado para si as coisas do mundo convertidas em apegos com os quais aquele que é do mundo se identifica.

Aquele homem que encontrou o mundo e nele se fez “rico”, é um homem que vive na dualidade, é ele mesmo uma dualidade, posto que tornou robusta uma dicotomia poderosa, de uma parte com aquilo que realmente é, e de outra com todas essas “riquezas” mundanas que crê ser porque passaram a ser constitutivas de sua pessoa.

Para aquele homem convertido em dualidade, dolorosamente como toda dualidade, pede Jesus, como quem eleva uma oração, o mais difícil e ao mesmo tempo o mais maravilhoso: que seja capaz de renunciar ao mundo.

Renunciar ao mundo significa resgatar a realidade do Ser puro, “pobre”, não contaminado com essas riquezas aderidas; significa viver a verdade do Ser limpo de apegos superpostos, agregados ao Ser, é conhecer o Ser e alcançar a paz superior da vida na unidade.

Frente à dualidade não estável que se expressa como “Eu e o mundo”, quem renunciou ao mundo só encontra a unidade do Ser que se descobre em si mesmo como Eu Sou. Atrás da renúncia vem por si só a dissolução do mundo no que, segundo se compreende então, é possível “estar” sem “ser” do mundo.

A unidade perfeita, que não é exclusiva de nada, senão que abarca a totalidade, é a que Jesus explicava quando dizia: “Meu Reino não é deste mundo”.

O Ser não é exclusivo de nada, senão inclusivo de tudo, porque é o mundo mas sem limites, sem o cercado protetor que se levanta ao redor da pessoa que se inunda de riqueza do mundo. Por isso, a renúncia é sempre unidade, a unidade que se anuncia com o grito vitorioso: “Eu venci o mundo” (vide MUNDO VISÍVEL E INVISÍVEL).

Quando o logion menciona a quem a se fez rico no mundo, não parece que se refira especialmente às riquezas de ordem material, tal como dentro de uma ordem social, muito comum à exegese manifesta — mais sociológica que sacral — se interpenetram de ordinário as condenações evangélicas da riqueza. JEAN-YVES LELOUP

  • Como no Logion 81, Jesus nos lembra que só se pode renunciar aquilo que se possui.
  • O trans-pessoal é imersão de toda pessoa na dimensão divina, não uma regressão a um estado pré-pessoal de fusão com a natureza.
  • Questionado um gnóstico que vivia simples e de maneira austera, sendo rico de berço e de relações e saberes, porque e quando tinha renunciado ao mundo? Ele responde: "Jamais renunciei ao mundo. Jamais deixei o que quer que seja, mas pouco a pouco o mundo renunciou de mim; as riquezas me deixaram... sem dúvida já não mais precisava delas".
  • São João da Cruz em sua Subida do Monte Carmelo nos faz igualmente notar que em certo momento, não deixamos o mundo, mas verdadeiramente ele nos deixa. Aquilo que antes tínhamos prazer, não temos mais. EMILE GILLABERT
  • Forte relação com o Logion 56 e o Logion 81
  • O gnóstico não tem que renunciar o mundo pois seu conhecimento implica a renúncia.
  • Aquele com riqueza e poder requer desapego se quer conhecer como o gnóstico, e assim renunciar como o homem de experiência no Logion 4 HENRI-CHARLES PUECH
  • A "riqueza" pode ser associada à aquisição e à possessão do Conhecimento da gnosis, e a "pobreza", neste caso, é sinônimo de agnoia ou agnosia, de "perda" ou de "obnubilação da consciência", de "ignorância" ou de "mal conhecimento de si": de "alienação" (anoia), "despossessão de si"
  • No caso de riqueza, associada à aquisição e à possessão de bens do mundo, a pobreza deve simbolizar a liberação, o desprendimento, o desapego, a simplicidade, a pureza.