EVANGELHO DE TOMÉ — Logion 55=>LOGION 56<=Logion 57
Jesus disse: O que conheceu o mundo encontrou um cadáver e o que encontrou um cadáver, o mundo não é digno dele. (Roberto Pla) EVANGELHO DE JESUS:
Roberto Pla
O que diz o logion é que ao aprofundar no conhecimento do mundo se vê que o mundo está morto pois carece de vida própria. Mas só desde a vida é possível contemplar a morte como morte e quem encontra o mundo como um cadáver é porque antes passou da morte à vida; é um ressuscitado, um renascido pela fé na vida, e por isto se diz que o mundo, o qual é um cadáver, não é digno dele.
Embora o logion não tenha nenhum paralelo nos evangelhos canônicos, não faltam referências no NT à condição de “mortos” do mundo e dos homens, pois este é o principal fundamento da doutrina universal de Jesus anunciada na sentença joanica: “Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida” Jo 14,6). Segundo se diz, é o Pai quem tem vida em si mesmo e também o Filho, ao qual o Pai “o deu o ter vida em si mesmo; por isto, o mundo, que não conheceu “a Palavra na qual está a vida, e todo o que não come o pão de Deus, o pão de vida que desce do céu e “dá a vida ao mundo”, é qualificado de “morto” até que ouça a voz do Filho de Deus, em cujo caso se poderia dizer segundo o evangelho, que “passou da morte à vida” (Jo 5,24).
O ingresso na vida desde a morte é um cumprimento da promessa dada a quem crê no Filho, a todo o que por fé “levanta” em seu interior à presença do Filho. Este e não outro é o caminho estreito que se se segue “leva à vida”, pois é a estes, aos que contemplam a presença do Filho, a quem o Filho, que os ama, “dá a vida”.
O que o evangelho diz é que a vida é coisa própria só do Pai e do Filho, e este a dá ao espírito do homem — o filho da luz — para que o homem não caminhe na obscuridade, senão que tenha “a luz da vida”.
Disso se colige que somente o Pai, o Filho e o espírito do homem — e este último por participação no Espírito de Deus que no homem habita — têm vida em si mesmos, quer dizer, vida eterna, irrenunciável, porque a essência constitucional da vida é ser vida e não outra coisa. Tudo o mais que nosso olhar contempla é “morte”, porque a vida que muitas coisas parecem ter é vida “em empréstimo”, uma vida que não é deles senão tomada em usufruto de quem tem a vida em si mesmo e a dá temporalmente.
É “o espírito que dá vida” (Jo 6,63). Como diz o apóstolo, “foi” feito o último Adão “espírito que dá vida”, mas o primeiro homem, Adão, “alma vivente”. Por “vivente”, há que entender aqui o mesmo que “vivificado”, isto é, com vida emprestada, e todo o vivificado, sem vida própria, é coisa morta, que se descobre como cadáver quando se contempla desde a vida própria e verdadeira do espírito. Por isso diz o logion que o que conhece o mundo, encontra um cadáver, e esta é a grande revelação prometida ao que sabe oferecer-se ao Espírito de Deus “como morto retornado à vida” (Col 3,4).
Como diz o Apocalipse em termos veterotestamentários: “Ao Vencedor o darei a comer da Árvore da Vida que está no Paraíso de Deus” (Ap 2,7).