Sabbath

SABÁ — SHABAT — SABBATH

Paul Nothomb: RELATO DOS SEIS DIAS [PNRB]

Adin Steinsaltz (Adin Even Yisrael): Excertos de “A Rosa de Treze Pétalas”. Maayanot, 1992.

O Shabat não é apenas outro dia da semana, nem um dia especial; ele soma a semana, e lhe dá um significado. Os dias da semana são marcados pelos atos da Criação, sempre repetindo-se pelo descenso da abundância divina ao mundo. E paralelamente a este descenso, é função do homem, durante a semana, na ordem das coisas, consertar e colocar o mundo corretamente, onde houver tendência para algo errado. Isto inclui corrigir o mundo, no sentido físico, pelo trabalho e pela ação no quadro externo e, no sentido espiritual, aperfeiçoar o mundo efetuando mitzvot. Porque no reino da alma humana, o trabalho do homem consigo mesmo, sua constante correção de falhas e impulso para a atividade do seu ser interior, constituem em um esforço criativo incessante.

O Shabat é essencialmente o dia do repouso, do cessar de todo o trabalho e esforço criativo. Isto é verdadeiro no que diz respeito ao esforço espiritual de trabalhar consigo mesmo, assim como no esforço físico de trabalhar no mundo. A semana caracteriza-se por ocupações ou atividades, enquanto que o Shabat é baseado na imobilidade, na anulação de si mesmo para receber o banho de santidade. E esta auto-rejeição é expressa por uma renúncia a todo trabalho, seja no sentido físico, como estar ocupado no mundo, ou no sentido espiritual, como empreender esforços para corrigir a alma. De fato, o próprio poder de receber a essência espiritual do Shabat vem da disposição e capacidade de entregar-se, de renunciar ao estado humano e mundano, para o bem da Santidade Suprema, através da qual todos os mundos são elevados a um nível superior.

A sucessão de dias da semana e Shabats não tem fim. Por um lado, os dias da semana preparam o Shabat, corrigindo e fornecendo abundância adicional ao mundo, possibilitando levar as coisas a uma conclusão e elevá-las até um nível adequadamente mais alto. Por outro lado, o Shabat é a fonte de abundância para todos os dias da semana que o seguem. A entrega de si mesmo no Shabat não é apenas uma questão de não atividade, mas uma abertura de si mesmo à influência dos mundos superiores, e por conseguinte, receber a força para todos os dias da semana que virão.

Como a santidade de um lugar, a santidade de um dia, de uma certa unidade de tempo, é intrínseca a ele, e não pode ser transferida a outro dia. Não obstante, a experiência dessa santidade, objetiva como ela é, depende da disposição espiritual e da abertura de cada um. Quanto mais intensivos e sinceros forem os preparativos durante a semana, no curso secular da vida de uma pessoa, mais sagrado será o Shabat. Quanto mais alto for o nível espiritual de uma pessoa em geral, mais agudo será o sentido do enaltecimento geral — uma elevação de todos os mundos — sentido neste dia. Assim, apesar da sucessão dos dias da semana e do Shabat repetir-se sem fim, nunca é a mesma. Há variações sutis no fluxo da abundância, do mesmo modo que os homens são diferentes entre si. E no entanto, cada semana é um arquétipo, uma re-capitulação do padrão primordial da Gênese.

Mario Satz: “TESOURO INTERIOR”

Segundo a Bíblia, o sétimo dia, chamado de o dia do Senhor ou shabat, é otiosus, ou imóvel, pois é indiscutivelmente o dia do centro, o qual, por definição, está parado em relação à sua periferia, assim como podemos observar no Tao Te King quanto nas rodas comuns. Quando se desdobra as faces cúbicas do espaço, ou seja, as quatro direções básicas da rosa-dos-ventos, percebe-se que, da perspectiva do zênite e do nadir, só resta o centro como uma emenda em que o seis é acrescido de mais um número, chegando-se assim à cifra capital: sete, em hebraico sheva, tem com shabat ou sábado duas letras em comum, shab, que por sua vez formam “volta” ou “retorno”. Seguindo este raciocínio, verificamos, ao analisarmos a sétima morada de Santa Teresa, que a transparência desta morada está ligada, entre outras razões, à reversibilidade espiritual, ou possibilidade de encontro com o Divino, caracterizada pela reintegração ou conexão que supera a excentricidade do que está disperso. Por outro lado, o número sete é também a soma de quatro — número feminino e terrestre — com três — número masculino e celeste — de sua soma ou núpcias concluímos que no sétimo se chega a uma aliança, a uma restauração de ferimentos. Para os chineses, o número sete é a consagração de todos os números yang ou ativos. O termo ts’i, sete, indica também as Ts’i Sing ou Sete Estrelas — provavelmente as Plêiades e nelas a origem do cosmo — os sete orifícios ou aberturas da cabeça, as sete paixões, e, acima de tudo, o deslocamento, nos hexagramas do I-Ching, de um oráculo a outro. O sete é, portanto, a interseção entre o final de um ciclo e o início de outro. Santa Teresa fez uma distinção entre o “noivado espiritual” representado pelo número seis, e o “casamento espiritual”, representado pelo número sete; como se do disparo da flecha ao centro do alvo houvesse um número um a percorrer: o próprio um.


Evangelho de Jesus: GUARDAR O SABÁ


Leo Schaya [LSCD]

O sétimo Dia é a finalidade do criado, não somente enquanto completude da realização cosmogônica, mas também enquanto meta do destino espiritual das criaturas, e notadamente da realização interior do homem. O Ser Divino ou a Causa primeira é una com a Causa final, que conduz todas as coisas a Ela mesma, e além Dela, a seu Fim último, sua própria essência absoluta que é a Não-Causa, o Supra-Ser, o Sabá supremo. é o mistério teleológico do sétimo Dia que requer aprofundamento, dado que o homem é chamado a “santificar o Sabá” terrestre cuja “santidade é igual àquela do primeiro Sabá, o Sabá da criação” (Zohar, II, 207b).

Se dará ênfase a seguir ao Sabá interior, que é a paz interior, a paz da alma e do espírito, a paz de todas as coisas no homem que repousa em Deus; é a Presença mesma de Deus, sob seu aspecto de paz e enquanto Ela une tudo a Ela e por Ela, a sua Transcendência. É o Uno que repousa Nele mesmo e no qual tudo repousa, em baixo como no alto.