Stethatos Centurias

Nicetas Stethatos — CENTÚRIAS
Três centúrias prática, física, gnóstica — resumo
Segundo a tradução francesa da Philokalia, as três Centúrias prática física e teológica são exemplares da escola do Sinai, conforme o mosteiro de Stoudios a geriu. Nicetas as moldou segundo a antiga trilogia de Evagrio, que significa os três graus da vida espiritual: a ascese do corpo (a ação, ou prática — praktike), a ascese da inteligência (a contemplação natural, ou física — physike) e o arrebatamento da inteligência (o conhecimento místico de deus, ou teologia — theologia). Mas a obra não é sistemática, e a novidade aflora. O temas dos capítulos são livremente repartidos nas três Centúrias. Entre a ascese e o arrebatamento, o movimento é circular. A alma só recebe no mais alto a luz, não descobre a beleza, para mergulhar no mais baixo na ascese, que lhe aporta sentir sempre ainda mais luz, ainda mais beleza. Há aí toda uma pequena suma do que significa a vida monástica, que é sempre um duplo retornar: o retornar do arrependimento, pela ascese, e o retornar da transfiguração, pelo arrebatamento.

Ao fio dos trezentos capítulos, Nicetas quer mostrar que os estados não estão presos e a osmose é contínua. Qualquer que seja o grau de avanço espiritual, as provações, as tentações permanecem uma sorte comum a todos. Os graus não estão aí para definir ou encerrar o ser. Mas significam a maneira como reagimos as provações. Nada se faz em virtude de uma ordem imanente. Nós só nos elevamos na medida em que nos abaixamos. É o Evangelho. A humildade é fundamental. Os carismas do Espírito Santo não poderiam ser em nós bens que poderíamos nos prevalecer. Nicetas denuncia fortemente todas as ilusões. As marcas da verdade não estão “nas faces, nas formas, nas palavras”, em tudo que pode se mascarar, se falsificar, mas “nos corações alquebrados, nos espíritos humilhados, nas almas iluminadas”.

Paradoxalmente, as lições da vida comunitária levam sempre Nicetas à espiritualidade dos Padres do deserto, e a espiritualidade dos padres do deserto o remete sempre à experiência de Simeão o Novo Teólogo, a sua própria experiência. Não que a hesychia seja deslocada de sua posição fundamental, pois continua sendo a pedra angular. Mas ela abre sobre os três estados tangíveis, compartilhados e transmissíveis da edificação: a dilatação do fervor, a katanyxis (a compunção ou a mansidão dolorosa), enfim a presença do Consolador, a luz incriado. A deificação (theosis) se transmite assim de homem a homem desde o Cristo, “até que todos, unidos no Uno, recolhidos juntos na unidade do amor, sem fim se unam ao único Deus”. Um milenário de transmissão evangélica encontra aqui a afirmação inicial e última do sentido da vida: “ver Deus ele mesmo na glória”.

Mas tal testemunho extremo — que faz lembrar o Tabor e anuncia Gregório Palamas — nem sempre é recebido. Nicetas deplora a incredulidade, a inveja, as calúnias. Pois a luz de Deus, o esplendor do Reino dos céus não são palavras mas realidades, tão tangíveis quanto o sol. Alguns viram, outros não. Aqueles que viram se reverteram, mas transmitem seu testemunho. E aqueles que não viram e que ouvem são chamados a crer, a comungar na humildade, no amor. O que faz Nicetas. O que ele nos convida a fazer. A atualidade de seu ensinamento não requer mais discurso.

Observação: As Centúrias abaixo são apresentadas cada uma, na forma de páginas de 10 itens cada, para facilitar a leitura pela Internet.
*CAPÍTULOS PRÁTICOS
*CAPÍTULOS FÍSICOS
*CAPÍTULOS GNÓSTICOS