ANTHONY BLOOM (1914-2003)
Excertos de Cristianismo Perdido, de Jacob Needleman
Londres, 1977. Conheço essa igreja, e não apenas porque estive aqui antes, há cinco anos, para visitar este homem. Ela mal desperta a atenção de quem passa. Não é uma sublime catedral nem domina o espaço à sua volta. Não se desenha contra o céu com a confiante simplicidade do templo protestante. Se alguém a procurar, a encontrará com facilidade — uma igreja ortodoxa russa de bom tamanho no distrito londrino de Knightsbridge. Se não a estivermos procurando, nunca a notaremos de passagem.
Eu a "conheci" então, também, pela primeira vez. Considerava que as igrejas ortodoxas se parecem mais com sinagogas do que as igrejas católicas e protestantes e dão essa impressão. Isso, naturalmente, é verdade: a influência levantina também predomina na arquitetura das sinagogas. Mas havia algo mais, mais forte até hoje do que antes: um estranho sentimento de intimidade. Talvez isso tenha relação com a natureza das perguntas que eu tencionava fazer ao arcebispo Anthony Bloom, ou com a parte de mim mesmo onde viviam essas perguntas; não sei.
Sei que as sinagogas da minha infância deixaram de ter essa espécie de intimidade bem cedo na minha vida. Estou certo de que isso se relaciona com o fato de que, embora uma criança faça tais coisas, cedo renunciei à esperança de que a parte mais interior de mim mesmo fosse encaminhada ali.
Cinco anos antes, eu chegara a Ennismore Gardens na primeira etapa de uma excursão que terminaria com a visita à península grega de Atos, o centro monástico da cristandade ortodoxa oriental. Escrevi, noutra parte, sobre as minhas experiências durante a curta estada no Monte Atos.
Como muitos ocidentais, eu tinha lido The Way of a Pilgrim (Relatos de um Peregrino Russo), essa notável pequena obra autobiográfica, que descreve a prática da "oração do coração" na tradição ortodoxa oriental. Aqui — pensei — pode estar a chave do método prático do cristianismo, em contraposição aos rituais e doutrinas que simplesmente sustentam a crença em algo que não pode ser experimentado diretamente.
Coube às religiões novas trazer de volta ao conhecimento do Ocidente essa ideia de método religioso. Até recentemente toda a ideia de disciplina espiritual ou era incompreensível ou grandemente suspeita ao homem moderno. Ou então era compreendida como algo tão comum, que dificilmente se distinguia dos padrões familiares de comportamento ético.
Nenhum buscador ocidental pode ler The Way of a Pilgrim sem que todos os seus preconceitos sobre a disciplina espiritual sejam subvertidos. Nesse particular, nos é dado vislumbrar um processo espiritual, compreendido como um desenvolvimento legítimo das forças dentro do corpo físico do homem, em vez de apenas vagas e intangíveis esferas do pensamento e da emoção. Mesmo o leitor contemporâneo, se não tiver a inteligência exausta de ouvir coisas demais sobre os chakras e as "energias" espirituais do Oriente, ficará espantado de ver a maneira como o corpo é envolvido e aceito na disciplina monástica ortodoxa tradicional. Espantado e talvez tocado por um novo sentimento de esperança...
Anthony Bloom é metropolita da Europa ocidental, o equivalente ortodoxo russo do arcebispo. É um homem de bonita aparência, um tanto mais baixo do que a média, estando hoje na casa dos sessenta anos. Seu aspecto dá uma tal impressão de força e vitalidade que, sem dúvida graças aos meus próprios preconceitos em relação ao "clero", as suas vestes negras de arcebispo e até a sua barba preta perfeitamente aparada me pareciam uma espécie de "disfarce". Não que ele me parecesse pertencer à vida mundana; mas os seus gestos, a sua voz, a sua maneira de andar não sugeriam nada da imagem convencional de "piedade" ou "espiritualidade" que temos no Ocidente. Ele me impressionou como se não fosse nem mundano nem "espiritual". Mas como se fosse de algo mais, de algum domínio mais real do que aqueles dois. Mas que domínio é este?
Senti isso particularmente com relação aos seus olhos. Havia neles uma segurança realmente extraordinária. Na verdade, essa foi de fato a primeira coisa que percebi nele. Podia acrescentar que tenho grande dificuldade escrevendo ou falando sobre "olhos" e "olhares", não querendo cair em sentimental idade ou imaginação.
Mas, no caso de Anthony Bloom, algo tem que ser dito a respeito dos "olhos". Tive oportunidade de encontrar muitos homens e mulheres considerados excepcionais. Mas muitas vezes achei que aquilo que se supunha que eram é revelado pelos seus olhos. Não é apenas que certos tipos de movimento dos olhos indiquem alguém encravado, nesse momento, na parte mais superficial da mente, nem que o olhar seguro e demasiadamente constante possa denotar uma condição um tanto neurótica fazendo-se passar por sinceridade ou intensidade. Tudo isso pode ser verdade e um leitor sensível de fisionomias pode ser capaz de dizer muito mais a partir dos olhos do que a maioria de nós gostaria de admitir.
Não estou falando exatamente desse tipo de coisa. Só estou dizendo que, em algumas pessoas, algo se comunica pelos olhos que as autentifica, enquanto em outras algo é comunicado — ou há a falta de algo que seja comunicado — que as denuncia e contradiz o que estão manifestando de si.
Uma pessoa poderá ter todas as "credenciais" do mundo e algo nela me impedirá de levá-la realmente a sério. Não é o que ela diz ou faz, é o que ela é, e, de algum modo, isso, em minha experiência, pode vir através dos olhos.
Como quer que tenha acontecido, lembro-me nitidamente do meu primeiro encontro com o metropolita Anthony. Eu tinha ido à Catedral da Assunção de Todos os Santos, em Ennismore Gardens, e tomei parte tanto quanto pude no ofício divino das Vésperas. Mais tarde telefonei para a sua casa e fui convidado para ir ao seu apartamento no sábado seguinte de manhã.
Excertos: