BLOOM LITURGIA ORAÇÃO

ANTHONY BLOOM — Jacob Needleman Excertos de Cristianismo Perdido, de Jacob Needleman

"Metropolita Anthony", comecei eu, "há cinco anos, quando o visitei, assisti ao culto religioso que o senhor mesmo dirigiu. E disse-lhe então como fiquei impressionado pela falta de emoção na sua voz. Hoje, do mesmo modo, em que não foi o senhor, mas o coro, me impressionou a mesma coisa, a quase completa falta de emoção nas vozes dos cantores."

"Sim", disse ele, "isso é absolutamente verdadeiro. Foram necessários muitos anos para isso, mas eles estão finalmente começando a compreender..."

"O que quer dizer?", perguntei. Eu sabia o que ele quis dizer, mas queria ouvi-lo falar sobre isso — esse aspecto mais inesperado do cristianismo de que nunca tomei conhecimento e talvez pouquíssima gente dos nossos dias alguma vez soube. Levei a minha pergunta mais longe: "O homem comum que assiste a esse culto — e, naturalmente, o ocidental comum que tem que permanecer de pé as várias horas que ele dura — não poderia ser capaz de distingui-lo da rotina mecânica que se tornou predominante na realização da liturgia cristã no Ocidente. Ele poderia vir desejando ser elevado, inspirado, levado à alegria ou tristeza — e isto as igrejas no Ocidente estão tentando fazer, porque muitos guias na Igreja estão se afastando do mecânico, da rotina..."

Delicadamente ele pôs de lado o que eu estava dizendo e me detive no meio da frase. Houve uma pausa e,em seguida, ele declarou: "Não. A emoção deve ser destruída."

Parou de falar, refletiu e tornou a falar em seu áspero sotaque russo: "Temos que nos livrar das emoções... para chegar ao... sentimento."

De novo fez uma pausa, olhando para mim, avaliando o efeito que as suas palavras estavam tendo. Eu não disse nada. Mas interiormente estava ardendo de expectativa. Esperei.

De maneira muito hesitante, fiz um gesto de anuência com a cabeça.

Ele prosseguiu: "Você indaga sobre a liturgia no Ocidente e no Oriente. Trata-se precisamente da mesma questão. Os sermões, os dias santos — você não sabe por que um vem depois do outro, ou por que um é hoje e outro mais tarde. Mesmo que leia tudo sobre isso, ainda assim não saberia, creia-me.

"E, no entanto... há uma lógica profunda neles, na sequência dos dias santos. E essa sequência leva as pessoas a algum lugar — sem que elas o saibam intelectualmente. E realmente impossível compreender intelectualmente a sequência dos rituais e dias santos. Ela não é destinada a isso. O seu propósito é outra coisa, algo superior.

"Para isso deve-se estar num nível de oração, do contrário ela passa despercebida..."

"Que é oração?", perguntei.

Ele não pareceu se incomodar, quando o interrompi com a minha indagação. Muito ao contrário. "No estado de oração somos vulneráveis." Pôs enfase na última palavra e então ficou à espera até estar seguro de eu não a haver compreendido de uma forma habitual.

"Na oração somos vulneráveis, não arrebatados. E, nesse caso, esses rituais têm tanta força. Eles o atingem como uma locomotiva. Não devemos nos entusiasmar, nem rejeitar, mas apenas estar abertos. E este o objetivo real do ascetismo: tornar-se aberto."