BLOOM DOM DO AMOR

ANTHONY BLOOM — Jacob Needleman Excertos de Cristianismo Perdido, de Jacob Needleman

"Você quer saber o que em você pode responder ao sacrifício de Deus, não? Mas esse sacrifício, como você o chama, é amor. Qual é a resposta adequada ao amor?"

A princípio pensei que ele estivesse esperando uma resposta minha. E não tinha resposta alguma.

"A resposta adequada ao amor", prosseguiu ele, "é aceitá-lo. Não há nada a fazer. A resposta a um dom é... aceitá-lo. Por que quer você fazer alguma coisa?"

Vi-me olhando diretamente para ele. Não tinha em absoluto nenhum ímpeto de responder ao que ele dissera. Percebi, no entanto, algo que estava ocorrendo em meu corpo. Inteiramente por si mesmo, meu centro de gravidade físico começou a se deslocar para um ponto em meu abdome e coxas. Minhas costas se aprumaram e os meus ombros se tornaram mais soltos.

Quebrei o silêncio, repetindo minha pergunta de outra maneira, ainda que sabendo que a resposta já havia sido dada. Falei das impressões diferentes que tive nas catedrais góticas da Europa ocidental, da sensação de estar sendo puxado para cima dentro de uma escala cósmica cheia de luz. Através da leitura e da experiência pessoal, eu chegara a encarar a catedral gótica — como outros o fizeram — como um dos poucos remanescentes da gnosis cristã que sobreviveram, um exemplo de arte sacra no sentido estrito do termo, uma arte que guia o homem no sentido do conhecimento do real. Desde a qualidade da luz viva produzida pelo vidro pintado até o simbolismo alquímico da estatuária, aos imensos espaços verticais tranquilos e o automovimento ascendente das colunas — que tinham sido descritas como a espiritualização da pedra — levando ao vigor do teto de abóbadas cruzadas, tudo isso transmitia-me a sensação de grandeza e mistério. Quem concebeu e construiu essas catedrais?

E estava completamente despreparado para a resposta do metropolita Anthony:

"Eu sempre me revoltei contra o gótico", disse ele.

"E, durante muito tempo", prosseguiu, "não compreendia por quê. Mas, quando vivia em Paris, cheguei a compreender. Toda essa ânsia de ascensão ainda não é tudo.

"A igreja românica é uma ideia absolutamente diferente. Nela algo já desceu até o homem: o amor."

"O senhor está falando de um símbolo", perguntei, "ou de um fato?" Na verdade, não creio que o metropolita Anthony me tenha ouvido; devo ter falado de maneira muito indistinta. Por que teria eu falado com tal hesitação justamente sobre esse ponto que não conheço? Afinal de contas, essa era toda a questão. A gente pode ir apenas até esse ponto em relação às grandes representações simbólicas da relação entre Deus e o homem. E eu via muito claramente, nos serviços das Vésperas em Atos — uma coisa que eu vira em outras circunstâncias extraordinárias — que é muitíssimo mais raro e difícil do que se imagina uma relação entre Deus e o homem, ou entre o superior e o inferior, o contato real de forças. Certamente os grandes símbolos desse contato, se forem mal compreendidos como se fossem o próprio evento interior, poderão, de fato, nos afastar da verdade. Em que medida a degenerescência do cristianismo — e de toda religião — se deve a isso? No ritual, o objetivo não é o contato real das forças dentro do ser do indivíduo?