Gregório Palamas — Seleção de Jean Gouillard
A participação das virtudes (arete), pela semelhança que instaura, tem como resultado dispor o homem virtuoso a receber Deus. Incumbe ao poder da oração (euche) operar essa recepção e consagrar misticamente o impulso do homem para o divino e sua união com ele — pois ela é o vínculo das criaturas racionais com o seu Criador — sob a condição, no entanto, de que a oração (euche) tenha ultrapassado, graças a uma compunção (katanyxis) inflamada, o estágio das paixões e dos pensamentos (logismos). Porque um espírito apegado às paixões não poderia pretender a união divina. Enquanto o espírito orar com esse tipo de disposição, não obterá misericórdia; em contrapartida, quanto mais conseguir afastar os pensamentos (logismos), maior compunção (katanyxis) vai adquirir e, proporcionalmente à sua compunção (katanyxis), mais vai participar da misericórdia e de suas consolações. Se ele perseverar nesse estado com humildade (tapeinophrosyne), vai transfigurar inteiramente a parte apaixonada da alma (psyche).
Chegar à trindade do espírito, guardando-o uno ao mesmo tempo, e juntar a oração (euche) a essa guarda, não é tão difícil. Mas perseverar por muito tempo nesse estado gerador de inefável, é a própria dificuldade. Em comparação, o esforço de qualquer outra virtude (arete) é insignificante e leve. Eis aí por que muitos renunciam à concentração da virtude (arete) de oração (euche) e não chegam aos grandes espaços abertos dos carismas. Porém, maiores socorros divinos esperam aqueles que têm paciência; socorros que os sustentam e os fazem avançar com júbilo, tornam fácil para eles a própria dificuldade e lhes conferem uma aptidão, por assim dizer, angélica; enfim, permitem à natureza humana viver na familiaridade das naturezas que a ultrapassam. O profeta disse: "Os que têm paciência voam como águias, adquirem novas forças" ( Is 40,31 ).
Suponhamos alguém que, por assiduidade à oração (euche), tenha purificado o ato de seu espírito; tenha experimentado uma iluminação parcial, seja da luz da ciência, seja do brilho espiritual. Se achar que, por isso, está purificado, ilude-se; e, por presunção, escancara a porta àquele que só espera a ocasião de enganá-lo. Se, ao contrário, avaliar a impureza de seu coração (kardia) e, em vez de se elevar por causa dessa pureza parcial, ele se fizer meio e auxiliar seu, verá com maior nitidez a impureza das outras potências da alma (psyche); progredirá na humildade (tapeinophrosyne), aumentará continuamente a compunção (katanyxis) e descobrirá os remédios apropriados a cada potência da alma (psyche). Por meio da ação (praxis), purificará as faculdades ativas; através da ciência, as faculdades de conhecimento; pela oração (euche), a faculdade contemplativa. Esse itinerário o conduzirá à pureza perfeita, verdadeira, estável, do coração (kardia), e do espírito. Ninguém poderia conseguir isso, a não ser pela perfeição da ação (praxis), da contrição perpétua, da contemplação (theoria) e da oração (euche) contemplativa.