logikos — inteligente
Rogo-vos, pois, irmãos, pela compaixão de Deus, que apresenteis os vossos corpos em sacrifício vivo, santo e agradável a Deus, que é o vosso culto racional (logikos). (Rom 12:1)
Desejai afetuosamente, como meninos novamente nascidos, o leite racional (logikos), não falsificado, para que por ele vades crescendo; (1Pe 2:2)
Tão conectado ao termo logos e portanto com o Intelecto divino, que traduzi-lo simplesmente como “lógico”, e assim descritivo da razão — dianoia —, não é adequado. Dada sua pertinência ao intelecto — noûs — qualifica o detentor com um conhecimento espiritual — gnosis -. Assim quando em conjunção com alma — logike psyche —, logikos é traduzido como “deiforme” ou como “dotado de inteligência”. Inteligência ela mesma (to logikon; to logistikon; ho logismos) é o aspecto ordenador do intelecto — noûs — ou sua faculdade operativa. (Tradução inglesa da Philokalia)
Estas faculdades dos sentidos, quer externos, quer internos, são as superiores nos brutos, ao passo que no homem servem à mente, que, partindo do conhecimento da imaginação e da fantasia eleva-se mais alto, ou seja até conhecer as coisas espirituais.
Porém, encerrada como ela está no excurso cárcere corpóreo, e cercada de trevas, vê-se privada da inteligência de muitos objetos; não pode olhar nem entender com toda clareza o que desejaria, isto é, a essência das coisas envoltas na matéria, a qualidade de índole do imaterial, tampouco empregar sua suspicácia e sua viveza dentro daquela obscuridade. A tal altura não chega nenhuma das faculdades dos animais, porque não é capaz de voltar-se sobre si mesma jamais, nem pensa ou julga coisa alguma que se ache acima dos sentidos do corpo.
Daquele conhecimento dos objetos supremos, os mais excelentes da natureza, pelos quais chega a mente até o próprio autor de todas as coisas, nasce o amor por elas. Daqui a pugna e luta entre a mente e a fantasia: esta arrasta a alma para o corpóreo, aquela tende para o mais elevado, às coisas supremas não compreendidas por nenhum sentido nem pela fantasia, detendo esta em sua marcha errante e divagadora através de caminhos infindáveis e pervertidos, e trazendo-a ao verdadeiro.
A aspiração inteira da mente não se inclina ante a utilidade ou dano presente, mas recorda o passado e conjetura acerca do futuro; procura o juízo do verdadeiro e do falso, coisa de que o animal não se preocupa, atento só a olhar o que convém ao corpo e o que pode causar-lhe dano, sem outra coisa que o arrebatamento da fantasia.
Dessa potência da mente emana a fonte e origem da linguagem, expressão de quanto nela está contido e faculdade de que carecem os brutos, que por isso se chamam “mudos”, segundo explicaremos pormenorizadamente a seguir. Quanto à questão que ora nos ocupa a definiremos pela ordem seguinte, para não trazer confusão à inteligência de coisas tão difíceis e abstrusas: “A vida dotada de mente, isto é, de prudência, de juízo, de razão, chamada antigamente logike e por nós vida racional, é a que, sendo criada para conhecer Deus, e portanto para amá-lo, tem por fim a felicidade eterna adquirida por esses meios”. ( Juan Luis Vives )
A designação “lógica” é a abreviatura da expressão grega “λογική”. Esta expressão significa: o que diz respeito ao λόγος. Deve-se acrescentar “ἐπιστήμη”; ἐπιστήμη λογική é o saber que diz respeito ao λόγος. A lógica, enquanto ἐπιστημη λογική, significa o compreender-se com base no λογος. Porém, “λόγος” significa, em geral, o dizer e o falar, e dizer e falar com um significado muito especial, num sentido compreendido de um modo muito especial, designadamente como λόγος αποφαντικός. É aquele dizer que tem em si a realização e a tendência do indicar, do mostrar. A essência do enunciado está no λόγος presentificador e indicador. O enunciado é um tipo de falar muito especial – diferente da fala no sentido do ordenar, do exigir, do pedir, do louvar, do propor, do repreender,
Ο λογος enunciativo diz como uma coisa é e como se comporta. Por conseguinte, a lógica trata deste enunciar.Tal enunciar é pronunciado, anunciado e repetido por outros. Os enunciados pronunciados são depositados em frases. Estas podem também ser escritas e conservadas naquilo que está escrito. Ο λόγος é então, em certo sentido, algo que, tal como as árvores, os montes, as florestas, etc., sempre há, algo que está presente (vorhanden), que é susceptível de ser encontrado.
Os enunciados podem assim ser captados imediatamente e compreendidos na reflexão. Pode-se dizer que aspecto tem um tal enunciado enquanto enunciado. Em tal definição, crescem um determinado conhecimento do enunciado, a descoberta da sua boa execução e um ser versado, por exemplo, em argumentar e contra-argumentar: numa contenda, permanecer, no modo de dizer, à altura do outro.
Abstraímos aqui, à partida, dos diferentes impulsos. Começamos aqui por considerar apenas o modo geral como a lógica foi inicialmente, por assim dizer, captada no olhar.
A meditação sobre ο λόγος iniciou-se no fim da era da grande filosofia, em Platão e Aristóteles. Houve, à partida, quatro perspectivas que se tornaram condutoras para esta primeira tomada de conhecimento do λόγος, tendo ο λόγος sido investigado em quatro diferentes modos de proceder. (Martin Heidegger, Lógica – A pergunta pela essência da linguagem (GA38))