qualidade

A doutrina da qualidade foi exposta por Aristóteles principalmente nas Categorias (c.8) e secundariamente na Metafísica (L.5, c.14). A mais simples observação desses textos manifesta que o filósofo procedeu, segundo seu costume, por uma análise empírica, colecionando e classificando as principais modalidades de ser que pareciam suscetíveis de se alinhar nessa categoria. A forma sistemática tomada pela exposição clássica dessa questão é obra de seus comentadores, notadamente Tomás de Aquino.

Natureza da qualidade. Os gêneros supremos, a bem dizer, não se definem; são noções primitivas das quais se trata somente de ter uma visão distinta. Aristóteles leva a isto no caso que nos interessa, convidando a considerar o efeito da categoria; a qualidade é o que, concretamente, “qualifica” a coisa:

qualitas est secundam quam res quales dicuntur.

O fato de “qualificar” um sujeito pertence em uma coisa à sua forma, que lhe confere ser tal coisa especificamente distinta de outras coisas. Mas esta determinação primeira não é suficiente para assegurar a perfeição de um ser, esta requerendo qualificações adventícias que pertencem à ordem dos acidentes: é por esta razão que se distinguem qualidades provenientes de um predicamento especial.

Como este se distingue dos outros predicamentos acidentais? Em um sentido bastante geral pode-se dizer que todos os acidentes determinam o sujeito, mas todos não o “qualificam”, não o tornam intrínseca e formalmente “tal”. Assim, tornar divisível, estender as partes (o que diz respeito à quantidade) não é manifestamente “qualificar”; quantidade e qualidade são, portanto, realmente distintas. Quanto aos outros predicamentos, se, de alguma maneira, podem ser ditos qualificar o sujeito, apenas o fazem do exterior, ou em referência a qualquer coisa de outro sujeito. Só a qualidade no sentido estrito, a cor, por exemplo, ou as disposições virtuosas, “qualificam” absoluta e intrinsecamente o sujeito substancial. Está-se, pois, perfeitamente autorizado a considerar a qualidade como uma categoria a parte.

– As espécies de qualidade.

Aristóteles, no livro das Categorias, (c. 8), distingue quatro espécies de qualidade, que Tomás de Aquino organiza em três grupos (Ia IIae, q. 49, a. 2).

Em relação à natureza mesma do sujeito substancial, a qualidade toma os nomes de disposição e de habitus (1a espécie de qualidade); estes modos de qualidade se diversificam por sua vez em bons ou maus segundo são, ou não são, ordenados à perfeição da natureza considerada. A disposição se distingue do “habitus” pela menor estabilidade que implica. Exemplo de habitus: as artes, as ciências, as habilidades manuais, as virtudes.

Segundo a ordem à atividade ou à passividade, encontramos a segunda e a terceira espécies de qualidade: a potência e a impotência (2a espécie de qualidade) que afetam o sujeito enquanto este é suscetível ou não suscetível de ter uma atividade; por exemplo, a inteligência, a imaginação; a vontade; as qualidades passíveis (passibiles qualitates) (3a espécie de qualidade): isto é, as qualidades que afetam imediatamente os sentidos e que se encontram no princípio e no termo das alterações físicas; no peripatetismo eram aí alinhadas, o quente, o frio, o seco, o úmido, etc.

Enfim, em relação à quantidade concreta deve-se ainda distinguir a forma e a figura (4a espécie de qualidade), que terminam e dispõem a quantidade, a qual requer necessariamente ser limitada. Exemplo: uma figura esférica, a forma de um vaso. (Gardeil)