Espírito Santo [RPET]

Segundo o terceiro evangelista, quando Jesus tomou a palavra na sinagoga de Nazaré, disse: “O Espírito do Senhor está sobre mim, porque me ungiu” (Lc 4, 18; Is 61,2). Com seu “recurso” ao AT através do texto de Isaías, dava testemunho Jesus de que a unção recebida do Espírito Santo, a qual o convertia em Cristo (ungido), era um ato próprio do Espírito, e como tal Cristo foi conhecido desde o princípio, e não só em Abraão, senão também em Isaías, quando este “viu sua glória e falou de Cristo”, e por ele foi enviado.

Talvez por isso, na parábola do Amigo Importuno, Jesus propõe “buscai e encontrareis”, o que sempre encontrará o homem, em sua busca, é o Espírito Santo, pois segundo se afirma em Lucas, o Espírito é o que o Pai não nega nunca aos que lho pedem.

  • Com certo eufemismo, Mateus chama o Espírito Santo, em lugar paralelo, “coisas boas”: “Se vós, pois, sendo maus, sabeis dar boas dádivas a vossos filhos, quanto mais vosso Pai, que está nos céus, dará boas coisas aos que lhas pedirem?” (Mt 7:11).

Mas que significa isso de “receber” o Espírito Santo? Segundo se conta no evangelho joanico, os discípulos de Jesus “receberam” o Espírito Santo ao tempo que eram “enviados”, porém não se diz ali se o Espírito pousou sobre eles e os ungiu, tal como ocorreu com Jesus no Batismo.

No que se refere ao Espírito, o ensinamento do evangelho é muito comprimido e difícil, mas para apreender o duplo sentido do Cristo, que pode ser oculto e manifesto e que o quarto evangelho enfrenta, devemos aprofundar em seu estudo. Poderemos “ver” então que o duplo sentido em que pode ser “indicado” o Cristo não significa dualidade; senão em todo caso a pluralidade de raios com que pode se oferecer o Cristo oculto.

Em uma passagem de inestimável valor didático diz Paulo Apostolo que “o Espírito se une a nosso espírito para dar testemunho de que somos filhos de Deus” (Rm 8,16). O que sem dúvida quer dizer o Apóstolo é que o espírito, a essência de todo homem, é da mesma natureza do Espírito de Deus; e é esta identidade de natureza com o Espírito a que uma vez consumada nos qualifica a todos os homens como filhos de Deus. Pelo contrário, quando a alma, a consciência psíquica, ignora sua própria essência e não consuma a realidade dessa identidade de natureza com o Espírito, só se pode dizer desse homem psicofísico que é o filho adotivo de Deus.

  • Esta é a interpretação que se pode dar a Rm 8,15 que seguimos: “Porque não recebestes o espírito de escravidão, para outra vez estardes com temor, mas recebestes o espírito de adoção, pelo qual clamamos: Abba, Pai!”.

Em ocasiões, esse homem de consciência psíquicase volta” para o espírito que é ele, seu verdadeiro Ser, mas que não conhece. Então o busca, o invoca, para acalmar sua angústia de solidão. No curso dessa tribulação queima a alma todos os materiais grosseiros que a conformam por aderência, em uma fogueira na qual o único incombustível é a essência, o espírito. É este o ponto em que o Espírito se une ao espírito, como o mar reúne a uma única gota de sua mesma água em seu seio. Com isto recebe a alma ao Espírito de Deus, e com ele, o testemunho de sua filiação divina. Por isto diz Paulo: “Todos os que são guiados pelo Espírito de Deus, são filhos de Deus” (Rm 8,14). [Roberto Pla: Evangelho de Tomé – Logion 44; Evangelho de Tomé – Logion 92]