Ele escolheu conduzir nos montes uma vida solitária, afastada do tumulto das praças e dedicada a guardar os rebanhos no deserto. A história nos conta (Ex 3, 1-6) que, passado algum tempo nesta vida, Moisés recebeu uma surpreendente aparição de Deus: em um tranqüilo meio dia, reluziu ante seus olhos uma luz mais forte que a luz do sol; estranhando o inusitado do espetáculo, levantou os olhos para o monte e viu um arbusto do qual saia um resplendor como de fogo. Como os ramos da planta estavam verdes como se as chamas fossem orvalho, disse a si mesmo estas palavras: vamos e vejamos este grande espetáculo. Isto nos diz que o prodígio da luz não somente se mostrou a seus olhos mas, o que é mais impressionante de tudo, seus ouvidos foram iluminados com os resplendores da luz. Com efeito, a graça da luz foi distribuída a ambos os sentidos: os olhos foram iluminados com os resplendores da luz, e os ouvidos foram levados à luz com instruções puríssimas. Isto é, a voz que saía daquela luz proibiu Moisés de aproximar-se do monte com calçados feitos de peles mortas; quando ele livrou seus pés dos calçados, tocou assim aquela terra que estava iluminada com a luz divina. Depois dessas coisas, não julgo oportuno que o discurso se entretenha muito na história deste homem, para ater-nos mais a nosso propósito, fortalecido com a teofania que vira, recebeu a missão de livrar o seu povo da escravidão dos egípcios. E para que melhor se convencesse da força que recebia do alto, ele, por disposição de Deus, faz a experiência com o que tem nas mãos. Esta foi a experiência: o bastão que sua mão deixou cair se animou, e quando foi retomado por suas mãos, voltou a ser o que era antes de transformar-se em animal. Depois o aspecto de sua mão quando a tira do seio se transforma em um branco como de neve, e reintroduzida ao seio recobra seu aspecto natural (Ex 4, 2-7). Quando Moisés descia do Egito levando consigo sua esposa, que era estrangeira, e os filhos que tinha tido com ela, conta-se que um anjo saiu-lhe ao encontro causando-lhe um medo de morte, e que a mulher o aplacou com o sangue da circuncisão do menino. Foi então que ocorreu o encontro com Aarão que fora impelido por Deus para este encontro (Ex 4, 24-28). Ambos convocam então o povo para uma assembléia geral e anunciam aos que estavam oprimidos pelo padecimento dos trabalhos, a libertação da escravidão. Sobre este tema ele teve uma conversa com o tirano. Por causa dessas coisas, aumentou a cólera do tirano contra os que dirigiam os trabalhos e contra os israelitas: aumentou então o tributo de ladrilhos, e enviou uma ordem mais pesada, de forma que os israelitas não só padeciam pelo barro, mas também eram sobrecarregados por causa da palha e das canas (Ex 5, 1-23). Depois o Faraó, este era o nome do tirano egípcio, tentou fazer frente, com os encantamentos dos feiticeiros, aos prodígios que eles faziam pela vontade de Deus. Quando Moisés tornou a converter seu bastão em animal ante os olhos dos egípcios, a magia pareceu realizar o mesmo prodígio nos bastões dos magos. Porem o engano foi desmascarado, pois a serpente surgida da transformação do bastão de Moisés, ao comer os troncos dos magos, isto é, as serpentes, demonstrou assim que os bastões dos magos não tinham nenhuma força para se defender e nem para viver, mas apenas a aparência de um truque mágico para verem os olhos daqueles que eram fáceis de enganar (Ex 7, 8-12). Quando Moisés viu que todos os súditos estavam de acordo com o príncipe da maldade, fez vir uma praga geral sobre todo o povo egípcio, sem que ninguém escapasse da experiência dos males. E para infligir este castigo aos egípcios, cooperaram com ele os mesmos elementos que vemos no universo: a terra, a água, o ar, o fogo, que trocaram suas forças conforme a vontade dos homens. HISTÓRIA DE MOISÉS 2.
Moisés olhava para a nuvem e ensinava o povo a seguir este fenômeno. Então chegaram ao mar Vermelho. Ali, enquanto a nuvem dirigia a marcha, as tropas dos egípcios cercaram completamente o povo por traz, sem lhe deixar possibilidade de escapar por nenhuma parte, encurralado entre seus terríveis inimigos e o mar. Foi então que Moisés, reconfortado com a força divina, fez o mais incrível de tudo. Tendo se aproximado da margem, golpeou o mar com seu bastão. O mar se fendeu com o golpe. E, como costuma acontecer com o vidro que começando a se rachar em uma parte a fenda chega diretamente até o outro extremo, assim, fendido todo aquele mar em uma extremidade pelo bastão, a fenda das ondas se estendeu até a margem oposta. Onde o mar se havia dividido, Moisés desceu até o fundo; junto com todo o povo, estava nas profundezas, com o corpo enxuto e iluminado pelo sol. No fundo seco do mar, atravessou a pé os abismos, sem temer aquela muralha de ondas que se haviam formado de um lado e de outro: uma fortificação reta, feita dos lados deles, da solidificação do mar (Ex 14, 19-22). Porem, quando o Faraó entrou com os egípcios no mar pelo caminho aberto recentemente entre as ondas, as águas se uniram novamente com as águas; o mar fechando-se sobre si mesmo segundo sua forma primitiva, mostrou a superfície da água novamente unida, enquanto os israelitas, na margem oposta, se refaziam do grande esforço de sua marcha através do mar. Então cantaram a Deus um canto de vitória por haver erguido para eles um troféu sem derramamento de sangue, posto que os egípcios haviam sido aniquilados sob as águas com todo seu exército, seus cavalos, seus carros e suas armas (Ex 14, 26-15, 21). Depois disto, Moisés continuou avançando e, após haver percorrido durante três dias um caminho sem água, encontrou-se em grandes dificuldades ao não ter como saciar a sede do exército. Havia uma lagoa de água salobra, mais amarga que a água do mar, ao redor da qual acamparam. Estavam ali sentados em torno da água, devorados pela ânsia de água. Moisés, impelido por uma inspiração divina, tendo encontrado um pedaço de pau naquele lugar, atirou-o na água que, imediatamente, se converteu em potável pela própria força daquele lenho, que transformou a natureza da água de salobra em doce (Ex 15, 22-25). Posto que a nuvem empreendesse novamente a marcha para adiante, eles se puseram também em marcha seguindo o movimento de seu guia. Faziam sempre o mesmo, parando onde a detenção da nuvem lhes dava o sinal de descanso, e empreendendo a marcha precisamente quando a nuvem recomeçava a guia- los. Seguindo este guia, chegaram a um lugar regado por água potável, banhado generosamente por doze fontes e que recebia a sombra de um bosque de palmeiras. As palmeiras eram setenta. Apesar de número tão pequeno, bastavam para produzir grande admiração a quem as olhava porque eram de excepcional beleza e altura (Ex 15, 27). Tendo o guia se posto novamente em movimento, isto é, a nuvem conduz o exército dali para outro lugar. Este era um deserto de areia seca que queimava, sem uma única gota de água que umedecesse aquele lugar. Aqui o povo foi atormentado novamente pela sede. Uma pedra situada a uma certa altura, golpeada com a vara por Moisés, deu água doce e potável mais que suficiente para a necessidade do exército (Ex 17, 1-6). Ali mesmo se acabou a provisão de alimentos que haviam trazido do Egito para o caminho. O povo foi acossado pela fome e teve lugar o milagre maior de todos: o alimento não lhes brotava da terra como seria natural, mas vinha gotejado de cima, do céu, em forma de orvalho. Pois ao amanhecer do dia caía para eles um orvalho. Este orvalho se convertia em alimento para os que o recolhiam. O que caía não eram gotas líquidas de água, como ocorre normalmente com o orvalho, mas em lugar de gotas de água caíam grãos parecidos com gelo; sua forma era redonda como semente de coentro, e seu sabor parecia a doçura do mel (Ex 16, 14). HISTÓRIA DE MOISÉS 4.
Moisés chegou então a isto, e agora chega também todo aquele que, seguindo seu exemplo, despoja a si mesmo de sua envoltura terrena e olha para a luz que sai da sarça, isto é, o raio de luz que nos ilumina através da carne cheia de espinhos, que é, como diz o Evangelho, a luz verdadeira (Jo 1, 19) e a verdade (Jo 14, 6). Então este chega a ser capaz de prestar ajuda aos demais no sentido da salvação, de destruir a tirania daquele que domina com artes más, e de encaminhar à liberdade os que estão debaixo da tirania de perversa escravidão. A transformação da mão direita e a mudança do bastão em serpente (Ex 4, 3-7) são o começo dos prodígios. Parece-me que nestes prodígios se dá a entender simbolicamente o mistério da manifestação da Divindade aos homens através da carne do Senhor, graças à qual tem lugar a destruição do tirano e a libertação dos que estão oprimidos por ele. Leva-me a esta interpretação o testemunho profético e evangélico. Pois o profeta diz: Esta é a mudança da destra do Altíssimo (Sal 76, 11), como se a Divindade, considerada imutável, se houvesse mudado conforme nosso aspecto e figura por condescendência para com a debilidade da natureza humana. A mão do Legislador tomou uma cor distinta da que lhe é natural ao ser tirada do peito; voltando novamente ao peito, tornou à beleza que lhe era própria e natural. O Deus Unigênito, o que está no seio do Pai (Jo 1, 18), é a direita do Altíssimo (Sal 76, 11). Quando se manifestou a nós saindo do seio, se transformou conforme nossa forma de ser; depois de haver curado nossa enfermidade, novamente recolheu ao próprio seio, o seio da direita do Pai, a mão que havia estado entre nós e que havia tomado nossa cor. Então não tornou passível o que era de natureza impassível, mas por sua comunicação com o que era impassível transformou em impassibilidade aquilo que era mutável e passível. A transformação do bastão em serpente não há de perturbar os amigos de Cristo como se tivéssemos que harmonizar a palavra do mistério com um animal que lhe é oposto (Ex 4, 3; 7, 10 e Nm 21, 9). A verdade mesma não afasta esta imagem quando diz com a voz do Evangelho: Como Moisés levantou a serpente no deserto, assim é necessário que seja levantado o Filho do homem (Jo 3, 14). O sentido é claro. Se o pai do pecado foi chamado serpente pela Sagrada Escritura (Gn 3, 1), e o que nasce da serpente é verdadeiramente serpente, segue-se que o pecado tem o mesmo nome daquele que o gerou. Pois bem, a palavra do Apóstolo dá testemunho de que o Senhor se fez pecado por nós (2Co 5, 21), ao revestir-se de nossa natureza pecadora. O símbolo se acomoda ao Senhor como foi dito. De fato, se a serpente é pecado e o Senhor se fez pecado, a conseqüência que se segue será evidente a todos : que quem se fez pecado, se fez serpente, a qual não é outra coisa senão pecado. Se fez serpente por nós para comer e destruir as serpentes dos egípcios produzidas pelos magos. Uma vez feito isto, a serpente se transforma novamente em bastão (Ex 7, 12) com o qual são castigados os que pecam, e são aliviados os que sobem o caminho escarpado da virtude, apoiando-se no bastão da fé por meio das boas esperanças. A fé é, na verdade, a substância das coisas que se esperam (Hb 11, 1). Quem chegou ao entendimento destas coisas é como um deus em relação àqueles que, seduzidos pela ilusão material e sem substância, opõem-se à verdade e julgam coisa vã escutar falar a respeito do ser. Pois disse o Faraó : Quem é ele para que eu escute sua voz? Não conheço o Senhor (Ex 5, 2). O Faraó só julga digno aquilo que é material e carnal, as coisas que caem sob as sensações irracionais. Ao contrário, se alguém tiver sido fortalecido pela iluminação da luz, e tiver recebido tanta força e tanto poder contra os adversários, então, como um atleta convenientemente preparado por seu treinador nos varonis exercícios do esporte, se dispõe, confiante e audaz, para o ataque dos inimigos, tendo na mão aquele bastão, isto é, o ensinamento da fé, com o que há de triunfar sobre as serpentes egípcias. A mulher de Moisés, saída de um povo estrangeiro (Ex 4, 20), o acompanhará. Há algo nada desprezível da cultura pagã para nossa união com ela com a finalidade de gerar a virtude. Com efeito, a filosofia moral e a filosofia da natureza podem chegar a ser esposa, amiga e companheira para uma vida mais elevada, com a condição de que os frutos que procedem delas não conservem nada da imundície estrangeira. Pois se esta sujeira não tiver sido circuncidada e cortada ao meio até o ponto em que todo o daninho e impuro haja sido arrancado fora, o anjo que lhes sai ao encontro lhes causará um terror de morte. A mulher o aplaca mostrando-lhe seu filho purificado pela ablação do sinal pelo qual se reconhece o estrangeiro (Ex 4, 24-26). Julgo que a quem esteja iniciado na interpretação da história será patente, por tudo que se disse, a continuidade do progresso na virtude que mostra o discurso seguindo, passo a passo, a conexão dos acontecimentos simbólicos da história. INTERPRETAÇÃO MÍSTICA DA VIDA DE MOISÉS 4.
O ensinamento da verdade é acolhido segundo as disposições dos que recebem a palavra. De fato, a palavra mostra a todos o que é bom e o que é mau. Pois bem, quem é dócil àquilo que lhe é mostrado tem a mente na luz, enquanto que quem tem a disposição contrária e não aceita que a alma olhe para a luz da verdade permanece na obscuridade da ignorância. Se a interpretação que demos ao conjunto da passagem não estiver errada, então a interpretação dada a cada um dos detalhes não lhe será totalmente oposta, pois a exegese de cada um deles está compreendida no conjunto. Portanto, não há nada de estranho em que o hebreu permanecesse incólume diante das pragas dos egípcios, embora estivesse vivendo no meio desses estrangeiros, posto que também agora é possível ver que sucede a mesma coisa. De fato, estando divididos os homens nas grandes cidades entre doutrinas contrárias, para uns a água do manancial da fé é potável e límpida, e a conseguem mediante o ensinamento divino, enquanto a água se torna sangue corrompido para aqueles que se converteram em egípcios por causa de suas perversas opiniões (Ex 7, 20). Muitas vezes os sofistas do erro rondam também a água dos hebreus para converte-la em sangue com a contaminação da mentira, isto é, para mostrar-nos que nossa doutrina não é como é, porem não conseguem corromper totalmente a água, embora a superfície fique avermelhada por causa do erro. Ainda que esteja caluniada pelos inimigos, o hebreu bebe água verdadeira, sem prestar atenção à aparência de erro. O mesmo cabe dizer da espécie de rãs (Ex 8, 1-6), ruidosa e maléfica, que se introduz sub- reptíciamente nas casas, habitações e dispensas dos egípcios, sem chegar a tocar a vida dos hebreus: sua vida é anfíbia, seu salto rasteiro; é repugnante não só por seu aspecto como também pelo fedor de sua pele. Os desastrosos frutos da maldade que surgem do coração sujo dos homens como gerados no pântano, são certamente como uma espécie de rãs. Estas rãs habitam as casas de quem se fez egípcio por escolha de seu estilo de vida; se deixam ver às mesas, não abandonam os leitos e se introduzem nas dispensas onde se guardam as coisas. Considera a vida suja e desavergonhada, nascida de um verdadeiro limo pantanoso, que, ao imita-lo, se assemelha à natureza irracional. Falando com rigor, em seu estilo de vida, não pertence a nenhuma das duas naturezas, pois é homem segundo sua natureza, porem se transformou em besta por sua paixão. Por esta razão mostra em si mesma aquele modo de vida anfíbio e ambíguo. E assim encontrarás nessa vida os sinais desta praga, não só nos leitos, mas também nas mesas, nas dispensas e em toda a casa. Um homem assim deixa, por onde quer que vá, o rastro de sua vida dissoluta, de forma que todos podem distinguir facilmente a vida do homem licencioso da vida do homem puro, inclusive na decoração da casa. De fato, na casa do impuro, sobre o reboco das paredes, encontra-se pinturas feitas com habilidade, que, ao trazer à memória as formas da debilidade, excitam ao prazer sensual e introduzem as paixões na alma através da contemplação de coisas vergonhosas, enquanto que na casa do sábio, pelo contrário, há todo o cuidado e cautela para manter a vista livre de espetáculos obscenos. Do mesmo modo a mesa do sábio se encontra limpa, enquanto que a do que se espoja em uma vida lodosa está suja como as rãs, e transbordante de comidas. E assim se entrasses nas dispensas, isto é, nas coisas ocultas e reservadas de sua vida, encontrarias ali, nas intemperanças, um montão ainda maior de rãs. A história diz que o bastão da virtude fez estas coisas contra os egípcios. Não nos desconcertemos por esta forma de falar. Também diz a história que o tirano foi endurecido por Deus (Ex 9, 12 e Rm 9, 17- 18). Como seria digno de condenação aquele que tivesse sido feito duro e refratário por uma força irresistível vinda do alto? O divino Apóstolo diz a mesma coisa: Posto que não tivessem por bem guardar o verdadeiro conhecimento de Deus, Deus os entregou às paixões vergonhosas (Rm 1, 28 e 26), falando dos pederastas e de quantos se envilecem com as diversas formas vergonhosas e inconfessáveis da vida dissoluta. Porém, embora seja verdade que a divina Escritura se expressa dizendo que Deus entregou às paixões vergonhosas aqueles que se entregaram a elas, nem o Faraó se endureceu por querer divino, nem a vida sórdida, própria das rãs, é causada pela virtude. De fato, se a Divindade tivesse querido isto, tal querer teria tido absolutamente a mesma força sobre todos, de forma que jamais se poderia estabelecer diferença alguma entre virtude e vício. Ao contrário, uns e outros, os que são dirigidos pela virtude e os que caem no vício, vivem de formas diferentes, e ninguém poderá, racionalmente, atribuir a uma fatalidade estabelecida pelo querer divino estas diferenças no modo de viver, que surgem exclusivamente da livre escolha de cada um. INTERPRETAÇÃO MÍSTICA DA VIDA DE MOISÉS 9.
Vejamos claramente pelo Apóstolo quem é o entregue à “paixão vergonhosa”: quem não quis guardar o verdadeiro conhecimento de Deus (Rm 1, 28). Não significa que Deus o entrega à paixão para castiga-lo por não ter querido conhece-lo, mas que o não falar reconhecido a Deus se converte para ele em motivo de cair em uma vida sensual e vergonhosa. É como se alguém dissesse que o sol fez cair uma pessoa no buraco porque não o viu. Nós não pensaríamos que o astro, cheio de ira, tenha lançado no buraco quem não o tenha querido ver, senão que esta expressão deve ser entendida corretamente no sentido de que a privação de luz tenha sido a causa da queda no buraco daquele que não o viu. Talvez seja esta a forma correta de entender as palavras do Apóstolo: que os que não tinham o conhecimento de Deus foram entregues às paixões vergonhosas e que o tirano egípcio foi endurecido por Deus, não como se a dureza tivesse sido introduzida no coração do Faraó pelo querer divino, mas sim no sentido de que por livre escolha, por sua inclinação para o mal, não acolheu a palavra que abranda a dureza. Também é assim com o bastão da virtude ao mostrar-se ante os egípcios, faz o hebreu livre da vida das rãs e, ao contrário, mostra o egípcio cheio desta praga. Chega então um momento em que Moisés estende as mãos sobre estes, e produz o desaparecimento das rãs (Ex 8, 9). Podemos ver que isto também acontece agora. De fato, quem conheceu a extensão das mãos do Legislador, – compreendes muito bem o que te diz este símbolo, entendendo como Legislador o verdadeiro Legislador, e pela extensão das mãos Aquele que estendeu suas mãos na cruz-, estes, ainda que até pouco tempo tenham vivido em pensamentos sujos e próprios de rãs, se olham para quem estende suas mãos em seu favor, são libertados dessa companhia perversa, pois a paixão morre e se dissolve. De fato, para os que foram sanados desta enfermidade, depois da morte desses movimentos próprios de répteis, a lembrança das coisas vividas anteriormente parece desagradável e fora de lugar, pois repugna a suas almas por causa da vergonha, conforme diz o Apóstolo a quem, depois de abandonar a maldade, busca a virtude: Que frutos recebestes então das coisas que agora vos envergonham? (Rm 6, 21). Entendemos de forma parecida o fato de que, por obra do bastão, o dia se escureceu aos olhos dos egípcios, enquanto seguia brilhando com o sol para os olhos dos hebreus (Ex 10, 21-22). INTERPRETAÇÃO MÍSTICA DA VIDA DE MOISÉS 10.
Como pode a história estabelecer uma lei contrária à razão? Considerando a interpretação espiritual, não será mais razoável crer que isto sucede como figura e que, através do que foi dito, o Legislador quis propor um ensinamento? O ensinamento é este: que quem se empenha na luta da virtude contra o vício deve faze-lo desaparecer em seus primeiros brotos. De fato, com a destruição dos primeiros brotos, se destroi também o que lhes segue em continuação, como nos ensina o Senhor no Evangelho, ordenando quase com as mesmas palavras destruir os primogênitos dos vícios egípcios; exorta-nos assim a cortar a concupiscência e a ira (Mt 5, 22 e 28), e a não ter medo nem da sujidade do adultério, nem da mancha do homicídio, pois nenhum destes males tem consistência por si mesmo, mas que é a cólera que leva a cabo o homicídio e o desejo é que conduz ao adultério. Precisamente porque aquele que engendra o mal, antes do adultério produziu o desejo e antes do crime produziu a cólera, quem destroi o primogênito destroi totalmente a descendência que segue o primogênito, do mesmo modo que quem golpeou a cabeça da serpente matou com o mesmo golpe o corpo que rasteja atrás. Porem isto não poderia acontecer se previamente não tivessem sido borrifadas as ombreiras das portas com aquele sangue que afugenta o Exterminador (Ex 12, 23). E se queremos captar com maior exatidão o sentido de quanto se diz, a história no-lo insinua através destas coisas: através da morte do primogênito e através da proteção da entrada com o sangue. Ali, com efeito, se destroi o primeiro movimento do mal e aqui mesmo, pelo verdadeiro cordeiro, se afasta a primeira entrada do mal em nós. Pois uma vez que o exterminador esteja dentro, não o expulsaremos com um simples pensamento; vigiemos com a Lei, para que nem se quer comece a entrar em nós. A vigilância e a segurança consistem em sinalizar com o sangue do cordeiro o montante e as ombreiras da entrada (Ex 12, 22). A Escritura nos explica estas coisas da alma com figuras; também a ciência profana as intuiu ao distinguir a alma em seu aspecto racional, concupiscível e irascível. Deles – diz – o irascível e o concupiscível estão abaixo, sustentando cada um a parte racional da alma, e assim a parte racional, tendo subjugadas as outras duas, as governa e, por sua vez, é sustentada por elas: é impulsionada ao valor pelo apetite irascível e é elevada pelo apetite concupiscível à participação no bem. Enquanto a alma se encontra estabilizada nesta disposição, estando segura por pensamentos virtuosos como se fossem cavilhas, dá-se uma cooperação para o bem de todas as faculdades entre si: a parte racional dá segurança por si mesma às partes que lhe estão submetidas e, por sua vez, recebe o mesmo benefício da parte delas. Porem se a ordem for invertida e o que está acima passar par baixo, caindo para a parte em que é pisada, a razão fará subir sobre si as disposições concupiscível e irascível, e então, o exterminador entrará no interior, sem que se oponha a ele nenhum repúdio proveniente do sangue, isto é, sem que a fé em Cristo ajude no combate àqueles que se encontram nestas disposições. Manda borrifar com sangue primeiro o montante, e besuntar depois as ombreiras de um lado e outro. Como poderia alguém untar primeiro o que está acima, se não estivesse em cima? Não estranhes se estes dois episódios – a morte dos primogênitos e a aspersão do sangue – não acontecem igualmente aos israelitas, e não repudies, por causa disto, nossa consideração a respeito da destruição do mal, como se estivesse fora da verdade. Interpretamos a diferença entre os nomes hebreu de egípcio como a diferença entre a virtude e o vício. Se, pois, o sentido espiritual sugere entender o israelita como o bom, não seria coerente que alguém tentasse matar as primícias dos frutos da virtude, mas aquelas cuja destruição é mais útil que sua conservação. Assim pois, coerentemente, aprendemos com Deus que é necessário destruir as primícias da estirpe egípcia, para que seja destroçado o mal, aniquilado com a destruição de seus primeiros brotos. Esta interpretação está de acordo com a história. A proteção dos filhos dos israelitas tem lugar por meio da aspersão do sangue para que o bem chegue à plenitude; por outro lado, aquele que ao amadurecer haveria de constituir o povo egípcio, este é destruído antes que chegue à plenitude no mal. O que segue está de acordo com a interpretação espiritual que propusemos, acomodando-se ao sentido do discurso. Prescreve-se, com efeito, que se converta em nosso alimento o corpo daquele do qual fluiu este sangue que, mostrado nos montantes das portas, afasta o exterminador dos primogênitos dos egípcios. A atitude dos que levam à boca esta comida há de ser sóbria e conforme com pessoas que têm pressa, não como a que se vê naqueles que se divertem em banquetes, cujas mãos estão soltas, as vestes sem cingir, os pés livres de calçados de viagem. Aqui tudo é o oposto. Os pés estão aprisionados nos sapatos, o cinturão cinge as pregas da túnica aos rins e, na mão, o bastão que defende dos cães (Ex 12, 11). E neste atavio, a comida é posta diante deles sem nenhuma preparação complicada, mas elaborada apressadamente sobre o fogo, de forma improvisada. Os convidados a devoram rapidamente, a toda pressa, até que todo o corpo do animal tenha sido consumido. Comem tudo o que é comestível em redor dos ossos, porem não tocam no que está dentro, pois é proibido romper os ossos deste animal. O que sobra de comida é consumido pelo fogo (Ex 12, 9-10 e Nm 9, 12). De tudo isto se depreende com clareza que a Escritura está visando um significado mais elevado, já que a Lei não nos ensina o modo de comer, para estas coisas é suficiente guia a natureza, a qual colocou em nós o apetite, mas através disto quer significar outra coisa. De fato, que tem a ver com a virtude ou o vício a comida ser apresentada de uma forma ou de outra, com a cintura cingida ou sem cingir, descalços os pés ou com os sapatos, tendo o bastão na mão ou o havendo deixado? Resulta claro, ao contrário, o que significa simbolicamente a preparação do aparato de viagem. Convida-nos diretamente a que reconheçamos que na vida presente estamos de passagem, como caminhantes, impelidos desde o nascimento até à morte pela mesma necessidade das coisas. E que é necessário que as mãos, os pés e tudo o demais estejam preparados para esta saída a fim de ter segurança no caminho. Para que não sejamos feridos nos pés desprotegidos e descalços pelos espinhos desta vida, os espinhos poderiam ser os pecados, protejamo-los com a defesa dos sapatos. Isto é a vida casta e austera, que quebra e dobra por si mesma as pontas dos espinhos, e evita que o mal penetre dentro de nós com um começo pequeno e imperceptível. Uma túnica que flutua solta sobre os pés e que se enreda entre as pernas seria um estorvo para quem anda corajosamente por este caminho, segundo Deus. Neste contexto, poderíamos entender a túnica como a relaxação prazenteira nos cuidados desta vida a qual uma mente sábia, convertendo-se em cinturão do caminhante, reduz e aperta. Que o cinturão é a temperança, se atesta pelo lugar ao qual cinge. O bastão que defende das feras é a palavra da esperança, com a qual sustentamos a alma em suas fadigas e afugentamos os que ladram. O alimento para nós preparado no fogo comparo com a fé cálida e ardente que acolhemos sem demora, de que comemos quanto de comestível está à mão do que come, enquanto deixamos de lado, sem buscar e sem espiar curiosamente, a doutrina que está velada em conceitos duros e dificilmente assimiláveis, entregando ao fogo um alimento semelhante. Para explicar os símbolos utilizados em relação a isto, dizemos o seguinte: alguns dos ensinamentos divinos têm um sentido exeqüível; não convém recebe-los preguiçosamente nem de má vontade, mas saciar- nos, como famintos impelidos pelo apetite, dos ensinamentos que estão diante de nós, de forma que o alimento se converta em robustecimento para nossa saúde. Outros ensinamentos são obscuros, como o indagar qual é a substância de Deus, ou o que existia antes da criação, ou o que há alem das aparências, ou que necessidade marca os acontecimentos, e todas as coisas deste estilo que são investigadas pelos curiosos; é necessário deixar que estas coisas só sejam conhecidas pelo Espírito Santo, que penetra as profundidades de Deus, como diz o Apóstolo (1Co 2, 10). Com efeito, ninguém que esteja familiarizado com a Escritura ignora que nela o Espírito freqüentemente é lembrado e é designado como fogo. Somos levados a esta interpretação pela advertência da Sabedoria: Não especules sobre o que te ultrapassa (Eclo 3, 22), isto é, não rompas os ossos do ensinamento, pois não te é necessário o que está escondido (Eclo 3, 23). INTERPRETAÇÃO MÍSTICA DA VIDA DE MOISÉS 14.
Todas estas coisas e quantas lhes são afins, precipitam-se na água perseguindo os israelitas junto com o promotor do perverso ataque. Porem a água, posto que o bastão da fé e a nuvem luminosa usam como guia, se converte em fonte de vida para os que se refugiam nela e em destruição dos perseguidores. A história nos ensina através disto, como convém que sejam os que atravessam a água. Quando alguém emerge da água não deve conservar consigo nada do exército inimigo. Se o inimigo emergisse juntamente com ele, este permaneceria em escravidão ainda depois da água, ao haver feito emergir vivo consigo o tirano, ao que não afogou no abismo. Isto quer dizer, se explicarmos abertamente o simbolismo aproximando-o de um significado mais claro, que é necessário que quantos, no batismo, passam através da água sacramental, façam morrer na água todo o exército do vício: a avareza, o desejo impuro, o espírito de rapina, a tendência à soberba e à prepotência, o impulso à violência, a ira, o rancor, a inveja, os ciúmes e todas essas coisas. Posto que, de alguma forma, as paixões seguem a natureza humana, devemos afogar na água inclusive os maus movimentos da alma e suas seqüelas. No mistério da Páscoa, este é o nome da vítima cujo sangue preserva da morte quem se vale dela, sucede o mesmo. Recomenda-se que coma pão ázimo na Páscoa. Ázimo é o que não está misturado com o fermento do dia anterior (Ex 13, 6 e 1Co 5, 7-8). Através disto a Lei nos dá a entender que não se deve misturar nenhum resíduo de maldade com a vida nova, mas que comecemos a vida nova com um começo novo, rompendo a cadeia dos pecados com a conversão ao bem. Por esta razão quer que afoguemos no batismo salvador – como no batismo do mar – toda pessoa egípcia, isto é, toda forma de maldade, e que devemos emergir sós, sem arrastar conosco em nossa vida nenhum estrangeiro. Isto é o que aprendemos com a história quando diz que na mesma água se distingue o inimigo e o amigo com a morte e com a vida: o inimigo é destruído, o amigo é vivificado (Ex 14, 27-30). Muitos dos que receberam o sacramento do batismo, por desconhecimento dos preceitos da lei, misturaram a levedura do vício, já abandonada, à vida nova, e, depois de ter atravessado a água, em sua forma de viver levam consigo, vivo, o exército egípcio. Com efeito, quem antes do dom do batismo se havia enriquecido com a injustiça ou a rapina, ou adquiriu alguma terra com perjúrio, ou coabitava com uma mulher em adultério, ou qualquer das demais coisas proibidas, pensa que mesmo que depois do batismo continue a gozar das coisas que adquiriu perversamente, permanece livre da escravidão dos pecados, sem perceber que se encontra escravizado por perversos senhores. Pois a luxuria é um dano cruel e furioso, que atormenta a alma submetida a sua escravidão com os prazeres como se fossem látegos. Um tirano semelhante é a avareza, que não permite nenhum descanso a seu escravo, senão que por muito que trabalhe obedecendo as ordens de seu dono e ganhando para ele o que ambiciona, sempre o incita a mais. E todas as outras coisas que se fazem impulsionados pela maldade constituem uma serie de tiranos e donos. Se alguém lhes obedece, ainda que haja passado através da água, apesar disso – é meu parecer -, não tocou na água sacramental cuja obra é a destruição dos perversos tiranos. INTERPRETAÇÃO MÍSTICA DA VIDA DE MOISÉS 17.
Voltemos à continuação do relato. Quem atravessou o mar que já nos é conhecido, e viu em si mesmo perecer o egípcio, não só olha para Moisés como guia da virtude, como, sobre tudo, crê em Deus como diz o texto da história (Ex 14, 17). Confia também em Moisés, seu servidor. Vemos que também hoje sucede isto com quem verdadeiramente atravessou a água: estes se entregaram a Deus e, como diz o Apóstolo, confiam nos que em razão do sacerdócio cuidam das coisas divinas, e lhes obedecem (Hb 13, 17). Depois da passagem do mar, segue-se uma marcha de três jornadas (Ex 15, 22) durante a qual, acampados em um lugar, acharam água que, a principio, não parecia potável por causa de seu amargor; porem o bastão, sendo arrojado na água, converteu o líquido em potável para os que estavam sedentos (Ex 15, 23- 25). A narração está conforme com o que agora também sucede. A principio, a vida afastada dos prazeres parece desagradável e insossa a quem abandonou os prazeres egípcios que o escravizavam antes de atravessar o mar. Porém se o madeiro, isto é, o mistério da ressurreição, que teve começo por meio do madeiro, é arrojado à água, – ao ouvir madeiro entenderás evidentemente a cruz-, então a vida virtuosa, adoçada com a esperança dos bens futuros, se converte em mais doce e agradável que toda doçura que acaricia os sentidos com o prazer. A etapa seguinte da marcha, amenizada com palmeiras e fontes, repara o cansaço dos caminhantes. São doze as fontes de água, de corrente limpa e gratífica; setenta as palmeiras, grandes e frondosas, pois o tempo havia feito crescer as árvores (Ex 15, 27). Que encontramos nestas coisas, ao seguir o fio da narração? Que o mistério do madeiro, pelo qual a água da virtude se torna potável para os que têm sede, nos atrai com doze fontes e setenta palmeiras, isto é, com o ensinamento do Evangelho. Nele, as fontes são os doze Apóstolos que o Senhor escolheu para esta graça, fazendo brotar a palavra através deles como fontes, de forma que um dos profetas anunciou assim a graça que mana deles: Bendizei a Deus, o Senhor, nas assembléias, os das fontes de Israel (Sal 67, 27). As setenta palmeiras poderiam ser os apóstolos que, alem dos doze discípulos, receberam a imposição das mãos por toda terra e que numericamente são tantos como a história diz que eram as palmeiras. INTERPRETAÇÃO MÍSTICA DA VIDA DE MOISÉS 18.
Penso que seja conveniente apressar a marcha do discurso, pois com as poucas coisas que já consideramos facilitamos aos amantes do esforço a reflexão sobre as etapas restantes. Estas etapas podem significar as virtudes; quem avança ordenadamente seguindo a coluna de nuvem, acampa e descansa nelas. Passando por alto as etapas intermediárias, recordarei em meu discurso o prodígio da rocha, cuja natureza dura e sólida se converteu em bebida para os que tinham sede, dissolvendo-se sua dureza na brandura da água (Ex 17, 6 e Sal 77, 15 e 1Co 10, 4). Não há nenhuma dificuldade em adaptar a continuação do relato à consideração espiritual. Aquele que abandonou na água o egípcio morto, e foi adoçado com o lenho, e gozou das fontes apostólicas repousando à sombra das palmeiras, esse também já se fez capaz de receber a Deus. Pois a pedra, como diz o Apóstolo, é Cristo, seca e resistente para os que não crêem; porem se alguém aproxima o bastão da fé, se converte em bebida para os sedentos e flui dentro de quem a recebe. Pois diz: Eu e meu Pai viremos e faremos nele morada (Jo 14, 23). Tampouco devemos deixar de considerar isto: depois de atravessar o mar e ter sido adoçada a água para os caminhantes da virtude; depois daquele delicioso acampamento junto às fontes e às palmeiras, e depois de beber da pedra se ter esgotado totalmente as provisões trazidas do Egito, caiu do alto sobre eles um alimento simples e ao mesmo tempo variado. De fato, seu aspecto era simples, porem sua qualidade era variada, acomodando-se convenientemente a cada um segundo a natureza de seu desejo (Ex 16, 2-16). Que aprendemos com isto? Aprendemos com que purificação convém que cada um se limpe da vida egípcia e estrangeira até o ponto de esvaziar totalmente o odre da própria alma de todo o alimento impuro preparado pelos egípcios, e receber assim, com alma limpa, em um só, o alimento que vem do alto: um alimento que não se fez brotar para nós de uma semente mediante seu cultivo, senão que é um pão preparado, sem semente e sem cultivo, que, descendo do céu, aparece sobre a terra. Pelo simbolismo da narração sabes perfeitamente qual é este alimento verdadeiro. O pão que desce do céu (Jo 6, 51 e 6, 31) não é uma coisa sem corpo. Pois como poderia uma coisa incorpórea converter-se em alimento para o corpo? O que não é incorpóreo, evidentemente, é corpóreo. Pois bem, o corpo deste pão não foi produzido pela terra, nem pela semente, mas a terra, permanecendo tal qual é, se encontra cheia deste divino alimento que recebem os que têm fome, havendo conhecido previamente o mistério da Virgem através deste prodígio. Este pão, não produzido pelo cultivo da terra, é também a palavra que, graças à diversidade de suas qualidades, adapta sua força às capacidades dos que comem (Sb 15, 21). INTERPRETAÇÃO MÍSTICA DA VIDA DE MOISÉS 19.