Jean Gouillard — PEQUENA FILOCALIA
Oração Jaculatória
Esse cuidado com a atenção e com a simplificação progressiva da contemplação-oração não demorou a encontrar uma técnica de jaculatórias. Evágrio, depois de Macário, seu mestre, recomenda, na tentação, uma invocação breve e veemente. Cassiano, que registrou o ensinamento dos mestres do deserto, apresenta, como uma espécie de segredo revelado, a repetição do “Meu Deus, vinde em meu auxílio…”. Lúcio praticava a repetição de uma fórmula análoga. É uma primeira forma da famosa monologia (a oração de um único pensamento ou de uma única palavra). A expressão aparece, pelo menos três vezes, em Marcos, o Eremita, onde ela nunca se aplica à oração, mas uma vez à esperança, isto é, a um contexto muito próximo. Tornamos a encontrá-la em João Clímaco e, mais tarde, em Elias, o Écdico. É certo que ela não se confundiu imediatamente com a invocação de Jesus.
É impossível dizer se essa prática era associada a uma disciplina da respiração ou pelo menos a um certo ritmo. O certo é que ela foi suplantada pela oração de Jesus, sofrendo ao mesmo tempo um desvio, proveitoso, aliás.
A invocação de Jesus, como meio de manter a lembrança de Deus, e como expressão natural dessa própria lembrança, tem lugar considerável na Centúria de Diádoco de Fótico, em meados do século V. Ostentou diversas formas. Uma forma breve, como “Senhor Jesus!”, uma forma extensa: “Senhor Jesus, Filho de Deus, tende piedade de mim!” As duas pedem ser visivelmente antigas, se pensarmos na origem evangélica da fórmula, nas alusões que a ela se fazem em Marcos, o Eremita, e nos textos paralelos muito cedo invocados, como a oração do Publicano: “Deus, tende piedade de mim, pecador!” (Cf. Evágrio, João Clímaco, etc.)
A invocação do Nome de Jesus deve ter eclipsado, muito depressa, outras da mesma natureza. O prestígio do Nome na tradição das Escrituras, seu caráter pode-se dizer — sacramental, sempre suscetível de ser mobilizado, deve ter contribuído intensamente para isso; porém, sob a condição de trazer, através de sua invocação, a humildade e a fé desejadas, o próprio sentimento cada vez mais vivo de Jesus (já no Deserto, mas sobretudo a partir dos Sinaítas).