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EVANGELHO DE TOMÉ - LOGION 113

EVANGELHO DE TOMÉLogion 112<=LOGION 113=>Logion 114

Seus discípulos lhe disseram: O Reino, que dia virá? Jesus disse: Não virá com uma espera. Não se dirá: Já está aqui, ou já está ali, mas o Reino do Pai está espalhado sobre a terra e os homens não o veem. (Roberto Pla) EVANGELHO DE JESUS

  • Sendo Jesus interrogado pelos fariseus sobre quando viria o reino de Deus, respondeu-lhes: O reino de Deus não vem com aparência exterior; nem dirão: Ei-lo aqui! ou: Ei-lo ali! pois o reino de Deus está dentro de vós. (Lc 17,20-21)
  • E estando ele sentado no Monte das Oliveiras, chegaram-se a ele os seus discípulos em particular, dizendo: Declara-nos quando serão essas coisas, e que sinal haverá da tua vinda e do fim do mundo. Respondeu-lhes Jesus: Acautelai-vos, que ninguém vos engane. (Mt 24,3-4)
  • Se, pois, alguém vos disser: Eis aqui o Cristo! ou: Ei-lo aí! não acrediteis; (Mt 24,23)
  • Dize-nos, quando sucederão essas coisas, e que sinal haverá quando todas elas estiverem para se cumprir? (Mc 13,4 e seq)
  • Respondeu-lhes João: Eu batizo em água; no meio de vós está um a quem vós não conheceis. (Jo 1,26)

    Hermenêutica

    Roberto Pla

A expectativa da Vinda a explica o logion em sua justa vertente oculta, profunda. O Reino é infinito e eterno, e não pode vir, senão ser descoberto, porque já está; não pode chegar, porque não há lugar não ocupado por ele desde antes do começo dos tempos. Dizer do Reino, do Filho do homem, o qual é o Reino, que vem ou que não chegou é uma figura de linguagem, como dizer que o Sol se levanta ou se põe.

O espírito do homem “é” do Reino de Deus, e o que denominamos a Vinda do Reino a nós, a Vinda que a cristandade espera, é em verdade a abertura da consciência à luz do Filho do homem, essa Luz que é conhecimento e vida, e que em essência somos sempre ainda que sem sabê-lo. No terceiro evangelho se explica isto muito bem: “O Reino de Deus vem sem se deixar sentir. E não dirão: veja-o aqui ou lá, porque o Reino de Deus está entre nós” (Lc 17, 20-21).

A salvação do homem, significada pela Vinda, pela manifestação do Reino de Deus na alma, é um acontecimento decisivo na vida de cada homem, mas é um ato íntimo, pessoal, não intercambiável, que tem que ver com o silêncio absoluto da alma e com a redenção do espírito; sem relação com as catástrofes cósmicas ou com o fim do mundo, menos ainda com a destruição do templo, ainda que este seja o de Jerusalém.

No entanto, os relatos dos sinópticos e com eles de toda a tradição eclesial, entenderam, segundo o parecer “manifesto”, que existe uma dependência mútua entre coisas tão díspares e heterogêneas como são o descobrimento de Deus na alma e a dissolução do mundo por efeito de um fogo celeste.

Se pode dizer que o discurso escatológico relatado no capítulo 13 de Marcos, e com poucas variantes, no capítulo 24 de Mateus, parece querer conjugar, por razões não compreensíveis, as místicas bodas da alma com a caída dos astros e as estrelas, e com uma espécie de loucura coletiva dos seres humanos, convertidos de improviso muitos deles em loucos assassinos e trânsfugas.

É certo que para achar o Ser de Deus é necessário que todo homem se ofereça em holocausto e consinta no sacrifício de seu próprio ser, do si mesmo psíquico; mas tal como se conta do ancião Abraão, quando não se negam a mão nem a faca para amolação aí está, bem próxima, a bem-aventurança. O sacrifício do homem não sempre é a morte; o que necessita em todos os casos é a transformação e esta, já se sabe, vem pela negação da alma com a cruz sobre os ombros.

É a transformação do homem o que traz a liberdade ao espírito cativo, essa liberdade para todos que foi o fim perseguido por Jesus ao proclamar a Boa Nova. A explicação do que há de fazer e não fazer para culminar nessa transformação que é liberdade e consumação, forma o corpo doutrinal do Evangelho, o qual é sempre um ensinamento; mas o capítulo da Vinda, o relato da descida do Espírito na consciência do homem, não pretende ser uma parênese senão até tudo uma descrição geral dos acontecimentos próprios de uma teofania.

Os evangelistas Marcos e Mateus não foram, seguramente, uma exceção em experimentar a condição inapreensível do acontecimento que tentavam descrever, e no capítulo da Vinda do Filho do Homem seguiram a norma de seus antecessores Moisés, Elias, Ezequiel, Daniel e carregaram as tintas hermenêuticas do lado da vertente oculta.

Por tudo isso não deve surpreender que os exegetas modernos da vertente manifesta encontrem normalmente diáfanos e claros os textos que estudam. No entanto, quando eles tropeçam em um texto e os parece notoriamente obscuro, tal como ocorre com o capítulo 13 de Marcos e o 24 de Mateus, é porque sua exegese só é possível desde a vertente oculta, a ciência hermenêutica que eles não praticam.

Essa ciência é por sua vez o fundamento deste nosso escrito. Como a descrição da VINDA DO FILHO DO HOMEM é de uma importância singular porque é uma tentativa de descrever, embora por via oculta, a Paixão e a ressurreição de todo homem que aspira a lograr seu fim, seu telos, no mundo, haverá de submeter este relato a um trabalho exegético algo minucioso.

Para este trabalho tomaremos como base o capítulo 13 de Marcos, construído por seu autor como um todo, sem prejuízo de consignar quando faça falta, as variantes dadas por Mateus 24 e pelo curto fragmento de Lucas 21, sempre que ditas variantes aportam algum signo novo de interesse.

VIDE: VINDA DO FILHO DO HOMEM JEAN-YVES LELOUP

  • Ao invés de colocar a questão, "Mas onde enfim está Deus?", poderia se perguntar, "Onde Ele não está? ".
  • Tudo é manifestação de Sua Presença. Tudo que existe é participação a Sua Existência. EMILE GILLABERT
  • O Reino não é redutível ao espaço-tempo, ele aí está mesmo não visto.
  • Cruel cegueira esperar um Reino, um Reino coletivo, um Reino a vir, e que aí está... HENRI-CHARLES PUECH
  • Em Lucas o Reino nos (dentro dos) homens (entos humon)
  • Vide Logion 3
  • O sentido de "interioridade" do Reino é enfatizado pelos gnósticos
  • No Evangelho de Maria, onde o Salvador diz a seus discípulos: "Cuidado para que não vos induzam em erro com as palavras: "Vejam aqui" ou "Vejam aí". Pois o Filho do homem está no interior de vós".
  • Este logion 113 dá, diferentemente dos canônicos uma ênfase na ubiquidade do Reino: O Reino esta espalhado...
  • O Reino está aí, em toda parte, e ao mesmo tempo, sempre aí, universalmente e constantemente presente ao nosso redor, no meio de nós, em nós, "no mundo e nos homens", como afirmado no "mesos humon" de João (1,26 — acima), como confirma Heracleon, citado por Orígenes (Comentários sobre João).
  • Vide Logion 51