René Guénon: MISCELÁNEA
Juli Peradejordi: Excertos de LA PUERTA
Simbolismo
Fernando Pessoa: SUBSOLO
Mais propriamente se chamará aos judeus o Povo Excluso pois adoram a Jehovah que é o Deus deitado abaixo do abismo, se bem que o criador do nosso mundo — o Satan-Deus manifestado, mero átrio da Ordem Divina.
O Átrio da Divindade patente consiste nas duas colunas do templo, símbolos da Díade do Abismo, e no espaço, que é a entrada, entre elas, símbolo da admissão à Divindade além de Deus — Balança, intercalação de liberdade entre a cisão da Díade, Jakin Scorpio e Boaz Virgem.
Jehovah como Adam Kadmon. A adoração de Jehovah como culto do manifesto, em vez de culto, através do manifesto, do não-manifestado. (Esp. 54-86)
CABALA
Annick de Souzenelle
A semente da Árvore que é o Homem, aquela de cada homem logo também, é YHWH, em hebreu. Convém ler o hebreu da direita para esquerda. O santo NOME é Yod–He–Waw–He chamado de cada uma das quatro letras que o compõe, mas jamais pronunciado. Ele é o divino Tetragrama. YHWH quer dizer “EU SOU“. O Cristo, semente do Adão total, semente do Homem. é YHWH. Ele diz dEle mesmo:
e ainda:
Quer dizer na servidão, escravidão.
Paul Nothomb: TÚNICAS DE CEGO [PNTA]
Embora o mais antigo de todos, o relato do Jardim do Éden é precedido no texto pelo relato dos Seis Dias, cuja redação seria do do século X antes de nossa era. Ele não se apresenta como a sequência mas como uma espécie de retomada a um nível mais “terra a terra”, mais familiar. Pelo menos em tradução. Mas esta impressão que produz a inversão dos relatos não é somente falsa por isso: ela o é pelo “fundo” de seus conteúdos respectivos. Anterior ao relato “evolucionista” dos Seis Dias e a seu Deus “cósmico” (cujo nome “Elohim” é um plural de intensidade, significando algo como a energia divina), o relato do Jardim do Éden põe em cena o Deus que não tem nome e que o texto designa pelo tetragrama YHWH — condensado de todos os “aspectos” do verbo HYH que significa “ser” em hebreu.
O pitoresco “Deus-artesão” da tradição, “modelando o homem do pó da terra”, popularizado pelas “histórias santas”, é em hebreu nada menos que a manifestação mais alta da existência, simbolizada por uma sigla dinâmica, que reúne o “completo”, o “incompleto” e o “concomitante” do verbo ser, à exclusão precisamente de seu infinitivo, e que é portanto errôneo traduzir por o “Eterno”.
Sem dúvida o uso do tetragrama se banalizará na sequência da Bíblia. E no início é frequentemente acompanhado do nome divino “Elohim” que não seria falso traduzir o conjunto “YHWH Elohim” por Deus. Mas sua presença intraduzível e impronunciável “na origem” no mais antigo dos relatos da Criação, aí reveste uma extraordinária importância. Não é uma fábula amável, um conto para crianças como se tem tendência a crer hoje em dia, com uma “moralidade” destinada a fazer medo, é um “ajuda-memória” que nos lembra em termos universais nossa verdadeira “natureza”. Aquela que temos, não de nós mesmos nem de nossos parentes, nem de nosso nascimento mas de um ato inusitado, fundador, de uma divindade sem nome.
Sem nome mas não sem proximidade, como aparece no desdobramento do relato. YHWH não é “o Eterno” da Metafísica. Não é também “o Senhor” de uma hierarquia mestre-escravo. Também não é o “Todo-outro” ou o “numinoso” do sagrado e da transcendência, do qual dissertam a filosofia e a história das religiões. Não é “o Ser” no infinitivo dos gregos. É “mais ou menos” — se é necessário dar uma definição, o que Martin Heidegger denomina “o ente”, enquanto “sendo”, a dinâmica, a fonte mais que o princípio de toda existência, de toda realidade verdadeira.
Geneviève Javary: TETRAGRAMA
Nicolas Boon
Moisés recebeu a revelação do Deus único sobre o Monte Sinai. A sua demanda, quando Deus o enviou ao Egito para liberar seu povo: “Se me perguntam qual é seu nome, que devo responder?” Deus lhe respondeu: “Eu sou Aquele que sou”. Isto quer dizer: o Ser é minha essência ou não posso não ser. Eu sou o Eterno. Em hebreu isto se diz אהיה אעזר אהיה A H I H ASchR A H I H, éhéyéh ascher éhéyéh. Donde o Nome: “Aquele que é”. Este nome está inscrito na própria pergunta de Moisés, em hebreu, que traduzido seria simplesmente: “Se me demandam qual é o seu nome, que devo responder?”. Em hebraico esta frase é bem curta: “(Se) A mim qual seu nome, qual?”. Transcrevo em hebraico לי מה ״שמו מה L I M H Sch Μ V M H : li mah schéma mah. (Êxodo III, 13-14). Observar atentamente as últimas letras de cada palavra. Eu as sublinhei. Essas quatro letras são I H V H. Em hebraico, יהרה (I H V H) é o Nome Sagrado por excelência. Não incluí a pronúncia, porque somente o sumo sacerdote tinha o direito de pronunciá-la uma vez por ano no Santo dos Santos. Na Bíblia, as vogais foram acrescentadas. Essas são, de fato, as vogais do nome Adonai. Para o judeu, ainda hoje, essas vogais são um aviso para dizer: Adonai, que significa Senhor. De minha parte, agora o escrevo sem essas vogais. Elas deram origem a pronúncias imprecisas, como Jeová ou Yahweh. O judeu, por outro lado, nunca o pronuncia, primeiramente por respeito e, em segundo lugar, porque esse nome significa muito mais do que “Deus existe”. Ele é, acima de tudo, uma Presença ativa e, portanto, um segredo que não pode ser expresso em palavras. Em nossas traduções, dizemos: “Tetragrammaton”. Essa é uma palavra grega. Tetra significa quatro e gramma significa letra. Às vezes também dizemos o Eterno. Evitamos a palavra Senhor para distinguir o nome sagrado de Adonai quando essa palavra aparece.