(gr. onoma; lat. nomen; in. Name; fr. Nom; al. Name; it. Nome).
A palavra ou o símbolo que indica um objeto qualquer. Os problemas a que o nome dá origem como palavra ou símbolo (p. ex., o de origem ou de validade) encontram-se no verbete linguagem . Aqui cabe apenas lembrar as determinações específicas que os lógicos emprestaram ao conceito de nome Quando Platão define o nome como “instrumento apto a ensinar e fazer discernir a essência, do mesmo modo como a lançadeira está apta a tecer a tela” (Crat., 388 b), sua definição adapta-se a qualquer termo ou expressão linguística. Aristóteles, ao contrário, foi o primeiro a analisar especificamente o nome: “O nome é um som vocal significativo por convenção, que prescinde do tempo e cujas partes não são significativas se tomadas separadamente” (De int, 2,16 a 19). Por “prescindir do tempo”, o nome distingue-se do verbo, que sempre tem determinação temporal. Por não ter partes significativas por si mesmas, o nome distingue-se do discurso. E como Aristóteles observe que a expressão infinita “não homem” não é um nome, os lógicos posteriores acrescentaram à sua definição de nome a caracterização “finita” e também “reta”, para excluir os casos oblíquos do nome, que interessam ao gramático, e não ao lógico (Pedro Hispano, Summ. log., 1.04). O próprio Aristóteles advertia (De int, 2, 16 a 23) que o nome nem sempre é simples, e nesse sentido sua definição era modificada do seguinte modo por Jungius, no séc. XVII: “Por nome entende-se um símbolo ou signo, instituído para determinada coisa e para a noção que representa a coisa, quer se trate de um nome gramaticalmente único, quer se trate de um nome composto por mais vocábulos (Log. hamburgensis, 1638, IV, 2, 10).
Na lógica contemporânea, a função do nome foi analisada principalmente em função daquilo que Carnap chamou de “antinomia relação–nome”.
Esta antinomia fora vislumbrada por Frege (“Über Sinn und Bedeutung”, 1892, em Aritmética e lógica, ed. Geymonat, PP. 215-52), mas foi formulada como tal por Russell (“On Denoting”, 1905, agora em Logic and Knowledge, PP. 41-56). Resulta do fato de que dois nome sinônimos (que têm o mesmo significado) devem poder ser substituídos um pelo outro sem que mude o significado e o valor de verdade de contexto. Ora, “Sir Walter Scott” e “autor de Waverley” são nomes sinônimos, portanto substituíveis. Contudo, se na frase “Jorge IV perguntou uma vez se Scott era o autor de Waverley” substituirmos “autor de Waverley’ pelo nome sinônimo “Scott”, a frase resultante será falsa, pois ficará: “Jorge IV perguntou uma vez se Scott era Scott.”
Essa antinomia recebeu duas soluções principais na lógica contemporânea: a primeira consiste essencialmente em reduzir a denotação a uma descrição em termos direta ou indiretamente redutíveis a experiências elementares. Esta solução foi proposta por Russell (que a expôs no ensaio citado e depois no primeiro vol. de Principia mathematica, 1910). Segundo Russell, a frase “Jorge IV, etc.” pode significar: d) “Jorge IV queria saber se um homem e só um homem escreveu Waverley e se Scott era esse homem”, ou b) “Um homem e só um homem escreveu Waverley e Jorge IV queria saber se Scott era esse homem”. E Russell diz: neste segundo caso “o autor de Waverley ocorre de modo primário (primary occurrence), porque supõe que Jorge IV tem algum conhecimento direto de Scott. Na primeira, ao contrário, a frase ocorre de modo secundário, no sentido de que não supõe um conhecimento direto de Scott” (“On Denoting”, op. cit., p. 72). Essa teoria, além de pressupor a diferença entre conhecimento direto e conhecimento indireto, equivale a reduzir os nome próprios a nome comuns e os nome comuns a nome próprios, que denotam elementos extraídos da experiência direta. Teorias semelhantes a estas foram apresentadas por Quine (Methods of Logic, 1950, § 33; From a Logical Point of View, 1953, cap. 1) e por outros.
A segunda solução da antinomia relação–nome é proposta pelo próprio Frege. Consiste em distinguir o significado (Bedeutung, Meaning), como denotação, do sentido (Sinn, Sense). A denotação é a referência do nome ao objeto: “Sir Walter Scott” e “autor de Waverley’ têm a mesma denotação porque se referem ao mesmo objeto. O sentido, ao contrário, como dizia Frege, é “algo logo apreendido por quem conhece suficientemente a língua (ou em geral o conjunto de signos) a que o nome pertence” (“Über Sinn und Bedeutung”, § 1; ed. it. cit., p. 219): assim, dois nome podem ter sentidos diferentes, mesmo que se refiram ao mesmo objeto. Esse é precisamente o caso das duas expressões citadas, e, como é possível compreender o sentido de um nome sem conhecer sua denotação, perguntas como a que foi atribuída a Jorge IV significam um pedido de informações referente à identidade de suas denotações. Essa solução foi repetida com variações por Carnap (Meaning and Necessity, §§ 31-32) e por Church (Intr. to Mathematical Logic, 1958, § 1). E parece ser uma solução preferível porque não exige pressupostos particulares sobre a natureza da linguagem. (Abbagnano)
Aristóteles definia-o no Organon como a voz significativa para falar, sem tempo, que nada significa tomada separadamente, ao contrário de verbo, que é a voz significativa para falar, com tempo. [MFSDIC]
Na antiguidade, a questão da natureza do nome foi muito discutida pelos sofistas. Tratava-se de saber, antes de mais, se o nome é uma pura convenção (individual ou social) ou se as coisas têm os seus nomes por natureza. A primeira dessas opiniões foi a que predominou entre os sofistas e contra ela se insurgiu Platão no início do Crátilo. Mas a opinião de que os nomes são justos por natureza não é, segundo Platão, mais aceitável que a anterior. Aristóteles chamava nome a um som vocal que tem uma significação convencional sem se referir ao tempo (como acontece com o verbo) e sem que nenhuma das suas partes tenha significação quando é tomada separadamente (ao contrário do discurso) (Sobre a Interpretação).
A concepção aristotélica do nome oferece ao mesmo tempo aspectos lógicos e gramaticais muito difíceis de deslindar entre si. O mesmo acontece com as concepções medievais. Podia considerar-se o nome de três maneiras: 1) como uma voz significativa; 2) como uma ideia; 3) como uma voz vazia, de modo que a questão da natureza do nome implicava a dos universais. Durante as disputas, verificou-se que não podia levar-se demasiado longe o paralelismo entre gramática e lógica. Com efeito, podia dividir-se o nome em várias classes. Algumas delas – como as dos nomes substantivos e adjetivos – parecem pertencer à gramática, e outras – como as dos nomes abstratos e concretos – à lógica, embora a lógica pudesse, em princípio, assumir todas estas distinções e reduzi- las aos seus próprios termos. Dentro da escolástica, foram os gramáticos especulativos que mais interesse demonstraram pelo problema do nome. Preocuparam-se sobretudo com os diversos modos de significar o nome, distinguindo entre um modo essencial generalíssimo de significar e modos de significar subalternos que iam de uma maior a uma menor generalidade.
Durante a época moderna, o vocábulo nome foi usado em sentido menos técnicos e precisos que na filosofia aristotélica ou na escolástica. Os que mais se ocuparam do problema foram os autores nominalistas, ou empiristas, que, em muitos casos, se limitaram a reelaborar concepções medievais. é o caso de dois autores significativos: Hobbes e Locke. Para o primeiro, os nomes podem ser de tipos muito diversos. Em todos os casos, são marcas arbitrárias com as quais nos fazemos entender aos outros – ou entendemos os outros – em virtude de certas convenções que não precisam de ser estabelecidas conscientemente, mas que podem fundar-se na natureza da nossa psique. No Leviatã, Hobbes classifica os nomes em próprios e comuns e afirma que os únicos universais que há no mundo são os nomes comuns. Para estes nomes comuns concede-lhes maior e menor extensão (por exemplo, corpo tem maior extensão que homem) de modo que chega a conceber o agrupamento de consequências das coisas imaginadas na mente como “agrupamento das consequências das suas designações”. Deste modo, usa os nomes num sentido análogo ao que foi propostos por vários lógicos. Para Locke, mão é certo que cada coisa possa ter um nome. Ao mesmo tempo, quando podem designar-se várias coisas mediante um nome este justifica-se pragmaticamente pela comodidade do seu uso. Também para ele os nomes podem ser próprios (nomes de cidades, de rios, etc) e comuns (formados por abstração nominal) (Ensaio). Em geral, compreende-se os nomes em função das ideias que designam.
Assim, pode haver nomes de ideias simples, de ideias completas, de modos mistos e de substâncias (embora estes últimos sejam duvidosos).
Na época contemporânea, o problema do nome foi tratado principalmente por duas correntes: a fenomenologia e a lógica matemática (especialmente nas investigações semânticas).
A fenomenologia tratou a questão de vários pontos de vista. O primeiro é o que se funda na distinção entre , notificação e nominação.. Husserl afirma que as expressões podem ser sobre objetos nomeados ou sobre vivências psíquicas. No primeiro caso, são expressões do objeto que nomeiam e ao mesmo tempo notificam; no segundo, são expressões onde o conteúdo nomeado e o notificado são a mesma coisa (Investigações Lógicas).
A lógica matemática tratou muitas vezes do assunto. Deve-se a Frege a famosa distinção entre o sentido e o denominado, com a a indicação de que pode haver mais de uma denominação para o mesmo sentido. Na literatura lógica contemporânea, é usual introduzir a doutrina do nome em relação com a distinção entre o uso e a menção. Entre os lógicos e os semânticos que estudaram o problema do nome, merece menção especial Rudolf Carnap. Em Significado e Necessidade, analisou o método da “relação de nome”. Trata-s, a seu ver de um método alternativo de análise semântica, mais usual que o método da extensão e da intenção. O método consiste em considerar as expressões como nomes de entidades segundo três princípios: 1) cada nome tem exatamente um denominado; 2) qualquer enunciado ou sentença fala acerca dos nomes que nele aparecem; 3) se um nome que aparece numa sentença verdadeira é substituído por outro nome com o mesmo designado, a sentença continua a ser verdadeira. Segundo Carnap, a distinção de Frege atrás apontada entre o sentido e o denominado é uma forma particular do citado método da “relação de nome”. (Ferrater)
DIVINO — NOME — DOUTRINA DO NOME
Filosofia
Pierre Riffard
Nomina sunt numina (fórmula latina: “os nomes são vontades celestes, das divindades”)
Doutrina religiosa, ocultista, esotérica segundo a qual:
*uma coisa sem nome é uma coisa sem existência (Poema babilônico da Criação, tablete 1: “Quando no alto o céu ainda não era nomeado, e que em baixo a Terra não tinha nome…”);
*cada ente, evento, estado, grau possui um nome que lhe é próprio enquanto indivíduo ou em sua espécie, resumindo sob a visão da Ideia (Gen 2,19: “Todos os animais selvagens e todos os pássaros do céu… cada um deve portar o nome que o homem lhe deu”);
*o nome é a coisa, nomear se torna conhecer (O Livro dos Mortos Egípcio, os tratados gnósticos, a noção de “selo”);
*o nome supõe o som, e entre coisa, som e nome, há identidade simbólica;
*se se reproduz bem o nome, o som, age-se sobre a coisa, retorna-se a sua origem, há um perigo mágico (donde o “tabu onomástico”, regra proibindo a pronunciação de certas palavras porque são homônimas ou parônimas de deuses ou de chefes).
Noções filosóficas
Excertos traduzidos de “Les notions philosophiques”
A reflexão sobre o termo grego onoma, “nome”, tem de cara um desafio ontológico: Heráclito e Parmênides denunciam a contradição entre o que é nomeado e as denominações dadas de modo irrefletido ou vazio. Do Crátilo de Platão aos epicuristas e aos estoicos passando por Aristóteles, a problemática do onoma resta essencialmente aquela de sua retitude: de sua relação ao pragma, à “coisa” da qual se ocupa (em retórica, pragma — de prasso = realizar —, designa o argumento de um discurso). Segundo a relação estabelecida entre onoma, o termo apelativo, e pragma, seu conteúdo, é imediata ou mediata, natural ou instituída, uma resposta diferente é dada à questão da origem da língua, logo da amplitude a acordar às etimologias, e àquela da função — mimética o diacrítica, analítica ou expressiva — da linguagem.
Roberto Pla: Evangelho de Tomé – Logion 68
O nome divino, o que foi revelado a Moisés segundo a Escritura, é o único nome com que cada um conta para referir-se a si mesmo quando pretende fazer-se filho de Deus, quer dizer, para invocar o Homem real interior de quem diz Jesus que é a luz do mundo: “Eu sou este Eu sou”. A luz do mundo possui uma vocação unitária absoluta. Só há uma luz do mundo, “a que é”; e nenhuma outra coisa que não seja a luz do mundo “é” firmemente. Isto é o que explica Jesus, embora não tenha sido escutado, quando em sua magna oração clamava em todos o conhecimento unitário de sua própria luz.
*E eu lhes dei a glória que a mim me deste, para que sejam um, como nós (tu, Pai e eu) somos um (uno, na luz, no nome divino, proscrito pelo mundo); eu neles, e tu em mim, para que eles sejam perfeitos em unidade, a fim de que o mundo conheça que tu me enviaste, e que os amaste a eles, assim como me amaste a mim. (Jo 17:22-23)
O mesmo significado tem a proscrição do nome divino, anunciada por Lucas, como ação do mundo sobre o que não é deste mundo, que a ausência do “lugar” para os nomes do mundo proposta pelo evangelista Tomé (Evangelho de Tomé) quando diz: “Que não se encontre lugar ali onde se os tenha procurado”.
*O grego topos tem aqui o sentido de que não se encontre nada, ninguém, ali onde se os tenha procurado.
O texto de Lucas (Bem-aventurados quando vos injuriarem) fala do nome divino proscrito — não conhecido — pelo mundo, e o de Tomé (Evangelho de Tomé – Logion 68, dos nomes do mundo que há de proscrever em si mesmo o aspirante a bem-aventurado. São duas maneiras de referir-se a um mesmo ato substancial: Só é verdadeiro o nome divino, unitário, único, que o mundo aborrece; um nome que quem pretende não sere deste mundo só o pode obter mediante a negação prévia de todos os nomes plurais, não verdadeiros, deste mundo. A esta negação se referia Jesus em Renúncia.
René Guénon: NOMES PROFANOS E NOMES INICIÁTICOS
Rama Coomaraswamy: O NOME DE JESUS