Disse o sábio rei Salomão a Hirão, rei de Tiro: “Bem sabes tu que Davi, meu pai, não pôde edificar uma casa ao Nome de YHWH seu Deus, por causa da guerra com que o cercaram, até que YHWH os pôs debaixo das plantas dos pés. Porém agora YHWH meu Deus me tem dado descanso de todos os lados; adversário não há, nem algum mau encontro. E eis que intento edificar uma casa ao Nome de YHWH meu Deus, como falou YHWH a Davi meu pai, dizendo: Teu filho que porei em teu lugar no teu trono, ele edificará uma casa ao meu Nome” (I Reis, 5, 3-5). O Templo de Salomão está em Jerusalém, palavra que, etimologicamente, significa “fundação de paz”, quando o povo de Israel consegue a paz à sua volta. O senhor (YHWH) se instala no centro de sua terra, em Jerusalém, como está dito: “porque de Sião sairá a Torah, e de Jerusalém a palavra de YHWH.” (Isaías, 2, 3), e também: “Em Jerusalém porei o meu Nome.” (II Reis, 21-4). Toda a exegese hebraica está baseada no Nome do Senhor: encontramos um comentário de E.H.: “Os Antigos ensinaram que, devido à transgressão de nossos primeiros pais, o Nome Divino foi dividido em dois. As duas primeiras letras separaram-se das duas últimas. Deste então, estas duas partes, que estão vivas, procuram-se eternamente, vagando pelos mundos. A obra da cabala é reuni-las, também sendo denominada obra marial ou messiânica. As duas primeiras letras, IH, formam a palavra Ia. Está no céu, onde sonha eternamente, sempre insatisfeita. Em hebraico, são as letras iod e he. As duas últimas letras são VeH. Pronunciam-se Hu, o que significa “Ele” em hebraico. Estão neste mundo de exílio com o homem que possui o sentido e a palavra, porém extraviadas e reduzidas à dimensão do exílio. As duas primeiras são um ser insensato que sonha e pensa, sem conhecer-se. As duas últimas são um ser enfeado pela concupiscência do sensível, no exílio. Tais são o céu e a terra, que devemos reunir para formar o reino – e os cristãos dizem, em suas orações: “Faça-se a tua vontade, assim na terra como no céu…” – e torná-los uma só coisa. Por este motivo, vemos em Deuteronômio, 6-4: “Ouve, Israel, YHWH nosso Deus é o único Senhor.” Isto não significa que seja uno, só, mas é como se fosse dito: “Que os demais povos venerem um deus inacessível no céu ou se prosternem diante de um ídolo terrestre impotente. Teu Deus, o teu, Israel, é a união do céu e da terra, porque ele é uno, porque está reunificado.”
Explicam os Sábios Antigos, que a separação do Nome de Deus em duas partes ocorreu quando da destruição do Templo de Jerusalém. Quando o templo existia, o Nome de Deus, YHWH, era pronunciado uma vez ao ano pelo Sumo Sacerdote, no Santo dos Santos do templo. Destruído o templo, o Nome não mais pôde ser pronunciado, pois para isto precisa do lugar apropriado, onde se unem o céu e a terra. No exílio, pode-se escrever o nome, mas não pronunciá-lo, daí por que os hebreus leem o Tetragrama (YHWH) como Adonai (que significa Meu Senhor) ou como Hashem (que significa O Nome). Portanto, para que as duas partes do Nome sejam reunificadas, precisamos encontrar o templo, o lugar onde o céu e a terra podem unir-se.
O templo é o envoltório do Nome, como podemos ver claramente nas mesquitas, onde existem apenas, na direção de Meca, o Corão e as quatro letras do nome de Alá; aquilo que está contido no templo, seu simbolismo, é estritamente a presença do Nome. Pelo conhecimento do Nome, ligamo-nos à perpétua criação de Deus, isto querendo dizer que o Nome pode reconstruir o primeiro e arquetípico templo, que seu som gera a ordem perfeita e sincronizada. Voltemos a falar deste Nome (de que mais podemos falar, senão Dele?), citando agora um resumo de J. Peradejordi, no prólogo da edição espanhola de “Os ensinamentos de Jesus Cristo a seus discípulos”, que diz o seguinte: “No esoterismo muçulmano, surge uma infinidade de alusões ao Nome de Deus. Um dos mais famosos ditos ou tradições do Profeta, fala que “Deus tem 99 nomes, 100 menos 1; aquele que os conhecer, entrará no Paraíso. Estes 99 nomes estão escritos, disseminados ao longo do Corão, mas existe um centésimo nome, o Nome de Deus, conferindo a onipotência àquele que o conhecer, porém este não está escrito… Recordemos também a parábola evangélica das 99 ovelhas, que o pastor abandona para ir buscar a centésima (Mateus, 18,12 e segs.). Este nome, esta palavra, este verbo, parece ser o grande segredo que os iniciados transmitiam, sussurrado ao ouvido, podendo ser também uma ‘coisa’ (em hebraico, a palavra Dabar tanto significa palavra, como coisa) que os cabalistas transmitiam de um para o outro, e que não aparece nos livros, embora estes, subentenda-se, não falem de outra coisa senão dela. É o que demonstram os exemplos que se seguem: “De tudo o que há escrito em meus livros, nada existe como essa palavra” e “Não reveleis esta coisa àqueles que não poderão suportá-la ou guardá-la.” [Arola]