Pai Nosso (Mt VI,9-13; Lc 11,1-4)

PRECES DE JESUS — O PAI NOSSO (Mt VI,9-13; Lc 11,1-4)

Portanto, orai vós deste modo: Pai nosso que estás nos céus, santificado seja o teu nome; venha o teu reino, seja feita a tua vontade, assim na terra como no céu; o pão nosso de cada dia nos dá hoje; e perdoa-nos as nossas dívidas, assim como nós também temos perdoado aos nossos devedores; e não nos deixes entrar em tentação; mas livra-nos do mal. (Porque teu é o reino e o poder, e a glória, para sempre, Amém.) (Mt 6,9-13)
E aconteceu que, estando ele a orar num certo lugar, quando acabou, lhe disse um dos seus discípulos: Senhor, ensina-nos a orar, como também João ensinou aos seus discípulos. E ele lhes disse: Quando orardes, dizei: Pai nosso, que estás nos céus, santificado seja o teu nome; venha o teu reino; seja feita a tua vontade, assim na terra, como no céu. Dá-nos cada dia o nosso pão cotidiano; E perdoa-nos os nossos pecados, pois também nós perdoamos a qualquer que nos deve, e não nos conduzas em tentação, mas livra-nos do mal. (Lc 11,1-4)

Misticismo Renano-Flamengo

Gheraert Appelmans: Excertos de Glosa do «Paternoster», retirado de VOICI MAÏTRE ECKHART

A primeira palavra se enuncia: PAI. Como compreendemos esta palavra?O Pai, na fecundidade de sua natureza e pela fecundidade desta natureza, se diz o Verbo para ele mesmo, engendrando o Filho em toda-perfeita semelhança dele mesmo, uma outra Pessoa (idêntica) a sua própria natureza e reconhecendo a outra Pessoa como Filho segundo o modo do Pai. A natureza não engendra e não é engendrada mas o Pai, em engendrando, suscita a fecundidade de sua natureza no poder de seu Ser.

Neste mesmo nascimento, o Pai cria para ele mesmo, no todo-poder de sua Deidade: dando a todas as criaturas «a vida e o ser», a todas as criaturas um subsistência, uma sustentação de seu poder paternal e divino a tudo o que tem vida e ser segundo o modo das criaturas. Assim o Pai é pai de todas as criaturas. No entanto, nenhuma parcela de sua substância nem de sua natureza não pertence aos anjos nem aos homens nem a uma qualquer criatura.

Aquele que compreende esta palavra adora o Pai nesta palavra. Agora, escutai o que significa «adorar». Adorar o Pai é, saiba-o, pela inteligência e pelo amor, confessar intimamente e puramente o Pai na qualidade de sua paternidade divina. Precisemos ainda um pouco o que é «adorar»: quando o Pai ocupou todo o espaço do espírito inteligente, quando investiu e absorveu o ser e a eternidade do espírito e todo seu poder na Deidade sem fundo de sua Soberania e de sua honra, então o espírito afunda de se [próprio] abismo no abismo [divino] e de um algo (yet) em um Nada (niet). Assim Deus o Pai se trona o próprio de seu próprio, nele mesmo, no espírito.

Tal é a verdadeira adoração em espírito.

A segunda palavra se enuncia: NOSSO
Criaturas dotadas de intelecto, como compreendemos, nós criaturas dotadas de intelecto, que o Pai é nosso? O Pai, na fecundidade de sua natureza e pela fecundidade de sua natureza diz o Verbo para ele mesmo, engendrando o Filho à semelhança toda-perfeita dEle mesmo, uma outra Pessoa [idêntica] a sua própria natureza e reconhecendo a outra Pessoa como Filho por natureza, segundo o modo do Pai.

Desde o princípio, o Filho do Pai por natureza, engendrado pelo Pai se o confessando a Ele mesmo e (Lhe) confessando o Pai segundo o modo do Filho. Neste re-nascimento do Verbo eterno, o Verbo eterno recebe do Pai (seu caráter) de Pessoa. O Verbo eterno não se engendra ele mesmo com o Pai, mas com Ele recebe neste re-nascimento seu caráter de Pessoa. Quando o Pai engendra, tudo o que o Pai conhece na sabedoria insondável, eterna, se flui com o Filho e é re-engendrado no Filho que o conhece segundo o modo do Filho. O Pai confessa o filho do Pai (saído) de sua graça segundo o modo do Pai. Assim somos nós filhos e Ele nosso Pai.


Comentários por versículo e da oração como um todo: