Pão nosso de cada dia

PAI NOSSO — O PÃO NOSSO DE CADA DIA NOS DAI HOJE

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Orígenes: O PÃO NOSSO…

Misticismo Renano-Flamengo
Gheraert Appelmans: Glosa do Pater Noster

Dai-nos hoje em dia nosso pão deste dia
Como compreendemos que este pão é nosso? Assim como o próprio de Deus o Pai, pela nobreza de sua toda-perfeição, é de dar e de perdoar, assim também nosso próprio, por sua divina graça, é de acolher este dom.

Porque ele nos ensina a orar por nosso «próprio»? Pois de nós mesmos nós não temos estritamente nada, mas tudo o que temos de Deis, nós o possuímos e o recebemos pela graça de Deus. E posto que o dom de Deus é tão nobre, ele nos ensina a orar intensamente e a suplicar ao Pai em uma grande humildade de espírito, de nos preparar e de estar prontos a receber o dom de Deus o Pai.

Agora, vede o que é este dia e este pão cotidiano.

Há três espécies de dias:

O primeiro dia é temporal e se esvai no sentido do tempo. Nosso pão cotidiano neste dia, são todas as nossas necessidades. Eis porque Ele nos ensina a orar ao Pai, para sua honra eterna a Ele, e para nós e para um repouso sem fim.

Em seguida diz: hoje em dia. Por esta palavra, Ele nos ensina a aguardar como convém, em grande humildade o juízo de Deus o Pai e a considerar nosso vida temporal transitória em uma desapropriação de toda coisa temporal que não temos em nossa possessão com a vontade de Deus, na vontade de Deus, como se este hoje em dia fosse nosso último dia e que Deus, na hora última deste dia, fosse pronunciar seu julgamento sobre o corpo e sobre a alma e que nós o conhecêssemos.

O segundo dia é espiritual. É uma inteligência justa e verdadeiramente iluminada pela graça divina. Pois, assim como o dia temporal não tem luz se não é clareado pela graça divina. E assim como nossos olhos de carne não podem distinguir as coisas corporais se não têm o socorro de uma luz que os atinge, da mesma forma o olho da Inteligência não pode conhecer e distinguir a verdade divina sem o socorro da graça divina.

Qual é nosso pão cotidiano neste dia?

O Pai diz seu Verbo eternamente no íntimo do ser e a palavra de seu Verbo, pura inteligência, recebe a acolhida interior no intelecto, e eis aí nosso pão cotidiano.

E esta mesma santidade, a recebemos nas ordenanças de Deus, no santo sacramento, na , nas modalidades deste dia temporal.

E desfrutaremos dele acima da , acima dos modos, na beatitude, neste dia da eternidade. E deste desfrute, temos um íntimo pressentimento no intelecto e é o segundo pão cotidiano.

Antes de prosseguir, falo da recepção deste santo sacramento. Aquele que o recebe dignamente é purificado de todos seus pecados e assegurado da vida eterna.

O terceiro pão cotidiano é uma pura contemplação da verdade divina, discernindo claramente as ordenanças de Deus nesta santa cristandade, e além do mais de tudo isto que, do princípio ao fim do mundo é para nós uma ajuda e um sustento a fim de que seja cumprido o que o Pai em seu amor e seu conhecimento queria cumprir em nós, para sua honra divina. Agora dizemos hoje. Por esta palavra, Ele nos ensina a receber o nobre dom de Deus o Pai tão puramente quanto se não tivéssemos qualquer outra propriedade que aquelas que possuímos para Deus na vontade de Deus, como se este hoje em dia fosse nosso último dia e que na hora última deste dia Deus fosse pronunciar seu julgamento sobre o corpo e sobre a alma e que nós o conhecêssemos.

O terceiro dia, é Deus que é a perfeição de todos os dias e nosso pão cotidiano. Neste dia está nossa beatitude e Deus é nossa beatitude.

Como desfrutamos deste pão? Como Ele se conhece e se ama e desfruta dEle mesmo na toda-perfeita santidade de seu ser de sua natureza e de toda sua Deidade, da mesma maneira, Ele quer — na medida do possível — se dar a conhecer e a amar e a desfrutar dele na toda-perfeita santidade de seu Ser, de sua natureza, de toda sua Deidade na nobreza de sua benevolência.

Hoje: um único Deus, um único é, um único espírito, neste agora (sempre) novo. Assim, da luz recebemos a luz, com a luz a luz, nesta luz a luz da luminosa luz, no agora eternamente novo do dia eterno: hoje em dia. Desde então, entendestes falar do dia e do pão e (saibais) como é nosso.

Agora, escutais: dai-nos. Para esta palavra, ele nos ensina tudo o que a inteligência humana e também a inteligência dos anjos jamais compreendeu ou possuirá jamais: em adorando, conhecemos o Pai intelectivamente, o amamos amorosamente, e nos confessamos puramente o Pai em sua qualidade divina: e é isso dar. Pois, assim como o Pai, por sua Palavra, engendra pela fecundidade de sua natureza, da mesma maneira dá em engendrando e confere ao Filho todo sua próprio na fecundidade de sua natureza, segundo o modo do Pai. Nesta mesma geração, cria e dá a vida e o ser a todas as criaturas, segundo um modo divino. Assim o próprio de Deus é de dar e de se manter em todas as criaturas.

Nos: nesta palavra, ele nos ensina a conceder a todos nossos irmãos cristãos todo o bem que nos concedemos, como o concedemo-nos a nós mesmos.

Maurice Nicoll: EPIOUSIOS