Elias Ekdikos

PHILOKALIAElias Ekdikos

Apresentação da Philokalia em francês

Elias Ekdikos ou de Creta foi padre mas também juiz e advogado (ekdikos). Dele mais nada sabemos nem mesmo quando viveu (provavelmente em Constantinopla no século XI ou XII. Sua obra maior Anthologion é paradoxal: um florilégio de testemunhos anteriores, que consegue não ser uma simples compilação. Ela se apresenta como um florilégio de testemunhos anteriores. Nada mais há aqui que uma modesta transmissão da experiência comum a todos os monges. Mas nada há todavia que se assemelhe a uma compilação, mesmo se a osmose encontra-se por toda parte. Eleias retoma Evagrio, os Sinaítas e Máximo o Confessor, mas como uma abelha, que diz ele, “vai e vem nos campos” e faz seu próprio mel de tudo que colhe. A elaboração é sempre pessoal ao mesmo tempo rigorosa e refinada.

A ordem do Anthologion é mais aparente que real, mas há assim mesmo uma ordem: dois grupos de 109 e 139 capítulos englobam quatro partes introduzidas por curtos poemas e consagrados à ascese, à oração, ao conhecimento, enfim ao par ação-contemplação e a seus frutos. Comportamentos da vida cotidiana, aí onde se exercem e se verificam os engajamentos do combate espiritual e as condutas morais. Elias remonta à fonte mesmo da exigência hesicasta: tudo sacrificar a única mediação da inteligência, que só se rompe dos sentidos e do mundo para oferecê-las em oração à transfiguração última. Faz lembrar que o itinerário bíblico, do Egito à passagem do Mar Vermelho, e do deserto à terra Prometida, é o itinerário místico do homem interior. Sobretudo, Elias é um dos Padres que acentua mais quanto a ação, portanto a ascese, é um ato de amor que se realiza na contemplação da beleza.

Sua grande referência escriturária éo Cântico dos Cânticos. Este testemunho do amor virginal se serve de imagens da nupcialidade para significar o arrebatamento. Mas anuncia a regra de ouro: “É gnóstico aquele que põe a grandeza nas descidas e a humildade nas elevações”: a fonte, a graça mesma, que flui destes capítulos.
Apresentação da Philokalia em inglês
A seleção da Philokalia, Uma Antologia Gnômica, não é uma coletânea de vários autores mas do próprio Elias. Está dividida em quatro seções, cada uma precedida de um verso que indica de certo modo a propósito da seção.

  • Parte I (1-79): ensinamento moral (jejum (parthenia), esforço ascético (askesis), vícios (kakia) e virtudes (arete), com ênfase na humildade (tapeinophrosyne).
  • Parte II (80-109): Oração (euche).
  • Parte III (1-32): contemplação espiritual (theoria — com particular ênfase a “contemplação natural” ou a “contemplação da natureza”, ou seja, o conhecimento das essências interiores ou princípios das coisas criadas — as fundações do mundo).
  • Parte IV (33-139): a prática (praxis) das virtudes (arete) e a contemplação (theoria — levando em conta os temas mencionados nas partes anteriores).

Elias se deleita em imagens vívidas tomadas do mundo da natureza, e também emprega o simbolismo nupcial do Cântico dos Cânticos. Como Maximo o Confessor, faz uma distinção clara entre “pensar”, ao nível discursivo ou racional (dianoia), e “intelecção”(noesis), compreendido como apreensão não discursiva da verdade espiritual. Nos passos de Evagrio, fala sobre uma visão da “luminosidade” (phos) do intelecto (nous); além disto, há uma visão mais alta da luz divina, que o corpo compartilha. Esta Antologia de Elias indica o ensinamento dos hesicastas (hesychia) do século XIV, especialmente o pensamento de Gregorio Palamas. Por quatro vezes, Elias se refere a euche monologistos, a “oração de frase única”, uma expressão que o associa à “escola” sinaíta. Em João Clímaco esta expressão usada com o termo adicional Iesus, “de Jesus”, significa definitivamente a Oração de Jesus, e na tradução inglesa da Philokalia assumimos que Elias dá o mesmo sentido, embora no grego não haja este qualificador “de Jesus” adicionado.

Sutis e altamente concentrados, os curtos parágrafos da Antologia revelam seu sentido verdadeiro apenas se lidos com grande atenção. Poucos outros autores foram capazes, em um curto tratado, de prover um guia tão compreensivo do caminho espiritual.
Apresentação de Jean Gouillard
Canonista (écdico), que se deva provavelmente identificar com o metropolita Elias de Creta (cerca de 1120): seu Anthologion figura duas vezes na Patrologia Grega: no tomo 90, cc. 1401s, sob o nome de Máximo, o Confessor, e no tomo 127, cc. 1128s, sob o do próprio Elias.
O autor, cujas sentenças traem a aplicação, é um bom aluno de Evagrio. Todavia, sua insistência sobre a oração monológica aproxima-o dos Sinaitas. Em parte alguma ele esclarece se se trata da oração de Jesus, mas é difícil não pensar nela. A escolha literária da expressão abstrata, com exceção de imagens e alegorias, talvez explique essa imprecisão que, aliás, pode não ter existido, necessariamente, para os leitores da época.
De qualquer maneira, essa insistência na simplificação da oração e na sua virtude de unificação quanto às faculdades da alma, garantem-lhe um lugar natural na tradição da oração do coração.
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