SERMÃO DA MONTANHA — DAR A OUTRA FACE (MT V, 38-42; LC VI, 27-36)
EVANGELHO DE JESUS: Mt 5:38-42; Lc 6:27-36
Cassiano: CONFERÊNCIAS
Romano Guardini: Excertos de O SENHOR
A lei antiga estabelecia a justiça comutativa como norma de comportamento entre os homens. Como os outros me tratarem, assim devo eu tratá-los; posso responder à violência com a violência, à maldade com a maldade. A justiça consiste em não fazer mais do que me é feito a mim, e evidentemente que posso defender-me do que ameaça ferir-me. Cristo diz: não chega. Enquanto te limitares a corresponder somente «com justiça», não evitas a injustiça. Enquanto te limitares aos enredos da injustiça e da desforra, do golpe e contragolpe, do ataque e defesa, serás tu próprio cada vez mais injusto, pois que a paixão ultrapassa necessariamente a medida -, sem contar que a própria pretensão em corresponder do mesmo modo é já uma injustiça, porque isso ultrapassa o poder do homem. Aquele que quer pagar pela mesma moeda não estabelece a justiça. Se a disputa começa com a injustiça, a injustiça desperta no próprio coração, e o fruto é uma nova injustiça.
Se realmente queres avançar, tens então de te libertar de tais cadeias e procurar um ponto acima do vaivém. Terás de introduzir uma nova. força: em vez da autoafirmação, a abnegação; e não a pretensa justiça, mas a liberdade criadora. O homem só pode tornar-se justo se procurar alguma coisa mais que a simples justiça. «Mais», mas não só em grau, como também em essência. Terá que procurar uma força que quebre o encanto da injustiça e da violência; que abra o espaço onde a violência, é capturada e desarmada: o amor.
Antonio Orbe: Parábolas Evangélicas em São Irineu
13,3. Por eso el Señor, en lugar de «No cometerás adulterio» mandó no desear con concupiscencia (Mt 5,27-28); en lugar de «No matarás» prohibió ceder a la ira (Mt 5,21-22); en vez de simplemente pagar el diezmo, ordenó repartir los bienes entre los pobres (Mt 19,21); no amar sólo al prójimo, sino también al enemigo (Mt 5,43-44); y no únicamente estar dispuestos a dar y compartir (1 Tim 6,18), sino también a dar generosamente a aquellos que nos arrebatan nuestros bienes: «Si alguien te quita la túnica, dale también el manto; no le reclames al otro lo que te arrebata; y trata a los demás como quieres que ellos te traten» (Lc 6,29-30). De modo que no debemos entristecernos de mala gana cuando algo nos quitan, sino que lo demos voluntariamente, incluso que nos alegremos más dando al prójimo por gracia que cediendo a la necesidad: «Si alguien te obliga a caminar con él una milla, acompáñalo otras dos» (Mt 5,41), de manera que no lo sigas como un esclavo, sino que tomes la delantera como un hombre libre. De este modo te harás siempre útil en todo a tu prójimo, [1009] no mirando su malicia sino sólo tratando de ejercitar la bondad, para hacerse semejante al Padre, «el cual hace salir su sol sobre los malos y los buenos, y llueve sobre justos e injustos» (Mt 5,45).
Como antes dijimos, todas estas cosas no destruyen la Ley, sino que la cumplen, la extienden y la amplían en nosotros, en cuanto decimos que es más digno obrar por libertad, lo que muestra un afecto y sumisión a nuestro liberador más arraigados en nosotros. Porque El no nos ha liberado para que nos separemos de El -pues nadie que se aparte de los bienes del Señor puede adquirir por sí mismo el alimento de la salvación-; sino para que, habiendo recibido más dones suyos, más lo amemos; pues mientras más lo amemos, recibiremos de él mayor gloria cuando estemos para siempre en presencia del Padre. Irineu de Lião
Um aspecto muito importante da moral cristã — menos da moral social que da moralidade intrínseca — é a recusa de obter justiça: esta atitude pressupõe nossa consciência, por um lado da justiça imanente e por outro de nossa injustiça quase congênita; o egoísmo natural e o perigo de orgulho sendo os traços da queda. Renunciar a nosso bom direito, é pressentir que a justiça está sempre aí, que ela está em Deu, mesmo se nos fazem algo de errado; que em reclamando nosso bom direito, arriscamos adicionar uma injustiça a outra, dado que somos imperfeitos e que deste fato nossa reivindicação individual — de certo modo prematura — arrisca comprometer nossa aspiração à perfeição e nossa contemplação daquilo só que é perfeito. Por conseguinte, deve-se oferecer a face esquerda; e “quem saca a espada; morrerá pela espada”.
Annick de Souzenelle: RESSONÂNCIAS BÍBLICAS
Quando Jesus demanda àquele que recebeu uma bofetada na face direita de oferecer a outra face, é insensato crer que convida este a bancar a vítima e a fazer do adversário um carrasco. «Oferecer a outra face», não é trazer à luz do consciente a outra face da cena, deixada na sombra… a face que um dia foi atingida, se fazendo então o joguete de um de seus demônios inferiores? Neste sentido Jesus remete com efeito em lugar a ontológica lei do Talion.
Não ignoro já ter falado de tudo isso, mas me parecia importante recolocar esta lei sob o olhar evangélico. O Cristo convida os seus com insistência a recuperar as leis divinas, a reconstituir o quebra-cabeça das primeiras tábuas quebradas; nos deixa fazer este trabalho sob a conduta do Espírito Santo, obedecendo nisso a uma outra lei enunciada acima:
«A Glória de Deus é de ocultar a Palavra.
A Glória dos reis é de escrutar a Palavra. »
Entremos em nossa realeza e compreendamos, a respeito da lei do Talion, que ela não é de modo algum lei de vingança, mas lei de retribuição que não espera que aquela de Deus se cumpra.