Zwinglio, Ulrich (1484-1531)
Reformador da Igreja da Suíça, iniciou seu trabalho na cidade de Zurique. Pregador de grande persuasão, conferencista brilhante, sintonizou-se com a Reforma luterana na Alemanha nos pontos essenciais, porém por diferentes caminhos e métodos.
Seu trabalho como reformador pode ser sintetizado nestes pontos: a) Justificação pela fé. b) Simplificação do sistema litúrgico e sacramental, c) Uma Igreja de caráter popular e democrático, não hierárquica, d) A Bíblia como base e fundamento único da revelação de Deus em Cristo. Sobre essas linhas — basicamente coincidentes com as da reforma luterana — estabeleceu Zwinglio as diferenças de sua própria reforma.
— O retorno às fontes, princípio comum do Renascimento, foi concebido e atualizado por Zwinglio de forma mais de acordo com o ideal humanístico. Para ele, o retorno a tais fontes significou voltar a uma sabedoria religiosa originária na qual concluem e concordam a Escritura e os filósofos pagãos. “Toda verdade que foi dita, quem quer que a tenha dito, sai da própria boca de Deus; do contrário não seria verdade.”
— Em sua obra principal Commentarius de vera et falsa religione (1525) fala de Deus no sentido de um teísmo universalista. Deus é o ser, o sumo bem, a unidade, a própria natureza. Em seu tratado Deprovidentia (1530) nos diz: “Se a providência não existisse, Deus não existiria; suprimida a providência, também se suprime Deus”.
— A vontade livre de Deus desejou todo o acontecido no mundo: determinou tanto o pecado de Adão quanto a Encarnação do Verbo, e determina, em virtude de uma escolha gratuita, a salvação dos homens. Esta última deve-se a uma livre decisão de Deus, que a dá ou a nega segundo seu arbítrio, não obrigado a nada, mas que ele determina só com a sua vontade o que é justo e injusto. E a escolha se efetua ab aeterno. Não segue a fé, mas a precede: os escolhidos são tais antes de crer.
— Concordando com Lutero na apresentação da fé como única disposição para a justificação, ele diz: “A fé basta-se por si mesma; nada que venha do exterior pode ajudá-la ou sustentá-la. Ela pode tudo, mas não é movida por nada, porque é a própria escolha de Deus na consciência: as cerimônias, os símbolos, a exteriorização de religiosidade ficam absolutamente excluídos”. Foi até mais longe que Lutero na interpretação da Eucaristia que, para ele, ficou reduzida a uma pura cerimônia simbólica, na qual o Corpo de Cristo já não era seu corpo real, mas a comunidade dos fiéis que se convertem realmente no Corpo de Cristo no ato de evocar novamente na cerimônia seu sacrifício. O enfrentamento com Lutero neste ponto foi total.
— Afastou-se também deste em sua concepção da Igreja. Nascido e educado numa sociedade democrática como a da Suíça, Zwinglio concebeu a vida religiosa dos cristãos como uma comunidade política que voltou às formas da sociedade cristã originária. Reconheceu como possível, embora muito difícil, a comunidade de bens entre os cristãos. Com isso situou a reforma no plano social e transformou-a num instrumento de renovação e na base de uma nova organização política.
A diferença da educação humanista e teológica de Zwinglio com relação a Lutero — Zwinglio é erasmiano e teologicamente da via antiqua (tomismo e escotismo) e da via moderna (ockhamismo) — poderia estar na base destas diferenças. No entanto, como dissemos, existem coincidências substanciais na compreensão da Reforma.
BIBLIOGRAFIA: Obras: Corpus Reformatorum, 88-89. Ed. De Geor Finsler, 1905-1928; R. C. Walton, Zwinglio’s Theocracy.