Nicetas Stethatos — CENTÚRIAS — Capítulos Físicos
Tradução feita da versão inglesa da Philokalia, e de sua versão francesa. Esta Centúria como as demais foram divididas em páginas com 10 itens
Da Natureza Interior das Coisas e da Purificação do Intelecto: Cem Textos
1. Amor a Deus começa com o desapego das coisas humanas e visíveis. A purificação do coração e intelecto marca o estágio intermediário, pois através de tal purificação o olho do intelecto é espiritualmente desvelado e alcançamos o conhecimento do reino dos céus oculto dentro de nós ( Lucas 17:21). O estágio final é consumido em um anseio irreprimível pelos dons supernaturais de Deus e em um desejo natural pela união com Deus e por encontrar sua própria morada nEle.
2. Onde há intenso anseio por Deus, trabalho noético, e participação na luz inabordável, aí também os poderes da alma estarão em paz, o intelecto será purificado, e a Santa Trindade habitará dentro de nós; pois está escrito, “Aquele que Me ama preencherá Meu ensinamento, e Meu Pai o amará, e Nós viremos a ele e faremos Nossa morada nele (Jo 14:23).
3. Nosso ensinamento reconhece três modos de vida: o carnal, o psíquico e o espiritual. Cada um destes é caracterizado por sua atitude particular para a vida, distintiva de si mesmo e dissimilar dos outros.
4. O modo carnal de vida é inteiramente devotado aos prazeres e divertimentos desta vida presente, e nada tem com os modos de vida psíquico e espiritual, e até mesmo não tem qualquer desejo de adquiri-los. O modo psíquico, que está situado na fronteira entre o mal e a virtude, está preocupado com o cuidado e o fortalecimento do corpo e com o enaltecimento dos homens; não somente repudia os trabalhos requeridos para virtude, mas também rejeita a indulgência carnal. Evita tanto a virtude quanto o vício mas por razões opostas: a virtude porque esta requer labuta e disciplina; o vício porque esta implicaria privar-se do enaltecimento dos homens. O modo espiritual de vida, por outro lado, nada tem em comum com estes dois outros modos, e por conta disto não está implicado no mal que pertence a cada um: é inteiramente livre em todas as maneiras de ambos, um e outro. Investido com as asas do amor e apatia (apatheia), alça-se acima de ambos, nada fazendo de proibido e não sendo paralisado pelo mal.
5. Aqueles que perseguem o modo carnal de vida e nos quais a vontade da carne (sarx) é imperiosa — que são, simplesmente, carnais — não são capazes de conformar-se a vontade de Deus ( Rom. 8:8). Seu juízo é eclipsado e eles estão totalmente impenetráveis aos raios da luz divina: as nuvens envolventes das paixões são como muros altos que cortam a resplandecência do Espírito e os deixam sem iluminação. Seus sentidos da alma desfiguram-se, eles não podem aspirar a beleza espiritual de Deus e ver a luz da verdadeira vida e assim transcender a baixaria das coisas visíveis. É como se eles tivesse se tornado bestas conscientes somente deste mundo, com a dignidade de suas inteligências atadas às coisas sensórias e humanas. Eles se esforçam somente pelo que é visível e corruptível, neste sentido lutando entre eles e mesmo sacrificando suas vidas por tais coisas, ávidos de riquezas, glória e prazeres da carne, e vendo a falta de quaisquer destas coisas como um desastre. Para tal gente aplica-se a afirmação profética que vem da própria boca de Deus: “Meu Espírito não deve permanecer nestes homens, pois eles são carne” (Gen. 6:3. LXX).
6. Aqueles que perseguem o modo psíquico de vida e são portanto chamados ‘psíquicos’ (psychikos) são como os deficientes mentais cujos membros não funcionam propriamente. Nunca se exercem a si mesmos por conta da virtude ou na prática dos mandamentos de Deus, e restringem-se em agir repreensivelmente simplesmente para ganhar a estima de outras pessoas. Estão completamente sob a vaga do amor-próprio, acalentador das paixões destrutivas, e buscam o que quer que seja que promova a saúde física e o prazer. Repudiam toda tribulação, esforço e dureza abarcada pela busca da virtude, e mimam nosso inimigo, o corpo, mais do que deviam. Através de tal vida e comportamento seu intelecto imbuído de paixão cresce grosseiro e se torna impermeável ao divino e às realidades espirituais onde a alma é arrancada do mundo da matéria e ascende ao céu noético. Isto acontece a eles porque ainda estão possuídos pelo espírito da matéria, amam-se a si mesmos, e optam fazer o que quer que queiram. Vazios do Espírito Santo, eles não compartilham de Seus dons. Como resultado não exibem nenhum fruto divino — amor a Deus e por seus companheiros — nenhuma alegria em meio a pobreza e a tribulação, nenhuma paz na alma, nenhuma fé profundamente enraizada, nenhum auto-controle abarcante. Nem experimentam compunção, lágrimas, humildade ou compaixão, mas estão cheios de presunção e arrogância. Logo são totalmente incapazes de perscrutar as profundezas do Espírito, pois não há luz guia para abrir seus intelectos à compreensão das Escrituras (cf. Lc 24:45); de fato, não podem suportar e mesmo ouvir outras pessoas falando sobre tais coisas. Paulo Apostolo estava certo quando falou que o “homem psíquico não pode apreender coisas espirituais: são loucos para ele; ele está inconsciente que a lei é espiritual e deve ser discernido espiritualmente” (cf. 1Cor. 2:14).
7. Aqueles que “se agarram ao Espírito” (Gal. 5:25) e estão totalmente comprometidos com a vida espiritual vivem de acordo com a vontade de Deus, dedicados a Ele como foram os Nazireus (cf. Num. 6:2-8; Juízes 13:5) Todo tempo trabalham para purificar suas almas e manter os mandamentos do Senhor, gastando seu sangue em seu amor por Ele. Purificam a carne através de jejuns e vigílias; refinam a escória do coração com lágrimas; mortificam suas tendências materialistas através da dureza ascética; preenchem o intelecto com luz através da oração e meditação, tornando-o translúcido; e pela renúncia de suas próprias vontades separam-se a si mesmos dos apegos apaixonados ao corpo e aderem somente ao Espírito. Como resultado todos os reconhecem como espirituais (pneumatikos), e corretamente referem-se a eles como tal. Conforme aproximam-se do estado de apatia (apatheia) e amor, ascendem à contemplação das essências interiores das coisas criadas; e a partir disto adquirem o conhecimento da coisa criada que é conferida pela sabedoria oculta de Deus (cf. 1Cor. 2:7) e dadas somente àqueles que levantaram-se acima do baixo estado de seu corpo. Assim é que quando eles passaram além da experiência sensória deste mundo e entraram com uma mente iluminada nos reinos que estão acima da percepção dos sentidos, sua inteligência é iluminada e eles expressam palavras retas de um puro coração no meio da Igreja de Deus e a grande congregação dos fieis (cf. Sl. 40:9-10). Para outras pessoas eles são sal e luz, como o Senhor os diz: “Sois a luz do mundo e o sal da terra (cf. Mat. 5:13-14).
8. ‘Devotem-se a si mesmos a quietude (hesychia) e saibam que Eu sou Deus (Sl. 46:10). Isto é a voz do Logos divino e é experimentado como tal por aqueles que põe as palavras em prática. Assim uma vez que se tenha renunciado ao tumulto e à assustadora vaidade da vida se deveria em quietude escrutinar a si mesmo e a realidade interior das coisas com a máxima atenção e deveriam buscar florescer mais plenamente o Deus dentro de si mesmo, pois Seu reino está dentro de nós (cf. Lc 17:21). No entanto, mesmo se fazes isto por um longo período de tempo será difícil para ti apagar a impressão de mal de tua alma e restaurá-la integralmente para seu Criador em toda sua beleza primal.
9. Como estamos grandemente imbuídos com o veneno do mal estamos me uma correspondente grande necessidade do fogo purificador das lágrimas arrependidas e do trabalho ascético voluntário. Pois estamos purgados das manchas de pecado seja através de abarcar tal trabalho voluntariosamente ou seja através das aflições que vêm inesperadas. Se primeiro engajamos em trabalho ascético voluntário, seremos poupador das aflições inesperadas; mas falharemos em purificar “o interior do cálice e do prato” (cf. Mat. 23:26 através do trabalho ascético, as aflições nos restaurarão a nosso estado original com uma maior rudez. Assim o Criador ordenou.
10. Se não entrares no caminho da renúncia com o espírito reto — se, quer dizer, desde a partida recusares aceitar o mestre e guia mas, vendo-te como um adepto, confiares em teu próprio juízo — farás gozação da vida religiosa e por sua vez serás gozado pelo que a ti sucede.
*§11-20
*§21-30
*§31-40
*§41-50
*§51-60
*§61-70
*§71-80
*§81-90
*§91-100