ZOROASTRO — RETIRO
Livro de Zoroastro
Henry Corbin: Corpo Espiritual e Terra Celeste
Esto lo confirman por otra parte determinadas tradiciones antiguas conservadas en los textos griegos relativos a Zaratustra. Porfirio, por ejemplo, describe la retirada de Zaratustra a una cueva de las montañas de la Pérsida, adornada con flores y manantiales, que ofrecía una perfecta Imago mundi para su meditación. Dion Crisóstomo menciona la alta cima a la que se retiró Zaratustra para vivir “a su manera” y donde, tras un decorado de fuego y de esplendor sobrenatural, tiene lugar un ceremonial de éxtasis invisible a las miradas profanas. La retirada a la montaña psico-cósmica representa una fase esencial en cualquier misteriosofía: el acto final lo constituye el abrazo del éxtasis; entonces se vuelven visibles para el alma las Figuras celestes que aparecen a través del órgano de su propia Imagen-arquetipo. Y aquí también debemos tal vez a un texto griego una precisión esencial acerca de los éxtasis sagrados en Eran-Vej: Zaratustra se había iniciado directamente en la sabiduría a través de Agathos Daimon. Ahora bien, una investigación anterior nos permitió reconocer en Agathos Daimon una figura homóloga a la de Daena, el Yo celestial, el Anima caelestis .
Paul du Breuil: ZOROASTRO
Começou, então, para o Sábio, um longo retiro de uma dezena de anos (vinte anos segundo Plínio, o Velho), tendo como único discípulo consigo seu querido primo Maidiomaha (YC. 13.95). Certo dia os dois homens reencontraram o rio Daitia (O-xus) e ali o profeta entrou em profunda meditação, até o dia em que Vohu Manah, o Bom Pensamento divino, se revelou ao seu espírito. Zoroastro devia receber a revelação no curso de sete “entrevistas” com Ahura Masda, no cimo dessa montanha mística do qual falam, também, Porfírio e Dion e na “floresta das entrevistas sagradas” (Vd. XXII. 19).
No limiar de êxtases grandiosos e autênticos (sem drogas), o Sábio colocava questões patéticas sob a seguinte forma: “Eu tenho algo a te pedir. Diz-me a verdade, Ahura” (Y. 44), ou então “Tu, cujo olhar protetor vela por toda a eternidade a Ordem e o Bom Pensamento, ó Masda Ahura, ensina-me pela tua boca celeste as leis do mundo primitivo” (Y. 22.11). Na volta a si de cada iluminação, sua alma conhecia a resposta divina: “Eu proclamarei aquilo que me disse o Altíssimo Benfeitor” (Y. 45), ou ainda: “Tu me disseste, tu Masda, que sabes o melhor” (Y. 46). E o diálogo místico continuava: “No começo do mundo o mais santo dos dois Espíritos disse ao Destruidor: “Nem nossos pensamentos, nem nossos ensinamentos, nem nossas inteligências, nem nossas escolhas, nem nossas palavras, nem nossos atos, nem nossas consciências, nem nossas almas se conciliaram” (Y. 45.2). Ahura Masda ocupa-se em aumentar a vida, Ahra Mainiu, (Ahriman) em fazê-la morrer.
Entre cem questões sobre a origem do mundo e do bem e do mal, seus exercícios espirituais se realizavam, assim, misturando às vezes as questões cosmogônicas: “Quem abriu um caminho ao sol e às estrelas? Quem fez com que a lua cresça e decresça? Quem, sem apoio, sustentou a terra para não cair? Quem fez as águas e as plantas, os ventos e as nuvens?” “Qual é o criador do Bom Pensamento, ó Masda?” (Y. 44.4) Ele via, então, o sobrevoo da humanidade por poderosos anjos dirigidos por prodigiosas entidades, cada uma delas respondendo por um domínio, que governavam segundo o Reino de Ahura Masda. Zoroastro as definirá em sete expressões divinas: Sabedoria (Masda), Bom Pensamento (Vohu Manah), a Ordem Justa (Asha Vahista), Reino Divino (Khshatra), Devoção (Armaiti), Saúde (Haurvatat), Imortalidade (Ameretat). Arquétipos supremos do Deus único Ahura Masda: “Foi ele que, antes de tudo, pensou o mundo, ele que pôs a felicidade na luz celeste… Tu fizeste aparecer divinamente os dois mundos (o espiritual e o material) e tu és sempre o Soberano universal” (Y. 31.7).
Qual é a primeira das coisas no mundo do bem? pergunta Zoroastro. “A melhor das boas obras é, em relação ao céu, adorar o Senhor, e em relação à terra é tratar bem o gado… O homem de devoção é santo; pela inteligência, pelas palavras, pela ação, pela consciência ele faz justiça… Aquele que faz o bem ao justo, ao parente, ao confrade, ao servidor e vela ativamente pelo bem do rebanho, esse pertence ao bem, é um operário do Bom Pensamento” (Y. 33.3). “Eu te pergunto qual é a punição para aquele que dá o império para o mau, para o malfeitor, ó Ahura Masda, para aquele que mata pelo prazer de matar, para aquele que oprime o trabalhador que não maltrata nem o rebanho nem os homens?” “Já que eles não se convertem, os surdos e os cegos serão aniquilados…” (Y. 31.15/32.15).
Zoroastro invectiva os homens demoníacos, que ele também chama daevas, os quais desprezam a vida animal e humana e cujas devastações tomam incultos os campos. Ele se revoltava sobretudo diante do sacrifício de reses dos carapans, que invocavam Aesha, o Furor deificado. O Sábio assumia a condição do advogado do gado perseguido, do qual ele ouvia o queixume silencioso (Y. 29.1). E portanto ele, o Spitama, que fará conhecer aos homens seus deveres para com os animais. Mas a alma do boi (sic) lamenta sua impotência em se defender: “Quando virá aquele que lhe dará toda poderosa assistência?” (Y. 29.9). Zoroastro pensa que somente um poder favorável à sua reforma poderá dar-lhe os meios de tomar razoáveis os maus pastores, os ladrões de gado, os sacerdotes mágicos, e que somente uma ruidosa demonstração de sua doutrina fará um cavi honesto protegê-lo e armar sua terra contra a ameaça permanente dos nômades pilhadores, levando a paz para o interior, pela restauração de uma nova ordem. Era claro para o Sábio que o terrorismo dos ataques que arruínam uma economia agrícola, massacrando bestas e gente em nome de tenebrosas divindades antropomórficas, manifestava a permanência do mal. Mal constantemente imbricado no meio de raros elementos bons, como a dramaturgia de frequentes sismos, secas e invernos rigorosos traduzia o mal do universo. O conjunto disso irá criar a psicose da ansiedade catastrófica das Gâthâs. Mas, transportada para o plano ético, ela estimulará a ação moral e transfiguradora do homem, em lugar de enterrar nas ruínas de uma fatalidade inelutável. Levada para o plano espiritual, esta angústia do bem abrirá as perspectivas apocalípticas de um mundo novo, transfigurado, herança prodigiosa de todas as religiões influenciadas pela gnose zoroástrica.