Misticismo Renano-Flamengo
Gheraert Appelmans: Excertos de Glosa do «Paternoster», retirado de VOICI MAÏTRE ECKHART
A primeira palavra se enuncia: PAI. Como compreendemos esta palavra?O Pai, na fecundidade de sua natureza e pela fecundidade desta natureza, se diz o Verbo para ele mesmo, engendrando o Filho em toda-perfeita semelhança dele mesmo, uma outra Pessoa (idêntica) a sua própria natureza e reconhecendo a outra Pessoa como Filho segundo o modo do Pai. A natureza não engendra e não é engendrada mas o Pai, em engendrando, suscita a fecundidade de sua natureza no poder de seu Ser.
Neste mesmo nascimento, o Pai cria para ele mesmo, no todo-poder de sua Deidade: dando a todas as criaturas «a vida e o ser», a todas as criaturas um subsistência, uma sustentação de seu poder paternal e divino a tudo o que tem vida e ser segundo o modo das criaturas. Assim o Pai é pai de todas as criaturas. No entanto, nenhuma parcela de sua substância nem de sua natureza não pertence aos anjos nem aos homens nem a uma qualquer criatura.
Aquele que compreende esta palavra adora o Pai nesta palavra. Agora, escutai o que significa «adorar». Adorar o Pai é, saiba-o, pela inteligência e pelo amor, confessar intimamente e puramente o Pai na qualidade de sua paternidade divina. Precisemos ainda um pouco o que é «adorar»: quando o Pai ocupou todo o espaço do espírito inteligente, quando investiu e absorveu o ser e a eternidade do espírito e todo seu poder na Deidade sem fundo de sua Soberania e de sua honra, então o espírito afunda de se [próprio] abismo no abismo [divino] e de um algo (yet) em um Nada (niet). Assim Deus o Pai se trona o próprio de seu próprio, nele mesmo, no espírito.
Tal é a verdadeira adoração em espírito.
A segunda palavra se enuncia: NOSSO
Criaturas dotadas de intelecto, como compreendemos, nós criaturas dotadas de intelecto, que o Pai é nosso? O Pai, na fecundidade de sua natureza e pela fecundidade de sua natureza diz o Verbo para ele mesmo, engendrando o Filho à semelhança toda-perfeita dEle mesmo, uma outra Pessoa [idêntica] a sua própria natureza e reconhecendo a outra Pessoa como Filho por natureza, segundo o modo do Pai.
Desde o princípio, o Filho do Pai por natureza, engendrado pelo Pai se o confessando a Ele mesmo e (Lhe) confessando o Pai segundo o modo do Filho. Neste re-nascimento do Verbo eterno, o Verbo eterno recebe do Pai (seu caráter) de Pessoa. O Verbo eterno não se engendra ele mesmo com o Pai, mas com Ele recebe neste re-nascimento seu caráter de Pessoa. Quando o Pai engendra, tudo o que o Pai conhece na sabedoria insondável, eterna, se flui com o Filho e é re-engendrado no Filho que o conhece segundo o modo do Filho. O Pai confessa o filho do Pai (saído) de sua graça segundo o modo do Pai. Assim somos nós filhos e Ele nosso Pai.
Comentários por versículo e da oração como um todo: