Os Estados Póstumos na obra de René Guénon [VPRJ]

VIDE: ESTADOS PÓSTUMOS NO VEDANTA

Ligados à representação da individualidade humana nas diferentes tradições, os estados póstumos do ser foram analisados por René Guénon em corolário da descrição desta representação exposta ao longo de sua obra.

É portanto a esta que se deve retornar para apreender o sentido da perspectiva tradicional.

Um grande número de suas obras insistem sobre esta representação. Tomemos particularmente:

e acessoriamente:

Deixaremos de lado o que tem a ver, de maneira mais específica, com o Vedanta a fim de passar do esquema “geral” universal ao cristianismo no final desta análise; isto, até onde se possa ignorar a estrutura vedantina enquanto fundamento do ser e seu devir na visão de Guénon.

No entanto, mesmo que se retorne posteriormente a esta questão, preferimos resumir em primeiro lugar a doutrina formulada na GRANDE TRÍADA quando o autor, antes de deflagrar as deformações filosóficas modernas decorrentes do dualismo cartesiano “alma-corpo”, ou “espírito-natureza”, considera aquilo que denomina “o ser e o meio” (René Guénon: A GRANDE TRÍADA, ch. XIII: O SER E O MEIO — originalmente publicado pela Édit. de la Table Ronde, Paris, 1946).

Seu estudo, lembremo-lo, segue ao enunciado e à definição de um certo número de ternários. Mencionemos:

  • os três mundos: céu, atmosfera e terra da tradição hindu (tribhuwana) e as correspondências com a Grande Tríada extremo-oriental.
    • Aqui já vemos aparecer a ideia do homem executando um papel “funcional entre o Céu e a Terra, análogo àquele que preenche a alma, a intermediária entre o espírito e o corpo no estado individual humano, quando nesta “forma sutil”, dita “alma”, que está situado o “mental” caracterizando a individualidade humana. Aqui tem lugar a noção triádica de “Spiritus, Anima, Corpus”.
  • O ternário alquímico: enxofre, mercúrio e sal, ao qual Guénon religará posteriormente outros ternários como: ProvidênciaVontade — Destino, ou DeusHomemNatureza, etc.
    • Ora quando ele examina a constituição da natureza humana, ele vê igualmente um ternário: — a essência do ser com seu lado interior e ativo: o enxofre, a “verticalidade”.
  • O conjunto das influências do meio no qual ele vai se manifestar, lado exterior e passivo: o mercúrio, a “horizontalidade”.
  • A ação da primeira sobre a segunda, do enxofre sobre o mercúrio: o sal que constitui a individualidade propriamente dita. É o ponto de interseção da vertical e da horizontal, o “eu” de alguma forma. Ele deve sua especificidade ao fato que é gerado por um raio vertical preciso e “único”, em um certo estado da manifestação “macrocósmica”. Sabe-se que Guénon vê também no eixo vertical a ligação entre “todos os estados de manifestação de um mesmo ser”, um encontro do Espírito, da “Pessoa” única na multiplicidade dos estados do ser com aqui, o plano individual humano. O ser, tocando este plano horizontal (para nós o plano “individual humano”), determina as condições que doravante serão suas e levantam-se daquelas próprias a este estado. A individualidade que vai nascer e se desenvolver representará assim uma das “possibilidades” do Ser neste estado, ao mesmo tempo que um desenvolvimento das possibilidades do dito estado.

Guénon mostra então que a natureza “interna” do ser, o “Enxofre” vertical ou raio “supra-individual”, vai “cristalizar” elementos pertencentes à “ambiência“, quer dizer às diferentes modalidades do plano horizontal mercurial de encontro, que levantam-se deste estado e deste estado somente, a saber as modalidades de ordem corporal e sutil, para alcançar ao sal da individualidade humana.

O “nascimento” no estado individual humano implica portanto a absorção de uma herança fisiológica e psíquica retirada ao “meio especial” deste nascimento. Desde então repara-se bem o ternário constituído por:
I) o “fisiológico” e o “psíquico”, duas modalidades contingentes do ser em estase individual humano, montados ou organizados de uma certa maneira quando do encontro do eixo vertical e do plano horizontal. É aquilo que poderíamos chamar a “equação” individual única, determinando o “eu“, dotado de um nome e de uma forma mas condicionado pelo eixo vertical do Ser;
II) o ser verdadeiro, além das modalidades psico-corporais do estado humano, formado da multitude dos “estados do ser“, pontos contínuos do eixo vertical. É o “Si” universal, primeira determinação ou afirmação do “Princípio“, da Deidade se manifestando.