Mito Rito

MITO E RITO

Fernand Schwarz
É pelo mito que se manifesta a potência das origens. Pela iniciação, o homem torna-se companheiro delas. É durante o rito que a energia mítica é utilizada pelo iniciado para furar o absoluto e recriar o princípio divino em terra.

De fato, pelo rito, o homem realiza em terra o modelo arquetípico. Segundo sua etimologia sânscrita (rita), a palavra “rito” designa o que é conforme à ordem.

Se ele constrói um templo, é por um ritual de consagração que ele lhe confere força e eficácia pondo-o em concordância perfeita com o arquétipo. Se ele ocupa um território, ele lhe confere valor e forma para que possa habitá-lo. É o papel do ritual. Separando-os do hábito profano, o rito dá valor de realidade a esse tempo, a esse território. O efeito do ritual é conferir uma dimensão de realidade e um sentido. A realidade manifestar-se, para a mentalidade arcaica, como força, eficácia e duração. Dessa maneira, o real por excelência é o sagrado; pois somente o sagrado é de uma maneira absoluta, age eficazmente, cria e faz durar as coisas. Os inúmeros gestos de consagração — espaços, objetos, homens, etc. — traem a obsessão do real, o desejo do primitivo para o ser. Assim, a ação do homo religiosus refere-se a um arquétipo que lhe confere sua eficácia. No Egito, a vida da natureza está ligada à ação primordial de Osíris que se torna o arquétipo da fertilidade. E também pela ação primordial de Osíris entrando na vida eterna que cada ser humano poderá conquistá-la. Houve um ato inicial de reconstituição do corpo de Osíris. É necessário refazer esse ato. Todos os rituais de embalsamamento e dos funerais no Egito antigo prendem-se ao mito osiriano. Definitivamente, todo ritual tem um modelo divino, um arquétipo.

A Festa constitui a expressão ritual mais importante das sociedades tradicionais. Ela é a representação, por excelência, do mito em terra, cada participante tornando-se o princípio mediador indispensável à encarnação do mito e à regeneração do que foi.

O Sacrifício é, sem dúvida, o rito religioso por excelência: ele tem por objeto interpor uma vítima entre os mundos profano e sagrado, tratando de colocar em contato um com o outro. O sacrifício pode ser combinado com a comunhão, quando a vítima consagrada é imolada e dividida entre os membros do grupo. Passar-se em seguida a uma elaboração mais decisiva, quando a ideia de Deus, ele próprio vítima, morre e ressuscita para fazer a ligação entre o mundo humano e o sagrado.

Podemos distinguir principalmente três espécies de ritos ou de cerimônias:

  • os ritos de fecundidade, que asseguram o renascimento da Natureza.
  • os ritos religiosos, que asseguram a manutenção do mundo e dos homens.
  • enfim, os ritos iniciáticos, que asseguram a passagem da consciência humana do profano ao Sagrado.

Trataremos em particular da «iniciação», já que esse rito é distintivo de toda a sociedade tradicional viva.