Máximo o Confessor — Centúrias sobre a Teologia e a Economia da Encarnação do Filho de Deus
Tradução em grande parte feita a partir da versão francesa da Philokalia, mas eventualmente utilizada a versão inglesa.
Primeira Centúria
Sabá
35. O que foi criado no tempo e de acordo com o tempo está submetido a um fim e põe um termo a seu crescimento segundo a natureza. Mas o que se faz pela ciência de Deus de acordo com a virtude, chegado a seu fim retoma em direção ao crescimento. O fim das primeiras coisas é então o começo de outras. Pois aquele que, pelas virtudes, de acordo com a ação, reverteu nele mesmo o fundamento das coisas corruptíveis, abriu a via a outras configurações mais divinas. Jamais Deus para de fazer o bem, que não tem início. Do mesmo modo, com efeito, que o próprio da luz é clarear, o próprio de Deus é fazer o bem. Eis porque na Lei, que expõe o curso das coisas tal qual nascem e morrem de acordo com o tempo, o sabá é honrado pelo repouso, mas no Evangelho, que ensina o estado das coisas inteligíveis, este mesmo sabá está iluminado pelo benfeitoria das obras boas, quando até se irritavam aqueles que não sabiam ainda que o sabá foi feito para o homem, mas não o homem para o sabá, e que o Filho do homem é Senhor até mesmo do sabá.
36. Há na Lei e nos Profetas um sabá, sabás e sabás de sabás. Do mesmo modo, há uma circuncisão, uma colheita e uma colheita de colheita, assim como foi dito: “Quando colheres vossa colheitas”. O primeiro termo significa portanto o cumprimento da filosofia prática, física e teológica. O segundo significa a liberação do devir e das razões do devir. O terceiro significa o aporte e o deleite das razões mais espirituais dos sentidos e da inteligência. Há assim três termos para cada uma das coisas que acabamos de dizer, a fim de que aquele que tem o conhecimento (gnosis) saiba as razões pelas quais Moisés celebra o sabá morrendo fora da terra santa, as razões pelas quais Josué circuncisou os filhos de Israel depois da passagem do Jordão, e as razões pelas quais aqueles que herdaram a boa terra aportam para Deus, na super abundância, a oferenda da dupla colheita.
37. O sabá é a impassibilidade da alma dotada de razão que, pelo conhecimento (gnosis) prático, apaga por completo os estigmas do pecado.
38. Os sabás são a liberdade da alma dotada de razão, a qual, pela contemplação natural em espírito, se desapegou desta energia que, segundo a natureza, porta sobre os sentidos.
39. Os sabás dos sabás são a calma espiritual da alma dotada de razão, a qual despiu a inteligência de todas estas razões mais que estão nos seres. No êxtase amoroso ela revestiu totalmente somente Deus, e pela teologia mística tornou a inteligência inteiramente imóvel diante de Deus.
40. A circuncisão é aquilo que, acerca do devir, afasta o estado apaixonado da alma.
41. A circuncisão da circuncisão é a rejeição, que retira totalmente, acerca do devir, mesmo os movimentos naturais da alma.
42. A colheita da alma dotada de razão é a arte de recolher e de reconhecer as razões mais espirituais dos seres, segundo a virtude e segundo a natureza.
43. A colheita da colheita é, inacessível a todos após a contemplação mística das coisas inteligíveis, a compreensão de Deus que se ordena de maneira desconhecida pela inteligência. É desta compreensão que testemunha, como convém, aquele que, a partir das criaturas visíveis e invisíveis, honra dignamente o Criador.
44. Há ainda outra colheita mais espiritual. É aquela da qual se diz que é a colheita de Deus. Há também uma outra circuncisão mais secreta. E há um outro sabá mais oculto, no qual Deus, celebrando o sabá, se repousa de suas próprias obras. Tudo isto foi dito: “A colheita é grande, mas poucos são os trabalhadores”. E: “A circuncisão do coração em espírito. E: “Deus bendiz o sétimo dia e o santifica. Pois nele se repousou de todas as obras que começou por fazer. ”
45. A colheita de Deus está em todo lugar onde se repousam e habitam aqueles que são dignos de estar nele no final dos tempos.
46. A circuncisão do coração em espírito é retirada total das energias naturais dos sentidos e da inteligência acerca das coisas sensíveis e inteligíveis, pelo advento do Espírito que transfigura imediatamente e totalmente o corpo e alma, com vistas àquilo que é mais divino.
47. A celebração do sabá é a total realização das criaturas nele. Faz então com que a energia mais divina inefavelmente realizada se repouse da energia natural que despendeu no seio das criaturas. Pois pode-se fazer com que Deus se repouse da energia natural que se encontra em cada ser (esta energia pela qual cada ser tem naturalmente o movimento), quando cada um, depois de ter recebido a sua medida a energia divina, determina a volta de de Deus ele mesmo sua própria energia segundo a natureza.