Máximo o Confessor — Centúrias sobre a Teologia e a Economia da Encarnação do Filho de Deus
Tradução em grande parte feita a partir da versão francesa da Philokalia, mas eventualmente utilizada a versão inglesa.
Primeira Centúria
Paixão de Cristo
61. O túmulo do Senhor, é, da mesma maneira, ou bem este mundo, ou bem o coração de cada um dos fiéis. O lenços, são as razões das coisas sensíveis e, com elas, os modos da virtude. O sudário, é o conhecimento simples e invariável das coisas inteligíveis e, com ela, a teologia possível. É por estas coisas que o Verbo a princípio se fez conhecer, sem elas, sua compreensão, que as ultrapassa, nos é totalmente inacessível.
62 Aqueles que enterram o Senhor na honra o verão ressuscitar na glória, ele que permanece invisível a todos aqueles que tais não são. Pois não é mais possível a seus adversários o apreender, do momento que não tem mais o envelope das coisas exteriores, pelo qual parecia ser atirado às mãos daqueles que o queriam e o suportou sofrer para a salvação de todos.
63. Aquele que enterra o Senhor na honra é venerado por todos aqueles que amam Deus. Pois ele o livrou como convém da exposição e do opróbrio, não deixou aos infiéis, como um sujeito de blasfêmia, sua crucificação no madeiro. Aqueles que apuseram os selos no túmulo, e que anteriormente postaram soldados, aí fazem uma coisa odiosa. E caluniam o Verbo ressuscitado, dizendo que foi roubado. Assim como compraram com o dinheiro o falso discípulo para que ele traísse (falo do modo ostentatório da virtude), do mesmo modo compram os soldados para que caluniem o Salvador ressuscitado. Aquele que tem conhecimento sabe que o que dizem é aparência. Não ignora como e de que maneira foi crucificado, enterrado e ressuscitou o Senhor. Faz morrer os pensamentos apaixonados depostos no coração pelos demônios. Nas tentações, partilha, como as vestimentas, os modos da beleza moral. E quebra, como os selos, as figuras dos pecados de presunção postos na alma.
64. Todo homem que ama o dinheiro e contradiz a virtude por precaução, quando se encontra a procurar a matéria de sua gana, renega o modo segundo o qual se acreditava anteriormente discípulo do Cristo.
65. Quando se vê certos orgulhosos não suportar que sejam louvados os melhores, e intrigar para não pregar a verdade anunciada, o afastando por milhares de tentações e de calúnias sacrílegas, penso que o Senhor está de novo por eles crucificado, enterrado e guardado pelos soldados e selos. Mas o Verbo os revira e ressuscita. Brilha ainda mais por ter sido combatido. Assim como se calou em seus sofrimentos para alcançar a impassibilidade. Pois é mais forte que todos, ele que é, e é chamado, a verdade.
66. O mistério da encarnação do Verbo em um corpo tem nele o poder de todos os enigmas e de todas as figuras da Escritura, e a ciência das criaturas visíveis. Aquele que conheceu o mistério da cruz e do sepultamento, conheceu as razões das figuras e das criaturas. Mas aquele que foi iniciado no poder inefável da ressurreição conheceu a meta na qual, no princípio, Deus constituiu todas as coisas.
67. Todas as coisas visíveis têm necessidade da cruz: do estado daquilo que nelas pões em obra a relação sensível. Mas todas as coisas inteligíveis necessitam do sepultamento: da imobilidade total daquilo que nelas age pela inteligência. Com efeito, quando a energia e o movimento naturais ao redor de tudo foram suspensos com a relação, o Verbo, que só existe por ele mesmo, aparece de novo, como ressuscitado entre os mortos: delimita ele mesmo to que a ele vem, enquanto absolutamente ninguém a ele é unido por uma relação natural. Pois é pela graça, e não por natureza, que é a salvação dos salvos.
68. Os séculos, os tempos e os lugares pertencem às coisas que estão em relação uma com a outra. Sem eles, nada existe do que se concebe com eles. Mas Deus não pertence às coisas que estão em relação uma com a outra. Pois não tem absolutamente nada nele que se conceba com ele. Logo, se a herança daqueles que são dignos é Deus ele mesmo, aquele que é digno desta graça será mais alto que todos os séculos, todos os tempos e todos os lugares. Seu lugar será Deus ele mesmo, assim como foi escrito: “Sejas para mim um Deus que me protege, um lugar forte para me salvar”. ”
69. O fim não tem nada que se assemelhe ao meio. Pois não tem fim. Mas o meio é tudo o que existe ente o começo e o fim. Logo, se todos os séculos, todos os tempos, todos os lugares acompanham tudo que se concebe com eles, eles são após Deus, o qual é o princípio que não tem princípio. E como eles existem aquém do fim, eles não diferem do meio. Deus é o fim dos salvos. E nada do que está no meio não será contemplado neles que estão salvos no fim último.
70. O mundo inteiro está limitado por suas próprias razões. Chama-se o lugar e o século daqueles que habitam nele. Tem por natureza por modos de contemplação as razões que se ligaram a ele e que são capazes de criar neles uma compreensão parcial da sabedoria de Deus que é sobre tudo. Enquanto as razões se servem dos modos para dar a compreender, elas não podem estar dora do meio, e não dão senão uma compreensão parcial. Mas do momento que à aparição do perfeito o parcial é abolido, todos os espelhos e todos os enigmas passam: a verdade se manifestando face a face, o salvo que alcançou à perfeição divina estará acima de todos os mundo, de todos os séculos, de todos os lugares, nos quais até então foi tratado como uma criança.