ICONÓSTASE
Iconostácio, eikonosthasis
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Simbolismo
Richard Temple
A iconóstase é o painel que separa à nave do santuário nas igrejas ortodoxas. Nela estão camadas de ícones que apresentam, em forma visual, toda a teologia da Igreja; a história sagrada e personagens do passado existindo eternamente no presenta. A impressão total dos ícones dá ao espectador um sentido dele mesmo como se de pé dante de todo cosmos cujas leis e energias são personificadas pelos santos, personagens e eventos do Antigo e Novo Testamentos e da Igreja.
O desenvolvimento da iconóstase é um fenômeno russo do século XV, crescendo do painel do santuário das igrejas bizantinas que, nos períodos mais antigos, consistiram de só uma ou duas carreiras de ícones. Painéis de ícones de tamanho grande na Grécia não apareceram até o século XVI quando a forma foi importada da Rússia. Em sua completa altura consiste de cinco camadas de ícones do chão ao teto, cada camada estendendo-se através de todo comprimento da igreja.
A carreira superior mostra imagens de patriarcas e profetas do Antigo Testamento; todos olhando para o Ícones da Mãe de Deus com Cristo Emanuel em seu peito, a “Virgem do Sinal” e o resultados das profecias do AT. A carreira dos profetas não foi adicionada à iconóstase senão no século XV e foi assim a última a vir a existir. As figuras dos profetas são por outro lado raramente encontradas fora das páginas de manuscritos iluminados. Em Saltérios e Leccionários estavam presentes na tradição face inteira da imagens de retratos e não necessitavam ser mostradas olhando para o lado como foram depois do século XIV quando apareceram na iconóstase. As figuras das carreiras superiores do painel de ícones, portanto, pertencem ao ícone do tipo de retrato exceto que o eixo do corpo e a direção do olhar tornaram-se de modo que o lugar do ícone na carreira, e a relação do tema com a imagem central da Mãe de Deus, são levadas em conta.
O grupo seguinte de ícones constitui o que na iconóstase é chamada carreira do Festival. As Festas ou “dias santos” (v. Festividades) ilustram a série de eventos — a maior parte tirada da vida de Cristo e da vida da Mãe de Deus — que caem periodicamente dentro do calendário litúrgico. Aparte das doze principais festas existem numerosas festas menores, diversas das quais ditadas pela dimensão do painel e o espaço disponível. Além disto, a escolha dos temas, que parecem arbitrária a primeira vista, contém sentidos ocultos, tanto na variedade da matéria temática e na ordem na qual as imagens estão colocados no painel.
Dissemos que o aspecto histórico da vida de Cristo, são representados nos ícones, é menos importante que o espiritual. Muitas das cenas representadas na carreira de Festival são verdadeiramente não-históricos, ou seja, vêm de fontes apócrifas e não dos evangelhos. Depois do século XIV algumas destas cenas, tais como aquelas representando a Infância da Mãe de Deus, foram dadas maior proeminência que anteriormente. Isto foi no período de uma influência renovada do Hesicasmo em pintura de ícones.
O desenvolvimento da iconóstase e a introdução de novos elementos na arte sagrada russa coincide historicamente com a disseminação do Hesicasmo nos monastérios sob a direção de tais homens como São Sérgio de Radonejh, São Nilo Sorsky e fundadores do Monastério do Mar Branco, Santos Zossim e Savatii. Parece portanto que a influência hesicasta ditou a escolha de temas e que esta escolha dirigida a enfatizar o sentido espiritual nas formas visuais ao invés do literalismo ou anedota.
A sequência das cenas festivais começa com eventos da vida da Mãe de Deus e termina com a Dormição. Isto tem certa correção histórica posto que o nascimento e morte da Virgem precede e sucede o nascimento e morte de Cristo. Mas outra ideia emerge aqui quando vemos que a vida terrestre de Cristo está contida na, e tem lugar dentro da, vida da Virgem.
A seguinte sequência, formando a “carreira de de festas” seria típica de uma iconóstase do século XV. (As cenas do AT e não canônicas são marcadas com um sinal +)
NASCIMENTO DA VIRGEM +
APRESENTAÇÃO DA VIRGEM NO TEMPLO +
ANUNCIAÇÃO
NATIVIDADE
APRESENTAÇÃO DO CRISTO NO TEMPLO
BATISMO
ENTRADA EM JERUSALÉM
CRUCIFICAÇÃO
DESCIDA AO INFERNO +
ASCENSÃO
TRINDADE DO ANTIGO TESTAMENTO +
DORMIÇÃO +
Destas doze cenas notamos que quatro são da vida da Virgem, sete da vida de Cristo e uma da vida de Abraão. É também interessante que sete das cenas são providas pelo NT, uma do AT e quatro dos Apócrifos.
Uma iconóstase completa do século XV, tais como aquela decorada por Rublyov no Monastério da Trindade-Sergius em Zagorsk, incluía mais um grupo de festas menores comemorando eventos do NT e mais duas cenas apócrifas:
CONCEPÇÃO DA VIRGEM +
PENTECOSTES
LEVANTAMENTO DA CRUZ +
CRISTO LAVANDO OS PÉS DOS DISCÍPULOS
ÚLTIMA CEIA
COMUNHÃO DOS APÓSTOLOS
DESCIDA DA CRUZ
DEPOSIÇÃO NO TÚMULO
DÚVIDA DE TOMÉ
TRÊS MARIAS NO TÚMULO
Abaixo da carreira de festivais está o grupo de ícones constituindo a carreira da Déesis. Estes ícones, cuja dimensão e poder são visualmente tão surpreendentes para visitantes de velhas igrejas russas — crentes e turistas — não foram encontrados nos painéis antes do final do século XIV e são parte do renascimento daquele período. Figuras sobre a Déesis significam oração e no grupo central, que nos mostra a composição em sua forma original, vemos a Virgem e João Batista mediando por conta da humanidade no trono de Cristo. Em sua forma estendida como vemos aqui, arcanjos, apóstolos, santos e hierarquias da Igreja estão incluídas.
A imagem central é aquela do Cristo Pantocrator, o Legislador do Todo. O vemos em sua majestade sentado em um trono cercado por animais apocalípticos, querubins e serafins e várias formas geométricas constituindo a mandorla ou auréola de Glória.
Abaixo da carreira da Déesis estão as Portas Reais, assim chamadas porque o Rei de Glória, na forma dos sacramentos, passa através delas. Nas portas estão quatro evangelistas tendo sobre eles a Anunciação. As portas são a passagem para o mundo divino, simbolizada pelo santuário diante do qual a iconóstase está situada. E é uma energia do mundo divino, personificada pelo Homem, que o Arcanjo anuncia à Maria e que os evangelistas anuncia à humanidade.
Em ambos os lados das Portas Reais estão ícones comemorando o santo ou festividade para qual a igreja é dedicada e outros temas associados com a tradição local.
A iconóstase completamente desenvolvida é uma grande tradição artística verdadeiramente nos concedida desde a remota antiguidade e disponível através da Igreja Russa. Sua realização é unir, em uma forma visual compreensiva em todos os níveis, o mundo divino e o humano. Ela nos coloca no limiar dos mistérios dentro de nós mesmos. É um recital visual de toda a realidade e, como o “legomena” (“Uma vez dito…”) e o “deiknymena (cenas, demonstrações) dos antigos Mistérios, é capaz de nos iniciar no caminho da verdade universal.
A simetria e totalidade da Iconóstase, como o relacionamento de tonalidades do espectro do raio branco, é um exemplo do que os antigos e os primitivos cristãos consideravam ser uma lei natural operando em toda parte no universo. Esta lei pode ser afirmada pela fórmula que diz que o Uno contém o Múltiplo e é expressa nas antiga filosofia na ideia da Multiplicidade sendo a Unidade ou na ideia que o Uno contém o Todo.
Todo é Uno (Xenophanes).
Nada há no mundo sem alguma participação no Uno, o qual em toda sua abarcante Unidade contém antecipadamente todas as coisas, e todas as coisas conjuntamente, combinando mesmo opostos sob a forma de unidade.
De acordo com a doutrina da unidade dentro da multiplicidade tudo no universo está relacionado e , ultimamente, mesmo o homem está unido com Deus.
No nível humano a ideia de relacionamento de todas as coisas é expressa nos princípios de ordem, equilíbrio, harmonia e ritmo, qualidades que foram identificados como uma base para justo caminho de viver pelo menos desde Platão e que foram ambas a base filosófica assim como prática para as artes, músicas e arquitetura gregas. Nesta ideia universalmente aceita estavam também fundadas as artes do Egito e outras antigas civilizações.