EVANGELHO DE JESUS
Uso exclusivo por Paulo Apostolo em suas epístolas, exceto uma entrada em Atos. Destaque para a noção de “transformação” nas entradas a seguir: At 6:14; Rm 1:23; 1Cor 15:51-52; Gal 4:20; Heb 1:12
Roberto Pla: Evangelho de Tomé – Logion 114
A transformação é o grande mistério que em todo homem se há de cumprir, a obra ineludível para todas e cada uma das almas e que por si só justifica os trabalhos assumidos por Jesus de Nazaré para proclamar a Boa Nova entre os homens.
Como motivo disse o apóstolo que esta transformação não é matéria escusável por nenhuma alma, pois, afirmou de forma categórica: “Todos seremos transformados” (1Cor 15:51-52).
*Se disse que esta transformação nenhuma alma a poderá eludir (pois “todos seremos transformados”). Há que supor por isso que a alma que não se transforma em sua vida atual, em corpo, haverá de consumar-se em sua vida incorporal subsequente, no Hades interpenetrado no mundo. Esta suposição queria complementá-la Basilides (s. II) com sua hipótese da transcorporação (metensomatose) das almas depois da morte e como opção para que todos sejamos transformados. Mas a exegese oculta não se ocupa desses “saberes”, senão somente da transformação. O “lugar” onde esta se realize é mera anedota (Orígenes).
Pensava Paulo que ao dizer isso revelava um mistério, e tinha razão pois a transformação como consumação do viver do homem é um mistério, o grande mistério que menciona o evangelho. Mas não é menos certo que a transformação permanece como um mistério com todos os selos intactos, pois não é possível entendê-la em seu sentido perfeito enquanto não tenha sido realizada a transformação direta de um mesmo. Somente a alma transformada revela em si mesa e por si mesa, e somente para si mesma, o mistério.
Sem dúvida, por essa dificuldade de ser a transformação um mistério intransferível, sua consumação última foi interpretada com algumas diferenças sensíveis que há que notar.
A alma encarnou durante séculos a Esposa mística que consuma a unidade quando se consagra em suas bodas com o Esposo. Estas são as bodas que celebra o místico inundado de amor. Por tal epitalâmio se diz no Evangelho dos Egípcios, na ocasião em que Salomé, “figura” evangélica da alma que inquire e busca, pergunta sobre o “quando” da transformação, que em resposta, o “Senhor”, o diz: “Quando pisoteies a vestimenta do rubor (da pureza), e quando os dois venham a ser uma só coisa, e o varão juntamente com a fêmea, não sejam nem varão nem fêmea” (v. Andrógino).
Em suas duas logia (Evangelho de Tomé – Logion 22 e Evangelho de Tomé – Logion 61) não somente assume este evangelho a descrição da transformação dada pelo Evangelho dos Egípcios, senão que a explica. No Evangelho de Tomé – Logion 61 se define a Jesus como “o que é igual” (o saído do um, igual ao um), “que subiu ao leito” (de Salomé, a alma), e “comeu em sua mesa”. Com isto quer dizer que Cristo se fez uno com a alma e assimilou como alimento espiritual os conteúdos purificados da alma.
Segundo esta leitura, Jesus, Cristo eterno, é descrito como o andrógino divino, simbiose de varão e fêmea, saído da união epitalâmica do Esposo e da Esposa; e se Cristo é a luz do mundo, é porque “quanto seja unido estará pleno de luz, mas enquanto seja separado estará pleno de trevas.
Esta é uma descrição da transformação na unidade, a qual é consequência da união de duplo sinal da alma e do espírito. Desta união se manifesta o Cristo eterno, o qual “nasce do alto” (Nascer do Alto), como unidade no homem, não sem que antes tenha consumado para si o Esposo, no leito sagrado, o alimento não eterno que ainda restava no prato da alma.