EVANGELHO DE TOMÉ — Logion 58=>LOGION 59<=Logion 60
Jesus disse: Olhe para aquele que está vivo enquanto viveis, por medo que morrais buscando vê-lo e não o logres ver. (Roberto Pla) EVANGELHO DE JESUS: MORTE E RESSURREIÇÃO
Roberto Pla Aquele “que está vivo” é o Cristo interior, oculto, que Simão Pedro descobriu, não pelo sangue ou a carne mas pela revelação, como o ser real de Jesus, seu Eu Sou, quando lhe disse: "Tu és o Cristo, o Filho de Deus vivo" (Mt 16,1). O que diz agora o logion é que ao Cristo que está vivo há que buscá-lo durante a vida, pois a nossa vida é só um grão de sua vida; porque uma é a vida, embora somos muitos os que vivemos por ela como promessa para ver ao que está vivo e saber assim que vivemos por ele. Isso mesmo anunciaram aqueles dois anjos que menciona Lucas: “Porque buscais entre os mortos ao que está vivo?” (Lc 24,5). Como se dissessem: buscai-o entre os vivos, posto que ele é a Vida e nos vivos está.
Mas o olhar que olha em direção Daquele nunca deve ser olhar que busca ver o visível, senão contemplação alerta que revela o invisível. Se diz “ver”, mas ver, e em muitos casos ouvir, é o mesmo que crer, e crer é a forma profunda de olhar no invisível, no que não aparece, para que mediante a unção da fé, tudo aquilo que tem que ser reconhecido porque é a Vida, se revela por fim.
Esse é o mistério da fé que Jesus pedia: ver ao Filho enquanto presença de seu sopro em nós, e isto porque o espírito vem a nós quando cremos, senão porque sempre esteve em nós embora não o soubéssemos; porque segue agora aí em cada um, embora muitos ainda não saibam. E isto é o que há que entender e em consequência crer, ainda antes do ato de ver, porque crer e ver são uma mesma coisa, mas ver vem depois.
O que vem pela fé não é a presença do Filho do homem, senão o reconhecimento de sua presença eterna, o gozo da glória do Reino. Assim é como o Reino que “está próximo”, segundo se diz, vem a ser em nós, ou melhor, assim é como nós viemos a ser nele. O Reino é imovível porque é ilimitado e preenche tudo com sua plenitude; por isto não vem a buscar a ninguém, nem se afasta de ninguém jamais. Sempre está aí, bem próximo, no próprio si mesmo de quem o revela. De igual maneira, o Filho de Deus não abandona nunca o trono e a direita do Pai, embora sempre esteja seu sopro em nós segundo sua plenitude.
Quando o que busca crer, diz: “Marana-tha — Vem, Senhor!” (1Cor 16,22) — com sua petição feita desde sua imaginária e as vezes angustiosa solidão, reclama o advento de quem sempre esteve presente em seu Eu Sou e jamais deixará de estar por que é inseparável de seu si mesmo essencial. Quando o que busca crer chega a crer inteiramente, com a firme convicção de que só há um sopro, uma Vida, um Ser, então a presença é descoberta, reconhecida para sempre e adorada cada dia, em todo instante.
Dele pode se dizer, como se disse: “Bem-aventurados os que ainda não vendo creem” (Jo 20, 29).