Evangelho de Tomé — Logion 4 <= LOGION 5 => Logion 6
Jesus disse: Conhece o que está diante de tua face e o que está oculto te será revelado; porque nada há oculto que não possa ser manifestado (no logion grego (P. Oxy. 654) adiciona-se: nem enterrado que não ressuscite) Jesus disse: Reconheça o que está diante de tua face e o que te é oculto te será desvelado. Não há nada de oculto que não será manifestado. Jean-Yves Leloup Evangelho de Jesus: Mt 10,26; Mc 4,22; Lc 8,17; Lc 12,2 Roberto Pla O conhecimento que há de ser adquirido é o que vem pela contemplação da face de Deus que está diante de nossa face; porém no quarto evangelho se tem uma ressalva importante: (Jo 1,18)
O que está oculto é o Cristo interior — anthropos pneumatico criado por Deus "a sua imagem", no dia sexto: Gen 1:27). Se insiste Jesus em nos levar a descobrir que somos "mortos vivos" é porque o verdadeiro homem eterno, o Cristo, não pertence a este mundo, porque é de Acima, permanece enterrado em Vida, como vítima real e única de nosso morrer vivendo (João 8:23)
Como diz Jesus tantas vezes que nada há oculto que não possa ser manifestado (v. Nada Oculto; Mt 10:26; Mc 4:22; Lc 8:17), o que pretende é transmitir uma mensagem de esperança para os que buscam levantar em seu interior o Filho do homem em uma verdadeira "ressurreição da Vida enterrada". Então — diz Jesus — sabereis que Jesus Eu Sou. O que explica Jesus é que o levantamento do filho de anthropos em nós, que consiste em que o oculto se troca em manifesto, supõe para todos e cada um o cumprimento intransferível da obra particular para a qual fomos chamados e também a confirmação de que dita obra, o levantamento, não só é possível senão necessário. Por isso diz Jesus: « Assim tem que ser levantado o Filho do homem » (Jo 3:14).
Levantamento ou elevação até a ressurreição na consciência da luz do Filho do homem interior que somos, tem como última trama a contemplação pura da face que está diante da nossa. Mas é o Filho do homem, ressuscitado pelo conhecimento, quem alcança essa contemplação e não o homem de abaixo no qual se acha sumida, por identificação errônea, nossa consciência terrena. Em uma passagem memorável do Êxodo, se põe na boca de YHWH uma sentença reveladora: Exo 33:20 Se entende por estas palavras que com a locução minha face se significa o Ser puro em si mesmo, isento de qualquer agregado de vestimentas, as quais se expressam muito especificamente no contexto como minha glória.
Jean-Yves Leloup "Admirar as coisas que estão diante de ti!": é, segundo Clemente de Alexandria, citando a tradição de Mateus, o primeiro grau do conhecimento verdadeiro (Stromata II.IX.45)
A gnose não é uma ideologia. A gnose é abrir os olhos ao que se vê — o que está diante de nós —, não buscar em outro parte. O Céu, o Reino. Deus está aí onde estou. Onde não está? O olho no qual vejo Deus é o mesmo olho no qual Deus me vê: meu olho e o olho de Deus nada mais são que um olho, e uma visão e um conhecimento e um amor" (Mestre Eckhart). As coisas não estão ocultas — elas são evidentes. São nossos olhos que estão velados, espessos, carregados de memórias, de « a priori » que desfiguram o que está diante de nossa face.
A gnose é um longo trabalho de reconhecimento, de descoberta, do que está diante de nossa face, pela pureza do olhar e da atenção ao que é. A consequência desta atenção é que nos tornamos o que olhamos, nos tornamos aquilo que amamos.
"O homem é um espelho livre", diziam os Padres; se olha o caos, refletirá o caos; se olha a luz, se tornará luz.
VIDE Evangelho de Filipe (3 61; 20,32)
Emile Gillabert