Evangelho de Tomé — Logion 12 <= LOGION 13 => Logion 14
Jesus disse a seus discípulos: comparem-me, digam-me a quem me pareço. Simão Pedro lhe disse: pareces a um anjo justo. Mateus lhe disse: pareces a um filósofo sábio. Tomé lhe disse: Mestre, minha boca não aceitará em absoluto que te diga a quem pareces. Jesus disse: não sou teu mestre; embriagaste-te na fonte fervente que eu medi. Tomou-o, se retirou (com ele) e lhe disse três palavras. Logo, quando Tomé voltou a seus companheiros, estes o perguntaram: que disse Jesus? Tomé lhes disse: se os digo, tomareis pedras e as lançareis contra mim; um fogo sairia então das pedras e lhes queimaria. Roberto Pla EVANGELHO DE JESUS: QUE DIZEM DE MIM?
Roberto Pla A pergunta sobre o Cristo é a mesma, desde um ponto de vista oculto, que a pergunta sobre o Ser, pois consiste em interrogar sobre a essência que se é — o que se é em si — como chama de um mesmo lugar comum. Na ocasião que este logion relata, os discípulos Simão Pedro e Mateus revelam na estreiteza de suas respostas não ter chegado ainda ao ponto de se perguntar sobre o Ser puro e desnudo. Ao explicá-lo como um anjo do justo, ou como um filósofo sábio, é evidente que ainda não tinham ido em sua consciência além de se imaginar o Ser-que-eles-são como uma unidade condicionada pela ideia de separação e os agregados qualificativos, por elevados que estes apareçam.
No entanto, Tomé não deixa dúvida por sua resposta de que conseguiu despojar sua concepção do Ser de toda vestimenta limitativa, até o ponto de poder reconhecer-se a si mesmo como o grão puro e limpo de palha. Para chegar a este tremendo descobrimento, decisivo quanto a realização espiritual, que consiste na percepção do Ser isento de qualquer agregação, foi necessário que Tomé fizesse sua por apreensão direta, a Glória de sabedoria, da qual participa Jesus com o Pai, para que, segundo explica o evangelho, todos sejam um como nós (o Pai e eu) somos um. Este sim é sem dúvida o mistério da unidade do Ser. Tomé revela em seu poderoso silêncio ter descoberto este mistério, assim como revela tê-lo compreendido e feito seu o Apóstolo Paulo quando diz: "porque por ele (por Cristo), uns e outros temos livre acesso ao Pai em um mesmo Espírito" (Ef 2,18).
Como adverte em seguida Jesus, já bebe Tomé, até o ponto de embriaguez espiritual, na mesma fonte da unidade que Jesus ensina. Se desta fonte diz Jesus que é "fervente", é porque a água que dela emana não é outra que o fogo do conhecimento que incendia e devasta todo vestígio separativo até deixar em pura desnudez a medida perfeita do Ser. Por isso Jesus, que não ignora que Tomé e ele são em essência "perfeitamente uno" (Jo 17,23), não aceita neste caso ser designado como "mestre" posto que ele é o "si mesmo" de Tomé na unidade. Com isso tenta Jesus desprender o último véu separativo que obscurece a consciência de Tomé, até o ponto de que fecha a seus lábios maravilhados aceitar a grandeza da imensa verdade que o possui. As três palavras que Jesus diz, ao final, no apartado secreto de sua câmara não resulta demasiado difícil coligi-las, pois devem tender a afiançar sua consciência crística: "Tu és Cristo (pois que Cristo "é todos" em essência). Com estas palavras acaba de cumprir-se em Tomé o conteúdo verdadeiro da pregaria de Jesus: "Pai santo, cuida em teu nome aos que me hás dado, para que sejam uno conosco" (Jo 17,11).
Jean-Yves Leloup « Para vós que sou eu? » A questão é posta nos sinóticos como no Evangelho de Tomé. Aqui Pedro não confessa o Messias, mas vê em Jesus um anjo — um « enviado ». Cada um percebe Jesus segundo seu nível de consciência. Para uns, « tu és Elias », para os outros, um filósofo sábio, quer dizer alguém que não se contenta de anunciar a palavra como os enviados ou os profetas, mas que a vive, a encarna (o Corão dirá mais tarde que Jesus é o « selo da santidade »). Mas é Tomé que parece mais próximo do mistério de seu Ser. Pelo conhecimento de Si Mesmo, ele desceu nas profundidades do « homo absconditus » à imagem do « Deus absconditus ». Fez a experiência do Inefável, do Inconhecível nele, também pode-se reconhecê-lo no Outro.