Chouraqui
22 IHVH-Adonaï Elohîms dit: “Voici, le glébeux est comme l’un de nous pour connaître le bien et le mal. Maintenant, qu’il ne lance pas sa main, ne prenne aussi de l’arbre de vie, ne mange et vive en pérennité”!
Nothomb
[(Gen 3,22 E Deus pensou: Eis o Homem, (que) é como Uno, fora de si em busca de onisciência e agora, de medo que ele estique a mão e tome também da Árvore da Vida e coma e seja morto-vivo (HY) para sempre.)]
Este versículo em nossas bíblias faz de Deus um tirano furioso e mesquinho, invejoso do Homem, pronto a destituí-lo de seus privilégios, «tornado como um de nós» porque teria conquistado «o conhecimento do bem e do mal» reservado aos seres divinos, e que confiaria ao texto suas reflexões rancorosas de potentado vexado, cuja vingança seria terrível. Mas esta interpretação tradicional é uma simples abominação. Sintaticamente não é defensável. A tradução «tornou-se» tomada ao grego é falsa. O texto porta o verbo HYH «ser» no completo», que no discurso direto tem valor de presente, e significa claramente aqui «é» de maneira essencial. É a natureza do Homem de que é questão, e que Deus lembra solenemente uma última vez antes de sua saída do jardim, em constatando que ela lhe permanece adquirida, mesmo se prefere o abandonar.
Mas esta constatação conduz a outra, e Deus já a fez quando o Homem pretendeu justificar seu medo por sua nudez. O Homem decadente, e que se obstina em sua decadência, não é mais ele mesmo. Ou melhor, ele o é ao mesmo tempo não sendo mais. Ele está, como se diz «fora de si». E é isto que Deus pensa em sua reflexão que o relato lhe presta. Há, como frequentemente em hebreu bíblico, um pronome relativo subentendido entre HN H’DM e K’HD, entre «Eis o Homem» e «Como Uno». Só Deus é verdadeiramente Uno, o Homem só é analogicamente, e «como Uno» quer dizer aqui «semelhante a Deus» e «à imagem de Deus». Logo leio na sequência «Eis o Homem, que é como Uno, cuja natureza é de ser à imagem de Deus, ei-lo MMNW, quer dizer fora dele». Traduzi MMNW assim pelo nome da árvore-código, traduzi-lo assim por Homem. Deus constata que o Homem saiu dele mesmo e isso porque partiu em busca da Omnisciência, da Razão assim dizendo soberana, mas que não é mais que mentira, cortada do símbolo da Realidade edênica, que a Mulher amputou do que ela tomou por um «fruto». Mas de que, no texto, a serpente então, e Homem na reflexão de Deus aqui, amputam o «nome de código». Eles o amputam da palavra ‘(TS) «árvore», e pretendem dela não guardar senão «o Conhecimento total» ou «a Omnisciência». É isso a «Queda». A redução da Realidade ao Conhecimento assim dizendo total que propõe a lógica, mas que justamente não pode mais ser total quando ele não está mais vivente.
E em seguida desta dupla constatação contraditória, Deus tira a consequência que deve barrar ao Homem «fora de si» o acesso da Árvore da Vida. De impedir este «mortal» voluntário, que permanece por natureza imortal, de imortalizar, se se pode dizer, sua mortalidade, o que seria propriamente o que o sadismo dos teólogos chamará «o inferno». Deus faz aí, para salvar o Homem do pior, um golpe, o único nestes relatos, contra a liberdade do Homem. Não somente ele o deixa sair do jardim mas o empurra para fora, o expulsa, para que não possa «esticar a mão» (como um cego) para a árvore invisível, dita Árvore da Vida, que faz par à árvore-código também invisível, simbolizando a Realidade edênica, e constitutiva como ela do jardim.
Abécassis
“Eis que o homem se tornou como um de nós, conhecendo o bem e o mal.”
Como entender esse “um de nós” pelo qual o homem não pode mais ficar no Paraíso, porque:
“Talvez ele estenda a mão, também tome da árvore da vida, coma e viva para sempre.”
A.A. — Nesta afirmação há uma admissão implícita do aspecto positivo da culpa; através dele Adão tornou-se “um deus”, um ser divino, isto é, infinito. A serpente estava, portanto, aparentemente certa, pois ela havia levado a mulher a comer o fruto proibido, dizendo-lhe: “serás como os deuses, se comer”. A coragem de enfrentar o conhecimento do Bem e do Mal, atravessar este limite e esta separação, ir além do Bem e do Mal e encontrar o desejo puro, o impulso, a força vital nua para assumi-lo para a sua própria satisfação fora de toda lei, em uma palavra o que chamamos de delírio do infinito e que os gregos chamavam de hybris, esta é a experiência feita pelo homem: ele se toma por Deus, pois “vive além de todos os limites”. Ele se tornou sobre-humano… por usurpação, é claro.
J.E. — Voltemos ao nosso verso. Com quem Deus está falando? Podemos entender essa expressão “um de nós” de duas maneiras. Deus fala com sua “corte”, sua “família”, como costumam dizer os rabinos do Talmud, os Anjos. Significa, portanto, que o homem se tornou um ser divino como os Anjos, ou, e este é o significado frequentemente dado à palavra Um na Bíblia, como Aquele entre os Anjos, o primeiro, o único: Deus.
A Bíblia havia estabelecido duas diferenças entre Deus e o homem: conhecimento de valores, imortalidade. A falha aboliu parcialmente a primeira diferença. Doravante o homem conhece o Bem e o Mal. Melhor: a partir de agora, qualquer sociedade se considerará livre para estabelecer seus próprios valores! Se existe agora a possibilidade de que o homem também se aproprie da imortalidade, a liberdade que ele adquiriu torna-se uma fonte de perigo.
Também devemos ir mais longe. A expulsão do paraíso, examinada mais de perto, parece menos uma sanção do que o fim de um privilégio.
Fabre d’Olivet
22. Disant, IHÔAH, LUI-les-Dieux : voici Adam, l’Homme universel, devenu semblable à l’un d’entre nous, selon la connaissance du bien et du mal. Mais alors, de peur qu’il n’étendît la main, et qu’il ne se saisît aussi du principe substantiel des Vies, qu’il ne s’en nourrit, et qu’il ne vécût en l’état où il était, durant l’immensité des temps ;
LXX
(3:22) και ειπεν ο θεος ιδου αδαμ γεγονεν ως εις εξ ημων του γινωσκειν καλον και πονηρον και νυν μηποτε εκτεινη την χειρα και λαβη του ξυλου της ζωης και φαγη και ζησεται εις τον αιωνα
Vulgata
(3:22) et ait ecce Adam factus est quasi unus ex nobis sciens bonum et malum nunc ergo ne forte mittat manum suam et sumat etiam de ligno vitae et comedat et vivat in aeternum