Evangelho de Tomé – Logion 52

Pla

Seus discípulos lhe disseram: vinte e quatro profetas falaram em Israel e todos falaram de ti. Ele lhes disse: Haveis esquecido àquele que está vivo em vossa presença e haveis falado dos que estão mortos.

Puech

52. Ses disciples lui dirent : Vingt-quatre prophètes ont parlé en Israël, et ils ont tous parlé de toi [« de toi » : litt. « en toi », « par toi »]. Il leur dit : Vous avez délaissé Celui qui est vivant en votre présence et vous avez parlé de ceux qui sont morts.

Suarez

1 Ses disciples lui dirent : 2 vingt-quatre prophètes ont parlé en Israël 3 et tous se sont exprimés par toi. 4 Il leur dit : 5 vous avez rejeté Celui qui est vivant devant vous 6 et vous avez parlé des morts.

Meyer

52 (1) His disciples said to him, “Twenty-four prophets [2 Esdras 14:45 gives twenty-four as the number of books in the Jewish scriptures] have spoken in Israel, and they all spoke of you.” (2) He said to them, “You have disregarded the living one who is in your presence and have spoken of the dead.” [Cf. Augustine Against the Adversary of the Law and the Prophets 2.4.14]

Canônicos

Felipe achou a Natanael, e disse-lhe: Acabamos de achar aquele de quem escreveram Moisés na lei, e os profetas: Jesus de Nazaré, filho de José. (Jo 1:45)


Comentários

Roberto Pla

Acento sobre o Cristo oculto. Do Cristo está dito que “se fez carne e estabeleceu sua morada em nós”, e esta verdade que a doutrina eclesial afirma com justiça, não seria a verdade absoluta se a locução “em nós” não levasse em conta que revindica, como assim é, a presença universal do Cristo. Desde o primeiro Adão não é possível nenhum homem no qual o Cristo não seja o morador, enviado pelo Pai mas ignorado de muitos, quer dizer, oculto, embora ele é o Ser essencial eterno, a Vida imortal de cada um.

Este ensinamento (do Cristo oculto em nós) é a medula por onde corre toda a mensagem evangélica, e se poderia dizer que não há nele uma só passagem onde não se transluza a determinação clara de Jesus e dos evangelistas e consignar o testemunho permanente da presença do Cristo de Deus nas Escrituras. Assim, já nos primeiros passos de Jesus com seus discípulos conhecemos a notícia de Felipe a Natanael: “Encontramos àquele de quem escreveram Moisés na Lei e também os profetas” (Jo 1,45), e não é um fato casual que uma vez consumada sua obra, depois de sua ressurreição, aproveitara Jesus o caminhar dos discípulos que iam a Emaus para lhes explicar o que havia sobre ele em todas as Escrituras, não sem lamentar dos tardos de coração “para crer no que disseram os profetas” (Lc 24, 25-27). Como disse depois: “É necessário que se cumpra tudo o que está escrito na Lei de Moisés, nos Profetas e nos Salmos acerca de mim” (Lc 24,44).

Com um propósito de ser fiel a este cumprimento de universalidade expresso por Jesus se afanou a exegese eclesial, já desde os primeiros séculos cristãos, por descobrir e assinalar nos escritos testamentários as linhas de convergência de ambos testamentos quanto à referência messiânica, até o ponto de formular um gênero de interpretação tipológica segundo a qual algumas pessoas e acontecimentos vetero-testamentários prefiguram em sentido espiritual a revelação evangélica de Jesus, Filho de Deus.

Tudo isso é bem notório e não vai ser descoberto agora; mas é necessário recordar que tais estudos bíblicos se inscrevem na vertente manifesta de Cristo e portanto atendem em especial à predicação divina ou profética do ato messiânico nos acontecimentos sucedidos durante o período evangélico. Por isso ocorre que a interpretação tipológica da exegese eclesial parece atender unicamente à configuração messiânica quanto ao fato de que “pôs sua morada entre nós”, ou melhor, como pode entender-se, que se manifestou no mundo para proclamar a Boa Nova na ocasiões, lugares e circunstâncias de exceção que relatam os evangelhos segundo a leitura manifesta.

Tal interpretação é, sem dúvida, verdadeira, mas não inclui toda a verdade e resulta ainda mais de “tardeza de coração”, segundo as palavras de Jesus, pois nos diz tudo o que há sobre ele nas Escrituras. Com efeito, o testemunho de Cristo dado no AT não é somente temporal e tipológico, não vê unicamente a seu cumprimento no futuro a partir de uns modelos que os profetas vivem a seu modo e que se cumpriu em Jesus Cristo. Há muito mais nele, ainda que isso já é muito. O testemunho vetero-testamentário é uma realidade contada “literalmente” ainda que em sentido impróprio, não isenta de figurações alegóricas, por aqueles patriarcas e profetas que descobriram, em sua consciência altamente espiritualizada, o fato pasmoso de que o messias tinha “posto sua morada neles”; quer dizer, que em sua essência eles eram o messias, o Cristo, enquanto seu espírito era luz, filho da luz; e a luz, já sabemos, é o Filho, o manto de Deus.

Este é o testemunho das Escrituras que a Jesus o interessa que fique bem esclarecido para a posteridade e que agora, depois de tantos séculos, permanece ainda muito pouco estudado pelos seguidores de Cristo. No entanto, os evangelhos canônicos são testemunhos fiéis. Quando Jesus diz: “Vosso pai Abraão se regozijou pensando em ver meu Dia; o viu e se alegrou (Jo 8,56), os que olham segundo a vertente manifesta interpretam que Jesus menciona um fato profético, a saber, que Abraão “viu e se alegrou” em seu tempo daquilo que séculos mais tarde ia a significar o nascimento e passagem de Jesus nas terras de Jerusalém; mas Jesus fala aqui do Cristo eterno, morador e luz verdadeira que ilumina a todo homem que vem a este mundo, e daí sua resposta: “Antes que nascesse Abraão Eu Sou” (Jo 8,58). Abraão viu, com efeito, ao Salvador, ao Cristo (ungido) eterno, pois como ao justo Simeão do qual conta Lucas, o foi dado ver, antes de saborear a morte, “ao Cristo do Senhor” [Menino Jesus no Templo (Lc 2,21-52)]. Abraão viu o fruto espiritual de sua velhice nascido da promessa, de onde lhe veio sua alegria em seu Dia.

Naquele que descobre ao Cristo de Deus vivo em si mesmo, reconhece a verdade do testemunho das Escrituras segundo a qual Cristo foi instituído como morador celestial desde o sexto Dia para todos os homens de todos os tempos. Isto o descobriu Davi quando conheceu, segundo credita em seu Salmo, o decreto de YHWH: “Tu és meu filho; eu te engendrei hoje” (Sl 2,7). Este filho divino é o “fruto” de varão que a Davi o foi imputado pelos israelitas como promessa de Deus e por ele se abriu uma expectativa manifesta do Messias no tempo. Mas este filho de Davi não é distinto senão o mesmo que foi prometido a Abraão e a Moisés e que foi anunciado como instituição em todos os profetas. Sempre, e em todos os casos se trata de Emanuel, o Deus conosco, o qual é Jesus Cristo, e daí o motivo pelo qual o mestre reivindica para si não só enquanto Filho de Davi senão enquanto Senhor de tudo o que, movido pelo Espírito, o descobre em seu seio ([Disse o Senhor ao meu Senhor->breve10492]).

Mas para chegar a este magno sucesso é necessário começar por receber, ainda que seja na brevidade de um “relâmpago que sai do oriente e brilha até o ocidente” (Mt 24,27), quer dizer, na infinitude do espaço incondicionado, a primeira intuição ou vislumbre da vinda (da presença) do Filho do homem. Esta é a chama na qual ao final se incendeia a fé, Depois, já o sabemos: “O que se vê é o resultado do que não aparece” (Hb 11,3; ou o que é o mesmo: o visível nasce do invisível).