Segundo Alain de Libera a intenção de Eckhart é converter cristãos. Trata-se de conduzi-los pelo verbo ao evento de pensamento que é, na escuta atenta das frases, o Verbo que os transita. Trata-se de deixar eclodir ou nascer o Verbo ele mesmo, o Filho, na alma daqueles que “orando em espírito e em verdade” (Jo 4,23), se tornam, na auscultação interior do Verbo, filhos de Deus, filhos por adoção: “O primeiro fruto da Encarnação do Cristo, Filho de Deus, é que o homem seja pela graça da adoção aquilo que ele é, ele, por natureza, segundo o que é dito aqui (Jo 1,12): Ele lhes deu o poder de se tornar filhos de Deus, e 2Co 3,18: A face descoberta, refletindo como em um espelho a glória do Senhor nós somos transformados na mesma imagem, de claridade em claridade”. Fundada sobre uma nova relação à palavra que, no espaço sonoro do sermão, intima o mistério silencioso do renascimento da alma em Deus, Eckhart é o primeiro teórico de uma prática da prosa religiosa que, no rigor dos termos, “se escuta falar”. Pregando o Verbo, sua palavra é o Vero encarnado. Requerido na e pela dicção do Verbo, o predicador só faz anunciar a todos os cristãos a boa nova de um nascimento que não cessa de se operar a sua revelia: ele os chama a ouvir aquilo que, a todo momento, mas sem qualquer tempo, “se diz” neles.O sermão realiza assim o gesto de uma oração unânime onde o locutor se apaga em cada um diante do que se enuncia na comunhão do instante. O gênio do predicador Eckhart é de fazer passar o Verbo na palavra e fazer cada verbo um lugar da Palavra. Momento capital da liturgia, o sermão se torna assim o lugar de expressão do Verbo, a missa em verbo do Verbo.
Esta prática quase sacramental da predicação não significa no entanto uma desvalorização do sacramento do altar, um afastamento da eucaristia. A relação estreita da comunhão da palavra com a manducação do Verbo é, ao contrário, fixada desde a primeira grande obra de Eckhart: o Sermão Pascal. Neste sermão universitário pregado em Paris nos anos de formação, a função do discurso é claramente definida: preparas a Páscoa, quer dizer “fazer o vazio” precedendo uma “eucaristia dos pobres” entendida como “participação deiforme à vida divina” (in uniformem deificationem).