Hesiquio Batos

PHILOKALIA-AUTORES — HESÍQUIO DE BATOS (séculos VIII-X)

Apresentação em inglês

Higumeno de Nossa Senhora da Sarça (Batos), no Sinai; autor de duas centúrias Sobre a sobriedade e a virtude (P.G. t. 93, c. 1480). Posterior a João Clímaco e a São Máximo, que utiliza.

Hesíquio ensina uma noção muito simples da vida espiritual, que ele repete incansavelmente ao longo de seus 200 capítulos. Para ele, tudo está na atenção, na sobriedade ou ainda na hesychia, da qual as duas primeiras são o objeto, o meio e o fim ao mesmo tempo.

Combata os pensamentos, não haverá mais pecado, pois o pecado é atraído pela inclinação criada por uma primeira representação (prosbole) que não se conteve por não se ter sabido distingui-la. É uma questão de atenção. E de graça: daí vem o segundo princípio, da invocação de Jesus, da oração monológica a Jesus. A resistência (agon) ao pensamento se desenrola em três tempos: em guarda, para desmascarar o pensamento intruso, bom ou mau; resistência e mobilização da cólera sadia (a “cólera segundo a natureza”) contra o indesejável; enfim, a simples invocação, atada à respiração, que saneia e purifica o ar do coração.

A história dessa atenção articulada à oração de Jesus, é a mesma do progresso espiritual. Começa por uma escada (a observação dos mandamentos, as virtudes — arete), depois ela nos abre um livro (a ciência dos seres, as contemplações inferiores); em fim introduz, na Jerusalém espiritual, a visão de Cristo (a “teologia”) na luz de nossa alma.

As duas centúrias já apresentam essa simplificação que surpreende em um Nicéforo, o Solitário: a perfeição espiritual é absorvida pela atenção e a oração de Jesus. Sem a famosa técnica e, mais tarde, o aporte palamita sobre a visão da luz do Tabor, Nicéforo e o pseudo-Simeão não passariam de pura e simples reedição de Hesíquio. (Jean Gouillard, Pequena Filocália)


Segundo a tradução inglesa da Philokalia,Nicodemos o Hagiorita identifica estes escritos como sendo de Hesíquio de Jerusalém, autor de comentários bíblicos, que viveu na primeira metade do século V. Hoje em dia se reconhece, como sendo de Hesíquio de Batos, que viveu em época desconhecida, mas provavelmente depois (séculos VIII ou XIX) de João Climaco (séculos VI ou VII). Hesíquio referencia também Marcos o Asceta e Máximo o Confessor. Nicodemos recomenda especialmente seus ensinamentos sobre a vigilância (nepsis, epimeleia), atenção (prosoche) e guarda do coração (kardia). A devoção de Hesíquio pelo Santo Nome de Jesus, valoriza esta seleção para quem se interessa pela oração de Jesus (Kyrie Eleison).

Na tradução francesa da Philokalia, trata-se de um abade do mosteiro da Sarça Ardente, no Sinai, donde seu nome Hesíquio de Batos (gr. batos = sarça). os tradutores franceses entendem que o tratado é mais um trabalho de uma escola monástica, indubitavelmente esta do Sinai, do que de um indivíduo. A ênfase na obra é de um “recolhimento por inteiro na cripta da purificação do coração”. A ascese do corpo aí se refina em ascese da inteligência. Fazer monge o homem interior é o grande trabalho que implica graça e confiança, apelo contínuo a Deus, antes de tudo o exercício da humildade real: ampliar em nós as vantagens dos outros, e nos considerar a nós mesmos como terra e cinzas. Tudo se concentra na guarda da inteligência ou do intelecto (nous), na “porta do coração”.

Os capítulos ilustram um “método espiritual” de purificação, fundamental na Philokalia. Destacam-se três modos de ascese: a nepsis, a hesychia e a oração de Jesus. A nepsis, traduzida por vigilância, mas também significando sobriedade, é a virtude crucial da inteligência que se volta para si mesma (arrependimento = metanoia) para não ser mais que total atenção à pureza do coração e alcançar a transparência original e última. Esta nepsis da inteligência leva à hesychia do coração, este repouso, quietude, silêncio, signo do estado divino. Na hesychia do coração se instala a oração de Jesus.


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