Bereshith

Bíblia — Bereshith ou Bereshit

VIDE: genesis, gênese, Criação, Bíblia das Origens, Relato dos Seis Dias

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Zohar

“Bereschit (En el comienzo)”.

R. Yudai preguntó: ¿Cuál es el significado de Bereschit?

Significa “con Sabiduría”, la Sabiduría sobre la cual se basa el mundo, y a través de esto nos introduce a misterios profundos y recónditos. En ella, también, se halla la inscripción de las seis principales direcciones supremas, de las cuales surge la totalidad de la existencia. De la misma salen seis fuentes de ríos que fluyen al Gran Mar. Esto está implicado en la palabra Bereschit, que puede ser descompuesta en Bará-Schit (“El creó seis”).

Y, ¿quién los creó?

El Misterioso Desconocido.

Nothomb

RELATO DOS SEIS DIAS; Túnicas de Cego

“No princípio” se escreve em hebreu BR’ (SH) YT (pronunciado “bereshit”). Em seis letras formando uma única unidade gráfica, que se pode decompor por um número de letras crescente:

  • BR’ = “criar”
  • BR'(SH) = na cabeça
  • BR'(SH) YT = no princípio

Note-se que cada uma destas palavras (ou melhor sintagmas pois em 2 e 3 o B representa a preposição que na escritura hebraica é aditada à palavra à qual ela se relaciona) começa por BR’ que quer dizer bem mais que “criar” em francês (ou português), razão pela qual se põe entre aspas.

Depois de “no princípio” vem em hebreu o verbo que se escreve em três letras idênticas às três primeiras de “no princípio”. Verbo que se tem o costume de traduzir em francês (ou português) por “criar”.

A confusão do vocabulário aqui é grave. Em francês fala-se correntemente de criação publicitária”, de “criatividade das empresas”, etc.. Em hebreu mesmo moderno o verbo BR’, quando é empregado, não tem jamais outro sujeito que não seja Deus. Só há em hebreu um só “Criador”, não há “criadores”.

A que poderia fazer alusão, sem referência a um ato divino, este algo que teria um princípio e que se situaria no cérebro humano (na cabeça) senão àquilo que no pensamento moderno se denomina “a realidade”? Pois deve-se notar que o “princípio” que é o título em hebreu da “Bíblia das Origens” não é um princípio absoluto mas o começo da organização daquilo que ela denomina “tohu-bohu” (um dos raros termos hebreus passados às línguas latinas). Antes deste princípio existe a matéria “informe e vazia, obscuridade acima de um abismo” e energia “vento divino planando acima das águas” como evoca magnificamente o texto. Este algo que tem princípio no cérebro humano (na cabeça) é a disposição em forma deste indistinto que não tem “realidade” sem ele. É a “invenção da realidade” a partir da matéria-energia que lhe preexiste (na medida que um estado inconsciente pode “existir”; no sentido estrito não existe que retrospectivamente para a consciência que o faz existir).

A análise sintáxica do segundo versículo (Gen 1,2) demonstra claramente que ele descreve um estado anterior àquele do primeiro (Gen 1,1), o que nem sempre aparece em nossas bíblias.

Mas bem entendido a “Bíblia das Origens” subordina este “princípio” a um ato divino, este algo, esta “realidade” que se elabora no cérebro humano na “Criação” do cérebro humano. A todo processo da Criação que chega ao cérebro humano.

As palavras BR’ (SH) YT (ponunciado “bereshit”: no princípio) e BR’ (SH) (pronunciado “barosh”: na cabeça ou “berosh” = em uma cabeça) começam, se vê, pelas letras do verbo BR’ (pronunciado “bara”: “criar”) que é repetido, isolado, justo após o texto.

Annick Souzenelle

RESSONÂNCIAS BÍBLICAS; trad. Antonio Carneiro

Bereshit ( Beth — Resh — AlefShinYodThav ) “No princípio”, tal é a primeira palavra do livro do Gênese, e, lhe fazendo eco, a primeira palavra do evangelho do apóstolo João.

NO PRINCÍPIO É O VERBO”, disse João, o apóstolo “ao segredo divino”, a Águia de Deus, que vê a impenetrabilidade de toda a coisa. Nessa impenetrabilidade está o Verbo, fundador de toda criatura. Ele é.

O Verbo é o Presente; Ele se revela no tempo presente, YHWH, “Eu sou”.

O apóstolo João não fala de um “começo” histórico que seria então para nós um passado, mas de um princípio”, presente no coração de cada um de nós, o “oriente” do ser. Se este espaço original, diamante do ser, que é o oriente é ainda chamado o “muito antigo” em nossos textos sagrados, não é em referência ao tempo histórico, mas àquele de nossa interioridade, àquele do interior de toda a coisa.

Toda a coisa, em sua impenetrabilidade, está ligada ao Verbo criador; uma só palavra, Dabar, diz-se em hebreu; Dabar é o “Verbo”, mas também a coisa, pois toda coisa não tem realidade senão em sua relação com o Verbo que a funda.

Leo Schaya

A CRIAÇÃO EM DEUS [LSCD]

Começando pela primeira frase da Bíblia, ela não concerne diretamente os seis dias descritos no seu primeiro capítulo, mas os aspectos fundamentais e prototípicos do criador mesmo: seu Supra-Ser ou a Tri-Unidade sefirótica, assim como suas sete potências ou sephiroth onto-cosmológicos. Tudo se situa ainda no Princípio, como indica a primeira palavra deste verso inicial: Bereshith, que se traduz habitualmente por “No princípio” e que significa precisamente “dentro do Princípio”. Logo: “dentro do Princípio (que Ele é Ele mesmo), Deus criou os céus e a terra” que Ele é igualmente, se se considera seu estado principial, arquetípico, eterno, onde eles são tantos de seus aspectos sefiróticos.

A frase inicial do Gênesis, que fala a primeira vista da criação como tal, revela na verdade a divina Essência e seus Aspectos prefigurando e atualizando o criado; ela é em hebreu: “Bereshith (Dentro do Princípio) bara (criou) Elohim (Deus, ou lit. Deuses) eth hashamayim (os céus) veeth haarets (e a terra)”, e nós comentaremos segundo esta ordem hebraica das palavras, assim como o faz a exegese cabalística. Bereshith não designa a Essência absoluta em si ou a primeira Sephirah, Kether elyon, a “Coroa suprema”, mas a segunda Sephirah, Hokhmah, a «Sabedoria» ou o Conhecimento próprio e universal de Deus, seu aspecto inteligente, inteligível e ativo, que se determina ele mesmo como Ser causal compreendendo todos seus efeitos. Este se destaca ele mesmo de sua própria Essência absoluta ou da Sephirah suprema, o Supra-Ser não-causal ou Kether, que permanece o Indeterminado, o Incondicionado, o Inefável, ao qual se faz alusão na segunda palavra desta frase bíblica, a saber bara, “criou”. Não que Kether crie algo; pelo contrário, não causa nada e deixa agir Hokhmah, a Causa primeira, o que é indicado precisamente pela ausência do sujeito que deveria preceder o verbo «cria», sem que seja precisado “quem”cria; e é esta ausência ou ocultação que simboliza Ain, o divino «Nada», quer dizer Kether, enquanto é a Realidade absoluta ou absolutamente não-manifestada. Ora, Kether é não somente o Absoluto que transcende tudo o que não é Ele, mas também o «Infinito» (En-Soph) que implica toda realidade: é portanto também a Toda-Realidade, a Unidade infinita do Supra-Ser e do Ser, a Essência supra-ontológica do Ser, tanto que não há dualidade intrínseca entre eles. Kether é ao mesmo tempo o Supra-Ser não-causal e o Ser, enquanto repousa em sua própria Essência sem criar o que quer que seja; e é por e em Hokhmah, sua Sabedoria ou seu Aspecto cognitivo, que cria — sem agir Ele mesmo —, e eis porque Hokhmah é chamado «Pai» de todas as coisas. É Ele que cria, e então, não em modo cósmico, mas in principio (bereshit), como o indica o versículo bíblico que nos ocupa: Ele cria em se determinando Ele mesmo como Elohim, «Deus» e Criador, implicando seus efeitos ao estado arquétipo e ao estado criado.

Chouraqui

Genesis intitulava-se a tradução dos LXX (Setenta); Beréshit, Entête, anunciam os hebreus. E de fato este livro não deixa de encabeçar o Pentateuco e a Bíblia inteira: não apenas relata a gênese do mundo, como também constitui a chave do Livro. Este volume, que descreve as origens do universo e da humanidade, é o testemunho irrefutável de uma das mais profundas experiências — sempre atual — do espírito em busca de suas raízes e de suas finalidades.

Beréshit empregado substantivamente só aparece neste texto. É um hápax, uma palavra usada “uma única vez” (de fato retorna quatro vezes em Jeremias, mas com um sentido totalmente diferente). Os redatores quiseram abrir a Bíblia por uma palavra inaudita e única, cujo sentido não foi esgotado em mais de dois milênios de meditações. En archè traduziram os LXX, mais tarde corrigidos por Áquila: En kephalaio, Entête. Jerônimo, entre as duas traduções gregas, hesita visivelmente e escolhe uma solução intermediária ao escrever ao alto de sua tradução In principio, termos que permitem duas interpretações, uma concreta, no sentido de Beréshit, a outra abstrata, mais próxima de En archè. Depois, os tradutores aumentam a distância entre o texto e sua tradução, interpretando In principio como Au commencement, In the beginning (No começo), apagando assim as significações próprias da primeira palavra da Bíblia onde só figura uma vez. Beréshit tem três componentes: Be em, rosh cabeça; it desinência que dá um sentido abstrato à palavra que termina. Para conservar a força e o mistério desse termo, era preciso forjar um neologismo que, ele também, só aparecesse uma única vez em toda a Bíblia. Entête (e não En tête, nem En-tête) acompanha assim fielmente a estrutura da palavra hebraica e sustenta, por ser nova, a multiplicidade de significações que os exegetas, há mais de dois milênios, atribuem a Beréshit.

Os babilônios também denominam seu poema que canta a criação do universo pelas primeiras palavras Enuma elish, “Quanto ao cume”, e a epopeia de Gilgamesh Sa nagba imuru, “Aquele que experimentou tudo”. Mais concisos, os hebreus nos situam com uma palavra, Entête, na fonte de todas as gêneses, as do universo, do homem, de Israel, como também de uma revelação, a da Bíblia, cujo mistério eles não pretendem dissipar. Os onze primeiros capítulos do Gênesis, profundamente diferentes, por seu estilo e seu conteúdo, do final da obra, descrevem a criação do universo e da humanidade, em sete dias; a história do jardim do Édèn (Éden), de onde o homem pecador é expulso; o drama durante o qual Caín (Caim) mata Èbèl (Abel); a vida dos patriarcas antes do dilúvio, o prelúdio do desastre; o dilúvio no qual a humanidade e o reino animal são salvos por um justo, Noah (Noé); um novo pacto; Noah e seus filhos, ancestrais de todas as nações da terra; a torre de Bab èl (Babel); e finalmente as genealogias que se sucedem de Shém (Sem) a Abrahâm (Abraão).

A continuação do volume compreende três grande partes: a história de Abrahâm (12,1-25,18); a de Ia’acob (Jacó) (25,19-37,2); a de Iosseph (José) e de seus irmãos (37,3-50,26). Esses diferentes temas estão repartidos em doze seções ou parashiiot, que são proclamadas nas sinagogas, cada semana, às segundas e quintas-feiras e aos sábados, durante os três primeiros meses do ano litúrgico cada outono.

Gênese do universo, gênese da humanidade, gênese de Israel, a obra é composta como uma sinfonia; o autor expõe o tema geral que trata em toda sua amplitude antes de abordar o assunto particular que dele emana e depois temas cada vez mais precisos. Este método de composição, clássico entre os hebreus, é conhecido pelo nome de Klal ou — phrat, “do geral ao particular”. Assim o autor inicia pelo tema mais geral que se possa conceber, a criação do universo; daí ele passa à criação da humanidade, aos inícios de sua queda que precede o primeiro assassinato, o fratricidio cometido por Caín contra Èbèl. Com isso, a sinfonia trata de temas cada vez mais restritos. Depois do dilúvio, a humanidade efetua uma nova partida. Abrahâm, descendente de Noah, é um novo Adâm em torno do qual se articula a história de um povo. A narrativa harmoniza os gêneros com mestria: os diálogos de IHVH e de Abrahâm, o pacto e a promessa, o encontro com Malki-Sèdèq (Melquisedec) em Shalèm-Ie-roushalaíms, o episódio saboroso da anunciação de Is’hac (Isaac), o banimento de Ishma‘él (Ismael), precedem um dos ápices da literatura bíblica, o relato do sacrifício ofertado por Abrahâm (Gn 22). A guerra dos Reis (Gn 14) é um texto muito antigo que certos críticos acreditam ter sido escrito em acadiano ou em cananeu, e posteriormente traduzido para o hebraico; eles o datam do século XX ao século XVI (?). As histórias de Ia’acob e em seguida o final sobre Iosseph terminam o livro, no ritmo 15 de um allegro vivace, pelo tema da reconciliação e da salvação das nações e de Israel, ao qual a promessa de um país é confirmada.

Assim, os 1.534 versículos deste volume resumem supostamente um período cuja duração não tem menos de 2.307 anos.

A tradição judeu-cristã atribui a paternidade deste volume, como de todo o Pentateuco (Torá), a Moshè (Moisés). Entretanto, já desde o século II de nossa era, algumas vozes se elevam contra essa tese. No século XII, Abrahâm ibn ‘Èzra (Espanha) sugere que várias passagens do Pentateuco devem ser amplamente posteriores a Moshè; em particular o versículo 9 do capítulo 31 do Deuteronomio não podería sustentar sua interpretação tradicional. No entanto, é preciso esperar o século XVIII para ter as primeiras obras de “alta crítica” bíblica. Baruch Spinoza e Richard Simon abrem uma linha de pensamento que resulta na tese documentária, adotada pela quase-unanimidade dos exegetas: o Pentateuco não é obra de um só homem, Moshè, e sim uma coleção de escritos elaborados, no correr dos séculos, por numerosos escritores. Os exegetas fundamentam suas certezas em anacronismos, na alternância no texto dos diferentes nomes de Deus, na diversidade do vocabulário, do estilo e até da inspiração da obra. Por exemplo, os Kasdíms (caldeus) (Gn 11,28-31; 15,7) aparecem no sul da Mesopotâmia vários séculos depois da época patriarcal. Os Kena‘aníms (cananeus) e os Périzims (perizitas) (Gn 13,7) habitam o país pelo menos até o tempo de Shelomo (Salomão), contra-riamente ao texto do Gênesis (Gn 13,7). A menção dos Pelishtíms (filisteus) levanta dificuldades do mesmo tipo (Gn 21,32); a de Dân é incompatível com aquilo que se sabe da história dessa tribo; não se pode falar nos reis de Edôm antes do século XI (Gn 36, 31). A evocação de um “rei dos Benéi Israel” (israelitas) parece não ter sido feita antes da época real (Gn 36,31). A argumentação crítica fundamenta em particular a tese documentária na alternância dos nomes de Deus no Pentateuco. No Gênesis, o tetragrama IHVH, lido Adonaí pelos hebreus, volta 155 vezes. Aparece no relato da criação (Gn 2,4); o texto diz que foi proclamado desde a época de Enosh (Enós) (Gn 4,26). Ora, segundo o Êxodo (Ex 3,14; 6,2), este nome sagrado teria sido revelado pela primeira vez a Moshè vários séculos mais tarde.

VIDE: FABRE D’OLIVET : NOTES DE LA TRADUCTION DU SÉPHER