Maximo Centurias Teologia I Personagens Paixão

Máximo o Confessor — Centúrias sobre a Teologia e a Economia da Encarnação do Filho de Deus
Tradução em grande parte feita a partir da versão francesa da Philokalia, mas eventualmente utilizada a versão inglesa.
Primeira Centúria
Personagens da Paixão
71. Pilatos é a figura da lei natural. E a multidão dos Judeus é a figura da lei escrita. Logo, aquele que, pela , não se elevar acima das duas leis, não pode receber a verdade que está acima da natureza e da razão. Mas crucifica de toda maneira o Verbo, seja que, como o Judeu, considera que o Evangelho é um escândalo, seja que, como o Grego, considera que o Evangelho é uma loucura.

72. Quando vês Herodes e Pilatos se tornarem amigos um do outro quando da prisão de Jesus, pense então na conjunção do demônio da prostituição e do demônio da vanglória, os quais se põem de acordo para matar a razão da virtude e do conhecimento. O demônio da vanglória, contrapondo-se ao conhecimento espiritual, remete ao demônio da prostituição. E o demônio da prostituição, simulando por hipocrisia a pureza, remete ao demônio da vanglória. É dito que Herodes, depois de tê-lo coberto de uma vestimenta esplêndida, o remeteu a Pilatos.

73. É bom para a inteligência não consentir à carne e não se apegar às paixões. Pois é dito que não se colhem figos em espinhos, quer dizer a virtude nas paixões; nem uvas em espinheiras, quer dizer na carne o conhecimento que se delicia.

74. O asceta experimentado pela paciência nas tentações, purificado pela educação do corpo, e alcançando à perfeição em se aplicando às contemplações masi elevados, se tornou digno da consolação divina. Pois o Senhor, diz Moisés, veio do SInai, quer dizer das tentações. Nos apareceu de Seir, quer dizer das penas corporais. E resplandeceu da montanha de Paran com as miríades de Kadesh, quer dizer da montanha da , com as miríades dos santos conhecimentos.

75. Herodes tem por razão a preocupação da carne. Pilatos, os sentidos. César, as coisas sensíveis. Os Judeus, os pensamentos psíquicos. Quando portanto, por ignorância, a alma se abandonou às coisas sensíveis, ele abandona o Verbo aos sentidos para o fazer morrer, pois então, por sua confissão, ela faz prevalecer dela mesma o reino das coisas corruptíveis. Com efeito, os Judeus dizem: “Não temos outro reis senão César”.

76. Herodes ocupa o lugar da energia das paixões. Pilatos, o lugar do estado de falsidade por elas. César, o lugar da potência tenebrosa que detém o mundo. Os judeus, o lugar da alma. Logo, quando a alma se deixa ir pelas paixões, ela abandonou a virtude nas mãos do estado de malícia, ela renegou claramente o Reino de Deus e ela se bandeia para a tirania corruptora do diabo.

77. Submeter as paixões não é suficiente para que a alma alcance a alegria espiritual. Ela deve ainda adquirir as virtudes em realizando os mandamentos. Pois é dito: “Não vos contenteis de que os demônios vos estejam submissos, quer dizer as energias das paixões, mas de que vossos nomes estejam inscritos no céu”, transcritos pela graça da adoção através das virtudes, no lugar da impassibilidade.

78. A riqueza das virtudes pela ação é de toda maneira necessária àquele que tem o conhecimento. É dito com efeito: Que aquele que tem uma bolsa — quer dizer o conhecimento espiritual — a tome. Da mesma maneira aquele que tem um saco, quer dizer a abundância das virtudes que, generosamente, nutre a alma. Mas que aquele que não tem, que não tem bolsa e nem saco portanto, de conhecimento e de virtude — venda seu manto e compre uma espada. É dito: Que de todo coração ele submeta sua carne às penas das virtudes e que, pela paz de Deus, ele conduza sabiamente o combate contra as paixões e os demônios. Quer dizer que alcance este estado que, pela palavra de Deus, distingua o pior e o melhor.