LOGIA JESUS – VINDA ENTRE NUVENS (Mc XIII, 26; Mt XXIV, 30)
26) Então verão vir o Filho do homem nas nuvens, com grande poder e glória. (Mc 13:26)
30 Então, o sinal do filho do homem aparecerá no céu,
então, todos os clãs da terra se lamentarão. Eles verão o filho do homem vir sobre as nuvens do céu em poder e grande glória. [Chouraqui]
Roberto Pla: Evangelho de Tomé – Logion 113
Desde uma concepção testamentária, “ver” é o mesmo que “conhecer” ou, melhor ainda, “reconhecer o que é”, posto que em pureza não é o Filho do Homem o que viaja até a consciência mesma, a alma, a qual uma vez lavada apelo batismo de purificação, isto é, uma vez desnuda de seus pressupostos de ordem psíquico, acede ao nascimento “em espírito” e penetra no Lugar Santo, na Morada do Filho do Homem, onde este se revela ao final.
Agora se compreende que tinha razão Jesus quando disse que à geração humana “não se daria nenhum sinal” (da vinda), e certamente, não é necessário tal sinal posto que o Filho do Homem é o sinal de si mesmo. Sua presença é inconfundível e as nuvens nas quais o Filho do Homem vem são mais “visíveis” que o arco que pôs Deus no céu como sinal de unidade, de aliança, entre o homem e Deus, ainda que de fato nunca houvesse dualidade entre ambos.
Quando o Filho do Homem “chega” envolto nas nuvens, se eleva a Nuvem que cada um descobre em si mesmo, “em cima da Morada”, e a Nuvem o guia pelo caminho. De dia — já se sabe — a condição se faz em coluna de Nuvem, e de “noite”, em coluna de fogo. A nuvem, é um filtro da presença, para que os olhos novos do espírito possam contemplar adequado a suas forças o fulgor intenso da luz abrasadora; e o fogo, essa mesma Luz ardente mas sem Nuvem, vem por si a alma entra em um estado de “noite”. Então as chispas do fogo do conhecimento, chovem sobre a alma como nova semente de Deus.
Como explica Mateus, isto significa um duelo para “todas as raças da terra”, quer dizer, para os conteúdos terrenas da alma, porque o conhecimento arrasa tudo o que é da terra e levanta até a Luz o que é do céu. O que se levanta é sempre tudo o que nela creu no Filho do Homem. Mas isso se perguntou Jesus segundo o terceiro evangelhos: “Quando o Filho do Homem venha, encontrará fé sobre a terra?”.
E não há que perguntar quais são os que “verão” ao Filho do Homem. Os “sujeitos” que podem ver (conhecer) ao Filho do Homem somos potencialmente todos os indivíduos da extensa geração humana. Em cada um de nós pôs ele sua Morada, no princípio dos tempos, e todos estamos facultados para nos fazermos filhos de Deus.
O poder com o qual o Filho do Homem vem é o de dar a Vida eterna, que ele possui do Pai e que comunica a quem o “recebe”; e a Glória é o manto de Luz do Pai com o qual o Filho, morador no homem, se reveste. A Glória é a sabedoria de Deus, e as partículas de Luz (do fulgor de Luz que é fogo), são o conhecimento com o qual se redimem os eleitos até que alcancem a bem-aventurança.
Como diz o profeta Isaías:
“Olha como a obscuridade cobre a terra
e espessa nuvem aos povos;
mas sobre ti amanhece o Senhor,
sua glória estende sobre ti” (Is 60,2).