Stethatos Capítulos Gnósticos 21-30

Nicetas Stethatos — CENTÚRIAS — CAPÍTULOS GNÓSTICOS
21. Os raios da Luz primordial que ilumina as almas purificadas com o conhecimento espiritual não só as preenchem com benção e luminosidade; também, por meio da contemplação das essências interiores das coisas criadas, as conduzem aos céus noéticos. Os efeitos da energia divina, entretanto, não param aqui; continuam até através da sabedoria e através do conhecimento das coisas indescritíveis unem as almas purificadas com o Uno, as trazendo fora de um estado de multiplicidade a um estado de unicidade nEle.

22. Devemos primeiro nos purgar da materialidade viciosa disparada em nós pelos demônios — isto é um estágio de purificação; então, através do estágio de iluminação, devemos fazer nossos olhos espirituais lúcidos e sempre cheios de luz, e isto é realizado por meio da sabedoria mística oculta em Deus. Desta maneira ascendemos à cognição do conhecimento sagrado, que através da inteligência confere coisas novas e velhas àqueles que têm ouvidos para ouvir. Então nós por sua vez devemos passar para outras imagens e intimações deste conhecimento, concedendo seu significado oculto ao purificado enquanto o sustentando do profano, não deixando coisas serem dadas para cães, ou a pérola do Logos ser lançada para almas semelhantes a porcos que a pisariam (cf. Mt 7,6).

23. Quando te tornas consciente da crescente ardência em tua interior e amor por Deus, então deveria saber que estás trazendo Cristo para nascer dentro de ti, e que é Ele quem exalta tua alma acima das coisas visíveis e terrestres e prepara uma morada para ela no céu. Quando percebes que teu coração está repleto com alegria, e anseia muito pelas inexpressáveis bençãos de Deus, então deverias realizar que estás ativado pelo Espírito divino. E quando sentes que teu intelecto está pleno de luz inefável e as intelecções da Sabedoria supernal, então deveria reconhecer que o Paracleto está presente em tua alma, abrindo os tesouros do reino do céu oculto dentro de ti; e deveria te guardar como um palácio de Deus e como uma morada do Espírito.

24. Guarda do tesouro oculto do Espírito consiste nesse estado de desprendimento dos negócios humanos que é propriamente denominado quietude. Quando através da pureza do coração e a compunção alegre esta quietude acende um anseio ainda mais forte pelo amor de Deus, libera a alma das amarras dos sentidos e a impele para abarcar a vida da liberdade. Reconduzida a seu estado natural, a alma reorienta seus poderes, os restaurando a sua condição original. Assim é evidente que nenhum mal que nos aflige como um resultado de nosso desvio e esquecimento da imagem divina pode ser imputado a Deus, que só cria o que é bom.

25. É a quietude, cheia de sabedoria e benção, que nos conduz a este estado de perfeição divino e santo — quando, isto, é praticado e perseguido genuinamente. Se um hesicasta aparente não tiver alcançado esta eminência e perfeição, sua quietude ainda não é esta quietude perfeita e noética. De fato, até que tenha alcançado esta eminência, não teria nem mesmo aquietado a turbulência interior das paixões anárquicas. Tudo que terá é um corpo consistindo de tegumentos, ventas e cavidades, e perdido por uma mente iludida e desordenada.

26. As almas que alcançaram a total pureza, e alcançaram as alturas da sabedoria e conhecimento espiritual, se assemelham ao Querubim. Pela virtude de sua cognição não mediada aproximam-se da fonte de toda beleza e bondade, e desta maneira são diretamente e loucamente iniciados na visão das coisas secretas. Entres os poderes espirituais é dito que somente os Querubins são iluminados desta maneira direta pela fonte da divindade ele mesma e assim possuem esta visão no mais alto grau.

27. Entre os mais altos poderes angelicais, alguns são mais ardentes e clarividentes em sua devoção às realidades divinas ao redor das quais incessantemente circulam; outros são mais contemplativos, gnósticos e imbuídos com sabedoria, este sendo o estado divino que os impele incessantemente a circular ao redor destas realidades. Semelhantemente, as almas angelicais são ardentes e clarividentes em sua devoção às realidades divinas, assim como sábias, gnósticas e exaltadas na contemplação mística. Potencialmente e atualmente elas também incessantemente circulam ao redor das coisas divinas, firmemente enraizadas só nelas. Imutavelmente receptivas de iluminações divinas, e assim participando nEle que verdadeiramente é, elas também comunicam incessantemente Sua irradiância e graça a outras através de seu ensinamento.

28. Deus é Intelecto e o agente ativador de tudo. Todos os intelectos têm tanto sua abóboda permanente e sua mobilidade eterna neste Intelecto primário. Tal é a experiência de todos cuja atividade não é adulterada pela materialidade mas é pura e imaculada como um resultado do trabalho ascético sagrado. Experimentam isto quando, ardentes com amor divino, comunicam entre si e para si mesmos a iluminação concedida a eles pela Divindade, generosamente transmitindo a outros a sabedoria dos mistérios de Deus ocultos dentro de si; e desta maneira incessantemente elevam o amor divino que as inspiram.

29. As almas cuja inteligência foi liberada da preocupação material, e nas quais os auto-contenciosos aspectos ardente e apetitivo tiverem sido restaurados à harmonia e atrelados às rédeas de seu carro celestial, ambas revolvem ao redor de Deus e no entanto permanecem fixamente. Elas revolvem incessantemente ao redor de Deus como o centro e a causa do movimento circular. Permanecem firmes e resolutas como pontos fixados na circunferência do círculo, e não podem ser desviadas desta posição fixa pelo mundo dos sentidos e a distração dos affairs humanos. Isto é por conseguinte a consumação perfeita da quietude, e é para isto; essa quietude leva aqueles que verdadeiramente a alcançam, de modo que enquanto movem são estacionários, e enquanto firmes e imóveis movem ao redor das realidades divinas. Enquanto não experimentamos isto só se pode dizer que praticamos a quietude aparente, e nosso intelecto não está livre da materialidade e distração.

30. Quando através da grande diligência e esforço recuperamos a beleza original da inteligência, e através da presença inabalável do Espírito Santo participamos da sabedoria e conhecimento supernais, podemos então perceber coisas como são por natureza e assim podemos reconhecer que a fonte e a causa de todas as coisas é ela mesma sábia e bela. Podemos ver que não podemos acusá-la de qualquer maneira responsável pelo mal que destrói as coisa criadas quando desviam para o que vil. Quando somos assim desviados e puxados para baixo, somos apartados da beleza pristina do Logos e impedimos nossa deificação, enquanto o mal que nos invadiu nos desfigura em sua forma obtusa e insensata.